sexta-feira, 30 de julho de 2021

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Sobre a opinião de Poiares Maduro sobre a linha de alta velocidade Lisboa-Porto

 Estimado colega enviou-me o texto com declarações de Poiares Maduro sobre a linha de alta velocidade Lisboa-Porto 

https://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/poiares-maduro-alerta-para-perigos-da-linha-de-alta-velocidade-entre-lisboa-e-porto 

pedindo-me a opinião.

Ei-la:



Caro Colega

Peço muita desculpa por só agora responder num  tema de mútuo interesse.
Confesso que o prof Poiares Maduro nem sempre me inspira admiração pelo que diz. Terá uma preocupação em ser coerente consigo próprio mas neste caso , como ele próprio reconhece quando diz que não sabe se é a favor ou contra o TGV (melhor dizermos alta velocidade, como os nossos amigos espanhois) naõ terá formação para se pronunciar com muito fundamento. Penso que faz parte da cultura da engenharia tentar sempre encontrar condições para tomar decisões inteligentes, contrariamente à posição de Poiares Maduro. Podemos não ter dinheiro para construir uma infraestrutura importante, mas podemos desenvolver o seu estudo comparando alternativas em termos de análise  de custos e benefícios. Como nós costumávamos dizer no fim das nossas propostas no metro, o nosso parecer técnico é este, as implicações económicas são estas e a superiormente (a administração) decidirá. Aliás esta é a proposta que muitos de nós vimos fazendo há anos   relativamente ao prejudicial código de contratação pública (ponto de convergência com Poiares Maduro, "há falta de inteligencia - eu diria, falta de análise por quem perceba das coisas - nas políticas públicas) que a análise das propostas técnicas seja feita primeiro e só depois a das propostas económicas.
Também ninguém falou em Lisboa-Porto em menos de uma hora. O ministro PNS falou em 1.15 e eu diria que 1.30 seria muito bom. Que não é rentável, claro que não do ponto de vista financeiro estrito, mas independentemente dos estudos de 2007, a alta velocidade em Espanha demonstrou que os custos operacionais podem ser cobertos pelas receitas operacionais. Como prova o interesse de outros operadores em explorar a linha Madrid-Barcelona.
Não parece que 6 milhões de pessoas como população servida pela linha Lx-Porto-Braga seja desprezável, como aliás mostram os numeros de passageiros em 2019 por caminho de ferro e por avião (se a memória não me falha, 9 aviões por dia e sentido em média, o que, em termos de "green deal" no atual contexto de proibição de voos com menos de 600 km, só por si justificava a linha de alta velocidade). Infelizmente chegámos ao ponto de ouvir a senhora ministra da coesão dizer que para Madrid vai-se de avião. Ignoro se acha que para o Porto tambem . Isto é, embora Poiares Maduro, ele próprio ex ministro do desenvolvimento regional,  fale em "magias da economia" para justificar o investimento (julgo que se refere a uma análise de custos benefícios, contabilizando na parte dos benefícios o valor do tempo poupado face ao investimento - isso é até uma norma da UE para análise de investimentos, cito de memória 10 euros por hora poupada, o que multiplicado pelo numero de passageiros anuais dará um proveito que Poiares Maduro classifica como mágico). O outro proveito é o diferencial de eficiencia energética relativamente ao avião e a redução nas emissões de gases com efeito de estufa (parece que a cotação da tonelada de CO2 está atualmente em 50€, esperando-se aumento da taação graças à implementação da diretiva Fit for 55 (redução de 55% até 2030!). Mesmo raciocinio para as ligações rodoviárias - é uma aplicação da Física,  resistencia ao rolamento da roda de borracha em contacto com o asfalto é superior à da roda de aço em contacto com o carril, e para vencer a resistencia ao rolamento é preciso energia que, acima de uma dada dimensão do veículo e para pendentes contidas, é claramente superior, a energia necessária, no caso rodoviário.
Pode dizer-se que prescindir de investimentos com estes benefícios enquanto os outros estados membros da UE os fazem (recordo a grande ligação Estónia-Polónia através da Letónia e Lituania, o Rail Baltica) vai aumentar a divergencia entre Portugal e esses estados membros. 
Convirá tambem esclarecer Poiares Maduro que a atual linha do norte está saturada, tem troços de velocidade limitada muito baixa, é uma vergonha pela falta de segurança e elevada sinistralidade (porque faz serviço local e suburbano sem proteção dos peões) e impede o crescimento do tráfego de mercadorias.
Quanto ao novoriquismo do teletrabalho e dispensa de reuniões, por experiencia própria sei o que é uma reunião de coordenação e sei o que é um  zoom e um webinar. Pode ser que em assuntos jurídicos, que correspondem à formação de Poiares Maduro, os zoom s e os webinars sejam altamente produtivos, em temas técnicos não, lamento,  a natureza dos argumentos técnicos, à base de cálculos e aplicações de leis da Física, dá.se melhor em reuniões presenciais.
Além disso, convem recordar que a mobilidade é um direito que as pessoas têm, mesmo para lazer.

Junto uma série de reflexões, algumas já antigas, sobre este tema, que poderá utilizar como entender.

Grande abraço

F.Santos e Silva












Contributo de um grupo de empresários, técnicos e académicos para o Plano Ferroviário Nacional em julho de 2021

  PLANO FERROVIARIO NACIONAL - contributo 


Para muitos empresários, técnicos e académicos interessados na problemática da ferrovia e na sua contribuição para o progresso da economia portuguesa, causa espanto a política oficial de manutenção da exclusividade da bitola ibérica, política que recusamos. Quando por definição no regulamento europeu 1315/2013 de redes integradas na rede única europeia, a bitola UIC é, juntamente com outros requisitos regulamentares, condição essencial para pertença à rede única. Porque, para o objetivo da rede única ferroviária europeia, todos os requisitos são importantes, em conformidade com um dos princípios básicos da engenharia, amplamente comprovado ao longo da sua evolução tecnológica e industrial, que consiste na normalização. 

A recusa em saber aceitar este princípio e em estudar desde já a implementação de linhas novas em bitola UIC, sabendo-se que o intervalo de tempo entre a decisão de projetar uma linha e a sua colocação em serviço pode ser de 10 anos, constitui para o grupo subscritor deste documento um fator de desilusão relativamente ao governo, o que o torna responsável pelo estrangulamento das exportações portuguesas, pela inviabilização de um serviço competitivo de comboios de mercadorias com acesso à Europa central, por adiar o cumprimento da diretriz ambiental de transferência de carga rodoviária para a ferrovia e, vice versa, por impedir a entrada de comboios europeus de bitola UIC no território nacional, incluindo todos os portos nacionais, porque nenhum operador europeu investirá em material especial, forçosamente mais caro, para servir apenas um mercado pequeno como o nosso, que teima em manter uma bitola única, como uma ilha ferroviária na Europa. 

Não se pretende acabar com a bitola ibérica nas próximas décadas, pretende-se tão só não correr os riscos de isolamento por deficiente e mais caro acesso à rede europeia, aceitando o imperativo comunitário de construção de uma rede de bitola UIC de acesso à Europa e não apenas à Espanha, país de que, apenas com bitola ibérica, passarão a depender as nossas exportações em todos os planos: tempos e prioridades de transbordo e de chegada aos destinos; planeamento de cargas; custos do transporte; interesses concorrenciais da indústria espanhola. Algo que em oito séculos de história nunca aceitámos. Que se assumam também as dificuldades de interligação entre as duas redes, a ibérica e a UIC enquanto coexistirem. 

 Assim, para que não se diga que ignoramos as dificuldades, ou que não conhecemos aquilo que afirmamos, propomos: 

1 - Sugestões e propostas: 

1 – Aprecia-se o esforço e a dedicação a todos os níveis que se vem verificando na recuperação de material circulante e na operação e manutenção das ligações ferroviárias. Sem alterar a política atual de recuperação da ferrovia existente, propõe-se a elaboração não de um mas de dois planos ferroviários, a exemplo do praticado em Espanha (rede convencional e rede AV), a serem executados por entidades hierarquicamente independentes embora de mútuo contacto fácil :  

1.1 - um plano para a manutenção, recuperação e modernização da rede existente que não seja integrada nem na rede básica (rede “core”) TEN-T (“trans european networks – transport”, designada por RTE-T na tradução portuguesa) para 2030 nem na rede complementar (rede “comprehensive”) para 2050, e

1.2 um plano para a construção de linhas interoperáveis no sentido estrito (cumprimento da totalidade dos requisitos de interoperabilidade – 25 kVAC, ERTMS, comprimento comboios 740m, bitola UIC, 25 ton/eixo, 1,25% gradiente, alta velocidade), conforme o plano das redes TEN-T dos regulamentos 1315 e 1316/2013/CE, para integração na rede única europeia (Sines-Lisboa-Caia-Madrid; Lisboa-Porto/Leixões; Aveiro-fronteira portuguesaSalamanca. 

Esta subdivisão corresponde ao reconhecimento de duas redes ferroviárias distintas que coexistirão nas próximas décadas (custo estimado da obra de conversão da bitola ibérica na rede existente em bitola UIC excluindo material circulante e custos adicionais como interrupção de tráfego: 0,6 a 3 M€/km): 

- a rede actual existente de bitola ibérica. 

- a nova rede, integrando o corredor transeuropeu denominado Corredor Atlântico, conforme o traçado existente na Rede Principal (Core) do programa TEN-T de 2013, a construir de raiz, interoperável com toda a restante rede europeia, em bitola UIC, dimensionada para velocidades máximas de 350km/h ou 250 km/h (em função da orografia do troço) e 120 km/h e 25 ton/eixo para mercadorias. 

Segundo o art. 38º do Reg. 1315/2013, a Rede Principal (rede “Core”) que inclui o Corredor Atlântico, deverá estar concluída até 31 dez 2030. 

Nota 1 : Juridicamente, os Regulamentos europeus são de natureza “mandatória”.

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/HTML/?uri=LEGISSUM:l14522&from=PT

Regulamentos da União Europeia - Os regulamentos são atos legislativos definidos no artigo 288.o do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE). Têm caráter geral, são obrigatórios em todos os seus elementos e diretamente aplicáveis em todos os países da União Europeia (UE).

 Nota 2: Tendo já sido anunciada a construção de uma linha nova de alta velocidade Lisboa-Porto, mas com bitola ibérica e travessas polivalentes, sem calendarização para transição para bitola UIC, reitera-se aqui a recomendação para que, de raiz, seja construída a nova linha em bitola UIC, com as necessárias interligações, nomeadamente em estações com ambas as bitolas, com a rede convencional existente, em particular com a centenária linha do Norte de bitola ibérica, que é a coluna vertebral de toda a nossa rede de bitola ibérica, a qual se terá de manter ao serviço nacional ainda por algumas décadas. Esta solução é compatível com as diretrizes dos regulamentos 1315 e 1316, que não são satisfeitas pela bitola ibérica porque não se trata de uma linha isolada da rede Principal (rede “Core”) europeia. As razões do proposto encontram-se muito bem explicadas no artigo do eng. Arménio Matias para articulação com as linhas de bitola UIC AveiroSalamanca e com recurso a comboios bibitola e intercambiadores:

https://adfersit.pt/noticia/620/novas-linhas-ferroviarias-que-bitola

 

2 – A construção das novas linhas da rede Principal (rede “Core”) até 2030 deverá ser objeto de negociações com a DG MOVE da Comissão Europeia e os governos espanhol e francês para a necessária coordenação no tempo segundo os objetivos definidos nos Regulamentos, 1315 e 1316/2013, os quais não coincidem com as ações em curso, como ligação Évora-Caia. 

 3 - As ligações ferroviárias às capitais de distrito em Portugal, a introduzir na rede complementar (rede “comprehensive”) a terminar até 2050, através de negociações com a DG MOVE, deverão ser sujeitas aos competentes estudos prévios de ACB – Análise Custo Benefício, para se demonstrar a sua competitividade relativamente à Rodovia a nível local e nacional, no pressuposto que um plano ferroviário não é um mapa de ligações, é um instrumento de coesão do território com as suas zonas de atração de população e de movimentos. 

4 - Para viabilizar a transferência de tráfego rodoviário para a ferrovia a nível internacional (europeu), conforme o regulamento 1316, é indispensável iniciar desde já um processo de preparação das empresas de camionagem, que levam as exportações portuguesas para a Europa além Pirineus, e as operadoras ferroviárias de mercadorias, para se equiparem com tratores e semirreboques e caixas móveis de transporte frigorífico por um lado, e vagões para transporte de camiões ou semirreboques pelo outro. Isso permitirá evitar os congestionamentos nas autoestradas para a Europa, e trará economia de combustível e menos emissões. O trator levará numa primeira etapa o semirreboque até ao comboio e este lavá-lo-á até uma estação de destino donde outro motorista e outro trator levarão o semirreboque para o destino final, completando com maior economia e rapidez o sistema “porta a porta”. 

 NOTA : - Não seria despiciendo que se convidassem as grandes transportadoras rodoviárias nacionais, a formarem uma Associação Empresarial que incluísse nos seus objetivos a exploração da Logística do Transporte Ferroviário a nível europeu, preparando-se assim para melhor resistirem à concorrência futura dos seus congéneres europeus. 

5 – Afetar meios a uma estrutura pública independente, ou ao CSOP, se necessário, dada a complexidade da matéria, com recurso a consultores externos mediante concurso público internacional, para a tarefa de planeamento estratégico e de controle do estrito cumprimento dos regulamentos 1315 e 1316/2013, com apoio efetivo da sociedade civil, nomeadamente a Ordem dos Engenheiros, universidades, técnicos interessados, associações empresariais e profissionais, imprensa especializada, com reuniões periódicas de ponto da situação, abertas e participativas. Sugere-se como objetivo a elaboração dos 2 planos ferroviários (convencional e TEN-T Alta velocidade e mercadorias). A atribuição de funções de controle à referida estrutura pública independente ou ao CSOP implicará transferência dessas competências até agora cometidas por delegação à IP e agrupamentos europeus de interesse económico AVEP (Alta velocidade Espanha Portugal) e RFC4/Atlantic corridor (mercadorias). 

6 – Considerando a diretriz comunitária que não financia a construção de aeroportos mas impõe o serviço dos sistemas aeroportuários pelo modo ferroviário de forma integrada, deverá estudar-se a integração do projeto de qualquer expansão do sistema aeroportuário 4 nos projetos das novas linhas de alta velocidade e de mercadorias em bitola UIC, da terceira travessia do Tejo, do serviço urbano/suburbano entre as margens sul e norte de Lisboa (ver lista de hipóteses de atravessamento do Tejo, sugerindo-se a comparação entre elas em termos de análise de custos-benefícios com estudos prévios que permitam estimar com segurança os custos de construção, em https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/03/novas-travessias-do-tejo-tracado-de.html

Idêntica preocupação deverá existir em relação à expansão do aeroporto de Pedras Rubras, sugerindo-se a reserva dos terrenos para eventual construção de segunda pista em Berrossos. O estudo da integração das expansões da rede ferroviária e do sistema aeroportuário deverá ser compatível com o referido no ponto 5. 

7 – Numa perspetiva mais operacional, propõe-se a consideração do contributo do eng. Luis Cabral da Silva, em: 

https://sites.google.com/view/planoferroviario/home 


2 – Análise do contexto atual 

Louva-se o trabalho desenvolvido para recuperação de material circulante anteriormente posto de lado. Apesar dos atrasos verificados no programa Ferrovia 2020 e de inconformidades como a exploração da linha do Minho sem sinalização automática, concorda-se com a maioria do programa, exceto no que se sobrepõe ao plano das redes TEN_T para Portugal, do corredor Atlântico dos regulamentos 1315 e 1316/2013/CE, não se concordando com a construção do troço Évora-Caia em via única e bitola ibérica (apesar das travessas polivalentes, uma vez que é mais económico fazer uma obra do princípio ao fim do que dividi-la em duas fases , considerando os custos de estaleiro e a evolução dos preços) e para velocidade de projeto inferior ao anteriormente acordado com Espanha, dado que não se traduz em qualquer poupança relevante. 

 Para levantar esta contradição propôs-se a subdivisão do PFN em dois planos, a executar seguidamente por entidades hierarquicamente independentes, a exemplo do que se faz em Espanha (ADIF para a rede convencional e ADIF Alta Velocidade para as novas linhas em bitola UIC). 

 Cingindo-nos ao contexto atual, a análise do balanço da presidência portuguesa no domínio ferroviário parece-nos uma oportunidade perdida de reivindicação coletiva de medidas efetivas de promoção da rede Principal (rede “Core”) ferroviária europeia, de bitola UIC, com o cumprimento dos regulamentos 1315 e 1316/2013, que no ano internacional da ferrovia deveria ter sido de reprovação da inércia partilhada com Espanha e França e a própria Comissão Europeia, ao invés de que foi, uma série de declarações de intenções e de autossatisfação pelos trabalhos em curso e pelas decisões tomadas. A iniciativa do comboio Europe Express, assinalando a transição da presidência de Portugal para a Eslovénia, em setembro de 2021, num percurso por toda a Europa vai mostrar as limitações da rede ferroviária e do planeamento das suas correções, começando pela mudança de bitola em Irun. 

2.1 - Nestas circunstâncias, a defesa de um programa para a construção de linhas novas em bitola UIC de ligação e integração com a Europa (Sines/Lisboa-Badajoz; Aveiro-Vila Franca das Naves-Salamanca; Sines/Lisboa-Porto/Leixões) radica principalmente nos seguintes pontos: 

2.1.1 - substituição das viagens aéreas de passageiros entre Lisboa/Porto - Madrid, e entre Lisboa - Porto, considerando o maior consumo energético por passageiro-km e poluente do modo aéreo, mesmo considerando os biocombustíveis e combustíveis sintéticos. 

2.1.2 - transferência de carga exportada do modo rodoviário para o ferroviário e marítimo, que segundo o Regulamento 1316 / 2013 terá de ser, para distâncias de transporte de cargas superiores a 300 Km, de 30 % até 2030 e de 50% até 2050. 

A experiência em Portugal, do transporte ferroviário internacional para a Europa Além-Pirenéus, face à diferença das bitolas ibérica / europeia na Orla Atlântica, tem sido ineficiente, como o mostrou a experiência da operadora alemã DB Schenker – Portugal em 2012, relatada neste trabalho: https://pt.linkedin.com/pulse/transporte-ferrovi%C3%A1rio-de-mercadorias-al%C3%A9m-piren%C3%A9us-e-sena-e-silva 

É ainda de muito interesse a leitura deste documento informativo de 2011 da União Europeia https://ec.europa.eu/transport/sites/default/files/themes/strategies/doc/2011_white_pap er/sec-2011-391-unofficial-translation_pt.pdf 

Tradução não oficial: documento divulgado exclusivamente para fins informativos. Documento de trabalho dos serviços da Comissão Europeia. Roteiro do espaço único europeu dos transportes – Rumo a um sistema de transportes competitivo e económico em recursos. 

Considerando ainda o congestionamento rodoviário e a sua poluição, e também a poluição e tempo maior de viagem do marítimo, mesmo considerando o GNL (do ponto de vista energético poderá discutir-se a eficiência da propulsão por hidrogénio produzido a partir de renováveis, mas não se prevê a disponibilização da tecnologia no marítimo; no rodoviário considerar que por razões de resistência ao rolamento, a eficiência do camião será inferior à do comboio que cumpra os parâmetros da interoperabilidade). É urgente, e importante do ponto de vista social, preparar as empresas de camionagem para o recurso ao transporte de semirreboques em vagões já utilizado nas ligações Espanha-Inglaterra. 

2.2 - Resumo dos argumentos oficiais: 

Os argumentos sistematicamente utilizados pelo XXII governo, IP, AVEP (Alta velocidade Espanha Portugal) e RFC4/Atlantic corridor (estes dois últimos são encarregados pelo governo para o representar nos organismos de coordenação da CE/DG MOVE), não têm sido debatidos publicamente em igualdade de condições. Isto é, os pedidos de audiência ao MIH têm sido recusados e nos webinars que se realizam, apesar de serem apresentados por vezes argumentos contrários aos oficiais, não tem havido tempo para os discutir, isto é, tem faltado uma das condições básicas do método científico, a discussão e escrutínio pelos pares: 

2.2.1 - só interessa a Portugal instalar a bitola UIC quando Espanha a trouxer até à fronteira, mudando-se então os carris nas travessas polivalentes instaladas nos troços dos corredores TEN-T que entretanto tenham sido construídos – trata-se de uma estratégia de curto prazo que resolve parcialmente e permite esconder problemas imediatos de angariação de financiamentos 6 europeus mas sem capacidade para, a médio prazo, suportar a transferência de carga da rodovia para a ferrovia, em particular construindo-se o troço Évora-Caia em bitola ibérica e em via única, que serve principalmente um nosso operador privado, e se renovar a linha da Beira Alta também em via única e com elevadas pendentes. Acresce que, contrariamente ao oficialmente divulgado, não é uma tarefa fácil mudar os carris da posição ibérica para a UIC; o ritmo da mudança é de 1km por dia por equipa autónoma, tornando todo o resto da linha pouco operacional ou obrigando a dividir o percurso em troços de obra onde terá de se fazer o transbordo de cargas ou de passageiros. Esta situação em Portugal é bem diferente da situação em Espanha, em que a nova linha de Alta velocidade Madrid-Badajoz em bitola UIC, corre em paralelo com a linha convencional existente em bitola ibérica. 

2.2.2 - a tecnologia de eixos variáveis para passageiros e para mercadorias é compatível com a existência exclusiva de bitola ibérica em Portugal – é verdade, tem havido progressos nesta tecnologia, mas o argumento é válido, em tese, para o oposto, isto é, uma linha em bitola UIC em Portugal (por exemplo, Poceirão-Caia cumprindo os parâmetros da interoperabilidade, o que não se verifica no troço Évora-Caia, em via única e bitola ibérica), em série com uma linha em bitola ibérica em Espanha. A tecnologia eixos variáveis é muito útil para utilização dentro da península ibérica para permitir a ligação entre a rede convencional e a rede nova UIC. Inconvenientes: nenhum operador concorrente europeu além-Pirenéus se equipará com este fabrico específico face à limitação do nosso mercado, limitando a concorrência; os vagões são mais caros, com menor carga útil e exigindo medidas contra emergências à distância, ou seja, locais de manutenção ao longo dos percursos fora da península ibérica, provavelmente com custos incompatíveis com um serviço competitivo. Os fretes ficam em situação de monopólio, com consequente aumento de custos e consequente redução da competitividade das nossas empresas produtoras de bens transacionáveis, agravada pela nossa situação periférica em relação ao centro da Europa. 

2.2.3 - a ligação ferroviária China-Madrid/Lisboa passa por 4 bitolas diferentes – não corresponde à verdade, são utilizadas 3 bitolas diferentes: 1435mm (a UIC), 1524mm (a russa) e 1668mm (a ibérica) com 3 transbordos ou roturas de carga; 4 é o número de troços antes ou depois da mudança de bitola (China-Kasaquistão 1435mm + Kasaquistão-Polónia 1524mm + Polónia-Espanha 1435mm + Espanha-Portugal 1668mm). Admitindo 5 horas para o tempo de transbordo de 50 vagões e 16 dias para o percurso China-Portugal, será cerca de 3% o peso da rotura de carga, o que compara com um percurso de 2 dias para a Alemanha, ou um peso no tempo de 10%. Além disso a importância relativa deste fator face à concorrência é completamente diferente: no caso da ligação Portugal-EU a competição é usar a rodovia nos percursos em Portugal até ao transbordo nas plataformas logísticas espanholas para comboios de bitola europeia e no caso da ligação à China é a via marítima, muito mais lenta. 

2.2.4 – Dizer que a Espanha nada faz no campo das mercadorias não é verdade - Desde 2011 que a orientação oficial para as novas linhas em bitola UIC e Alta Velocidade é serem projetadas para Tráfego Misto, como já o é há anos a sua ligação Além Pirinéus pela Orla Mediterrânica (túnel de Perthus), que se agora tem apenas 14 comboios diários é porque o corredor mediterrânico ainda não está concluído. Igualmente o “Y Basco” antes de 2030 irá fazer a sua ligação pela Orla Atlântica com os países Além-Pirenéus (ligação da plataforma de Vitoria em bitola UIC à rede francesa prevista para 2026), permitindo que a vizinha Espanha se torne totalmente interoperável ferroviariamente com toda a restante Europa , após extensão da bitola europeia aos seus principais portos e plataformas logísticas. 

Como Portugal abandonou unilateralmente o seu compromisso com Espanha para a sua ligação Badajoz/Caia - Sines/Lisboa, que constava do projecto ELOS para o corredor internacional Sul adjudicado em 2009 (cujo incumprimento motivou a condenação do Estado português ao pagamento de 150 milhões de euros de indemnização mais 50 milhões de juros) e que corresponde no Corredor Atlântico transeuropeu ao ramo português da sua ligação a Madrid, é natural que os espanhóis se preocupem agora mais em construir o seu “porto seco” na Plataforma Logística de Badajoz, para aí se transferirem as mercadorias dos nossos comboios em bitola ibérica, ou mesmo diretamente dos nossos camiões com carga para os países Além Pirenéus, para os seus comboios de bitola UIC . 

Assim se compreende que não exista uma coordenação com Portugal (com grandes culpas por omissão do governo português nas cimeiras ibéricas). 

A construção dos troços Évora-Évora Norte e Évora Norte-Caia, em via única de bitola ibérica com travessas polivalentes para velocidade 250 km/h é um exemplo de desrespeito dos regulamentos 1315 e 1316 ao não cumprir as suas especificações, ver adiante ponto 3.2 . Embora a construção seja em plataforma para via dupla e com as bases dos pilares, dos futuros viadutos paralelos, construídas em espera de uma segunda fase que não está calendarizada, levantam-se sérias reservas quanto à possibilidade de economia, apesar de haver financiamento comunitário de 80% , recordando que os 167 km Poceirão-Caia em via dupla, bitola UIC, para velocidade de 350 km/h foi negociado por 1200 milhões de euros (sensivelmente o mesmo preço por km da obra atual)e sabendo-se que voltar a uma obra tem sempre custos elevados, incluindo os custos de interrupção de tráfego (o que não se põe em Espanha onde a linha nova segue de perto o traçado da linha pré existente). 

Não é pois curial continuar a afirmar-se, como membros do XXII governo já o fizeram, que a ligação Lisboa-Madrid seria uma imposição espanhola e que a prioridade portuguesa é Lisboa-Porto-Vigo, ao arrepio dos regulamentos 1315 e 1316. 

 O corredor atlântico foi concebido para assegurar o transporte de carga em bitola UIC dos portos e plataformas logísticas portugueses à Europa central e defronta-se efetivamente com muito trabalho para fazer ao longo do seu percurso; a ligação Madrid-Badajoz de Alta velocidade tem troços exclusivos para passageiros, tal como Valladolid-Vitoria. Do lado francês há grande relutância, devido ao regionalismo da zona de Toulouse, na duplicação da linha Bordeus-Dax-Hendaye. Mas tudo isso contradiz o regulamento 1315. Aqui sim, há lugar a que ambos os países protestem vigorosamente junto da Comissão Europeia, contra este afunilamento do Corredor Atlântico, no território francês. 

Claramente o governo espanhol está comprometido com as ligações de alta velocidade passageiros em bitola UIC, mesmo recorrendo temporária e pontualmente às soluções de eixos variáveis ou de vias de 3 carris, para a Galiza, Asturias e País Basco, e, no campo das mercadorias, estima-se 2026 para as ligações em UIC à rede francesa da plataforma de Vitoria e dos portos do corredor mediterrânico, por Barcelona e túnel de Perthus. O orçamento de Estado espanhol prevê para 2021 para investimento em linhas de AV de 3000 milhões de euros, na rede convencional 1800 milhões e em manutenção 0,9 milhões. Embora não com o ritmo desejado, o corredor mediterrânico avançou no primeiro semestre de 2021 conforme descrito em 

https://elcorredormediterraneo.com/obras-corredor-mediterraneo-junio-2021/ 

A implementação do corredor mediterrânico, prevista pelo regulamento 1315 para 2030, em detrimento do corredor atlântico com as suas limitações inerentes às vias de bitola ibérica de traçado antigo, será um fator que afetará a competitividade dos portos nacionais. A própria IP  tem um estudo que estima uma redução de custos de 7% graças à utilização da bitola UIC para percursos entre o porto de Leixões e Paris. Por seu lado, a operadora privada Medway estima incomportável o transbordo em Irun se o tráfego diário atingir dois comboios, juntando-se à Takargo na enumeração das limitações da rede existente (nesta perspetiva, a beneficiação da linha da Beira Alta e o novo troço Évora-Caia, ambos em via simples, constituem um paliativo; por analogia, as autoestradas constroem-se com traçados distintos das estradas pré-existentes). 

2.2.5 - recentemente tem sido, pelos defensores da política oficial, posta a tónica nas dificuldades de gestão e interligação numa rede dual, de bitola ibérica e de bitola UIC. Estranha-se esta posição, com as soluções possíveis, exemplificadas para cada tipo de circunstância na progressão do corredor mediterrânico, com recurso a via de 3 carris e no túnel de Pajares para as Asturias, com uma via em bitola UIC e outra em bitola ibérica. 

 Tal como em Espanha, a existência de rede dual implica adaptação dos processos de aquisição de material circulante, ou repartir o novo material pelas duas bitolas, ou encomendar eixos variáveis, ou especificar no caderno de encargos que o material será fornecido com bogies para uma bitola mas com a possibilidade de futura substituição por bogies ou rodados de outra bitola. 

O custo das ligações entre as duas redes, cujo funcionamento em simultâneo será longo mas temporário, poderá ser compensado com o aumento da competitividade graças ao aumento das exportações e da utilização dos portos portugueses pelas indústrias exportadoras da Extremadura e da região de Salamanca e ao aumento das ligações marítimas em Sines aos destinos mais afastados do Atlântico, por via do aumento do seu hinterland. 

2.2.6 - para além da progressão em Espanha do corredor mediterrânico em bitola UIC, a que não é alheio o esforço da associação de empresários valencianos, destaca-se na Europa de leste o desenvolvimento do projeto do Rail Baltica 

https://www.railbaltica.org/about-rail-baltica/tehnical-parametrs/ o que para Portugal tem muito interesse, uma vez que a rede ferroviária dos países bálticos tem a bitola russa de 1524mm e a nova linha, em construção de raiz para ligação à Polónia, será de bitola UIC de 1435mm . O comprimento da nova linha de Talin à fronteira polaca é de 870km, a velocidade de projeto 249km/h (120 km/h para mercadorias) e o comprimento máximo dos comboios de mercadorias de 1050 m (o que é um fator, só por si, indutor de maior eficiência em percursos de gradientes inferiores a 1,25%). 

2.2.7 - a política do governo português está em sintonia com o programa de ação da Comissão Europeia - por cortesia, o coordenador do corredor atlântico, Carlo Secchi, não contradiz o representante de Portugal na DG MOVE e nos AVEP e RFC4/Atlantic corridor, mas nos seus relatórios (“workplan”)vem o óbvio, a diferença de bitolas na península ibérica é uma barreira a abater, aliás a frase mais importante de Carlo Borghini, diretor do Shift2Rail, no congresso em 2fev2021 do ano internacional da ferrovia em Lisboa. Uma troca de correspondência com Isabelle Maes, assessora de Carlo Secchi na DG MOVE veio confirmar o apoio da DG MOVE à política de exclusividade da bitola ibérica do XXII governo ao desvalorizar a ausência de calendarização das interligações do corredor Atlântico conforme todos os parâmetros de interoperabilidade. Por violar as diretrizes dos regulamentos 1315 e 1316, considera-se que, a manter-se esta situação, será assunto para a Provedoria europeia (sem esquecer as repetidas críticas do ECA, tribunal de contas europeu à condução da política ferroviária comunitária) por comportamento de um órgão da CE que prejudica a economia de um país pelos constrangimentos impostos à competitividade das suas exportações. 


3 – Justificação das propostas 

Pelo menos três áreas são cruciais para fundamentar as críticas à exclusividade da bitola ibérica nas ligações internacionais e a ausência de plano para as concretizar conforme as definições de interoperabilidade na rede única europeia (não confundir com a interoperabilidade em situações particulares de redes isoladas nacionais, situação prevista na legislação comunitária mas não aplicável quando se pretende a integração na rede principal ou rede “Core”). 

3.1 - Regulamentos 1315 e 1316/2013 - observância de critérios fundamentais de engenharia e jurídicos como a normalização para fins de eficiência e de interesse público, o que é expresso pelos regulamentos 1315 e 1316, que são de natureza vinculativa (mandatória) e definem todos os parâmetros de interoperabilidade exigidos para integração na rede única ferroviária europeia. Sendo os regulamentos vinculativos, terá cabimento, conforme referido, a reclamação junto da CE, eventualmente a sua ombudswoman, contra o seu incumprimento ou tentativas de rever o regulamento no sentido da política oficial portuguesa até agora de exclusividade da bitola ibérica. 

3.2 - Condição para exportações - a existência de ligações ferroviárias à Europa além Pirenéus eficientes em termos energéticos (o rendimento em termos de energia primária por toneladakm da tração elétrica ferroviária tecnologicamente atualizada é superior ao rendimento da tração na rodovia com combustíveis fósseis ou baterias) e de custos de operação como condição essencial para o aumento das exportações de bens. Em 2020, apesar da pandemia, o total de importações e exportações para a EU atingiu 89.514 milhões de euros, distribuídos em percentagem pelos seguintes modos, conforme o INE: rodoviário 78,8%, marítimo 9% , ferroviário 0,9% . Isto mostra que a atual rede ferroviária em via única para exportação não tem capacidade para suportar a transferência de carga rodoviária imposta pelo regulamento 1316. Convém também desmontar a ideia de que a Espanha é o principal destino das exportações. Isso é verdade considerando o peso dos produtos mas não considerando o seu valor, o que aliás mostra o pouco valor acrescentado das exportações para Espanha quando comparado com as exportações para a Europa além Pirinéus. 

De janeiro a abril de 2021, inclusive, o valor das exportações por todos os modos para o conjunto Alemanha, França e Bélgica foi de 5647 milhões de euro, contra 5402 para Espanha, confirmando a tendência de 2020. 

 Ainda segundo o INE, em 2020 as exportações para o conjunto Alemanha, França e Bélgica foram 12.116 M€ , sendo 11.639 M€ por modo rodoviário, 512 M€ por modo ferroviário e 1863 M€ por modo marítimo; para Espanha os valores foram 11.852 M€ por modo rodoviário, 47 M€ por modo ferroviário e 734 M€ por modo marítimo : 

 https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0008596& contexto=bd&selTab=tab2 

Distribuição da origem das exportações por todos os modos em 2020 em M€: 

Norte                 intra EU 15.300 ; extra EU 5300
Centro               intra EU    8000 ; extra EU 2400
AML+Sul         intra EU  13.300 ; extra EU 6400

Informação sobre as fontes dos números: 

 https://onedrive.live.com/edit.aspx?resid=1EBC954ED8AE7F5F!7972&ithint=file%2cxlsx&auth key=!ACeQoMgXYcfK1m8 

Estes números (destaca-se a quota perto de 80% do transporte rodoviário para a EU) mostram o interesse em, a médio prazo, preferentemente 2030 como consta dos regulamentos 1315 e 1316, ter o corredor Atlântico nas componentes norte e sul construído para tráfego misto, com via dupla, bitola UIC e restantes parâmetros da interoperabilidade, em série com as suas ligações em Espanha para a Europa além Pirinéus. Caso contrário incumprir-se-ão as diretivas da transferência da carga rodoviária e do Green Deal. A visão do PFN a 30 anos com exclusividade da bitola ibérica pelo XXII governo, em investimentos que exigem prazos de execução após decisão superiores a 10 anos, remete de facto para um muito longo prazo a integração plena de Portugal na rede única europeia. 

 Um exemplo do que se considera um bom trabalho dos executantes a par de, a nível decisório, uma deficiente estratégia para o médio prazo é o da ligação Évora-Caia: no webinar de 15jul2021 de divulgação pelo governo e a IP do corredor internacional sul foi apresentada como razão de apenas se construir uma via a estimativa que uma das valências da obra seria o aumento do volume de mercadorias exportadas para a Europa dos atuais 10 milhões para 13 milhões de toneladas, quando, segundo as estatísticas do INE, em 2020 o seu valor foi de 15,7 milhões, o que, juntamente com o facto da linha dever ser usada para a ligação a Madrid por passageiros, parece condenar a decisão de via única. 

Igualmente foi afirmado no webinar que Espanha também construiu via única em plataforma dupla (e travessas polivalentes). É verdade, mas apenas no troço Caceres-Badajoz, porque no troço Plasencia-Caceres construiu de raiz em via dupla. Isto indicia tratamento diferenciado entre a massa crítica de Caceres e a sua ausência em Badajoz-Extremadura, condenada a contentar-se, em termos ferroviários, com a modernização da rede ibérica de Puertollano, e por arrasto, a economia portuguesa. Isto não é o corredor atlântico que está nos regulamentos 1315 e 1316 e não é admissível, nem a cobertura dada no próprio webinar por Carlo Secchi, coordenador do corredor atlântico, que nomeou expressamente as suas duas assessoras. Trata-se de uma estratégia que, em nome da economia nacional, deve ser mudada. 

 3.3 - Eficiência energética – A existência nas linhas existentes de troços com pendentes superiores a 1,25% reduz o rendimento energético do transporte de mercadorias, impondo comboios curtos ou segunda tração. 

Segundo cálculos que já deveriam ter sido contestados ou confirmados por escrutínio de pares, uma vez que foram publicados em 2018, a energia na linha necessária para o transporte de 1400 toneladas de mercadorias por um comboio num percurso com as caraterísticas de traçado conforme as especificações do regulamento 1315 (gradiente inferior a 1,25%) será da ordem de 32 Wh/ton-km, o que compara com 52 Wh/ton-km para uma linha convencional existente, estimando-se uma economia operacional da ordem de 25% na transição da linha existente para a nova linha: https://manifestoferrovia.blogspot.com/2021/04/sessao-de-19abr2021-no-lnec-sobre-o.html 

Isto mostra bem a importância da nova linha Sines-Grândola Norte, aliás prevista no PRR mas com bitola ibérica, quando comparada com a beneficiação da ligação Sines-Ermidas, com os gradientes da serra de S.Bartolomeu. 

A própria IP desenvolveu estudos de estimativas da economia por adoção dos parâmetros da interoperabilidade. Evidentemente que para Espanha não se põe a questão da bitola, mas como 11 visto a propósito das exportações, interessa analisar o que se passa em percursos como Leixões-Paris: https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbwevEQfwy9-CwmTgxNR?e=lCiHNI 

 A conclusão do estudo da IP é que no percurso Leixões-Paris os comboios de 740 m permitiriam uma redução de custos de 10%, a bitola UIC 7%, a alimentação de 25 kVAC 2% e o sistema de controle de movimento ERTMS 2% . Estes números confirmam a importância que tem para a competitividade e consequente crescimento das nossas exportações, o rigoroso cumprimento das especificações da interoperabilidade. 


Informação adicional: 

Comentários à sessão de lançamento do PFN em 19abr2021: http://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/04/sessao-de-19abr2021-no-lnec-sobre-o.html 

Repositório de argumentos justificativos das redes TEN-T em Portugal: https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbweviVamDcu4_uspt3j?e=VD33mQ 

Sugestões enviadas à senhora presidente do CSOP em agosto de 2020: https://manifestoferrovia.blogspot.com/2020/09/sugestoes-para-o-2030pt.html 


Subscrevem 

Arménio Matias, eng.eletrotécnico, ex administrador da CP e da RAVE 

Eugénio Sequeira, eng.agrónomo, investigador-coordenador, ex presidente da Liga de Proteção da Natureza 

Fernando Santos e Silva, eng.eletrotécnico, ex técnico do ML 

Fernando Teixeira Mendes, eng.eletrotécnico, empresário, ex administrador da SOREFAME 

Henrique Neto, empresário 

Luis Cabral da Silva, eng.eletrotécnico, ex técnico da REFER 

Luis Mira Amaral, engenheiro e economista 

Mario Lopes, eng.civil, professor do IST 

Mario Ribeiro, eng.mecânico, ex chefe de Gab. de Eng. de Motores da TAP 

Rui Rodrigues, consultor de transportes

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Reflexões sobre mobilidade urbana - mensagem enviada aos deputados municipais como contributo para o próximo período eleitoral

 

 

Caro candidato(a)

 

 

Resumo: Deixa-se à consideração dos candidatos e candidatas às autárquicas da área metropolitana de Lisboa, algumas reflexões sobre mobilidade, incluindo os modos suaves, e a sua relação com o urbanismo. Analisa-se a questão da sinistralidade e como reduzir a quota do transporte individual, incluindo recurso a modos autónomos “a pedido”. Finalmente, propõe-se que, no caso da linha circular do metro, ao menos se prescinda do 3º lote (viadutos de Campo Grande e se transforme a linha em laço, a exemplo de Londres. Sugere-se também o aumento para 100m da distância da obra ao edificado a monitorizar durante as obras na colina da Estrela.

 

 

 

Mobilidade urbana - Vivemos um tempo em que se discute animadamente em webinars a mobilidade urbana. Sem dúvida que essa discussão tem impacto na perceção dos cidadãos e cidadãs no momento em que decidem as suas escolhas nas eleições.

Quando se fala em mobilidade, fala-se também nos modos suaves, na partilha dos modos, na sua conetividade, na sua eletrificação, na sua partilha, na segurança, eficiência e rapidez, e ainda na associação íntima com o urbanismo e a organização do território. Matérias para preencher horas e horas de webinars e, admita-se, programas e programas eleitorais para as autárquicas.

Seja perdoada a um velho técnico de transportes, reformado do metropolitano, a pretensão de que desde há muitos anos eram essas as preocupações de quem trabalhava no setor. Só que a tecnologia ainda não tinha disponibilizado as baterias de lítio, nem as altas velocidades e capacidades de transmissão e processamento de dados.

Dir-se-ía que com os meios agora disponíveis seria fácil erguer soluções que concitassem o aplauso de todos.

Infelizmente não parece ser assim, e as belas palavras que se ouvem nos webinars, será deficiente entendimento meu, mas aparentam não conseguir ultrapassar essa condição, de serem apenas belas palavras.

Vemos e ouvimos na comunicação social autarcas e vereadores da mobilidade apresentando soluções estudadas na intimidade dos gabinetes das câmaras como factos consumados, sem um debate prévio com os munícipes, e insistindo que são as melhores soluções.

É assim com o avanço das ciclovias, insensível aos casos pontuais de agravamento do congestionamento do tráfego automóvel, ou de risco para a segurança dos peões ou dos próprios ciclistas, rejeitando quaisquer críticas, em defesa do ideal dos modos suaves. Não é possível garantir a segurança de peões que têm de atravessar uma ciclovia de 2 sentidos seguida de faixas de rodagem de dois sentidos, ou a segurança dos ciclistas em ciclovias de dois sentidos paralelas a faixas de rodagem automóvel de dois sentidos e atravessadas por faixas de rodagem também de dois sentidos, com a agravante de nos cruzamentos existirem arbustos que reduzem a visibilidade.

Sinistralidade - Para reduzir a sinistralidade será indispensável a publicação rigorosa da estatística de acidentes, com a discriminação do tipo de veículo de duas rodas, com a investigação das causas do acidente e com  indicação expressa do total de deslocações de bicicleta em km (ou pessoas-km, ou passageiros-km,  para obter o indicador normalizado número de fatalidades por milhar de milhão de passageiros-km para comparação com os outros modos de transporte). Como isso não é feito, estamos a querer impor a generalização das ciclovias à custa do sacrifício de alguns ciclistas, que com a divulgação das estatísticas e dos relatórios dos acidentes ficariam mais informados sobre os riscos reais.

Para além da divulgação de estatísticas consistentes, é indispensável, para redução da sinistralidade, uma campanha publicitária envolvendo todos os meios de comunicação social promovendo o cumprimento rigoroso do Código da Estrada, nomeadamente o cumprimento dos limites de velocidade nas artérias de partilha de modos diferentes, de respeito pelos semáforos, sinais de sentido único, passadeiras de peões e passeios, e uso de capacete de segurança.  Não será curial proibir a publicidade de automóveis de grande potência em excesso de velocidade nem anúncios oficiais dizendo que a bicicleta é o meio mais seguro para uma criança ir para a escola, mas é justo que seja dada informação pública com o mesmo grau de impacto sobre os riscos dessa publicidade.

Uma autarquia que não cumpra estas duas condições, divulgação das estatísticas e promoção do Código da Estrada será, salvo melhor opinião, cúmplice das consequências.

As autarquias e a mobilidade - O grave problema do congestionamento e excesso de uso automóvel está relacionado com a deficiente cobertura da área metropolitana de Lisboa pelos transportes coletivos, nomeadamente o ferroviário pesado nos eixos origem-destino de maior procura. Nas cidades a falta de condições para o estacionamento contribui fortemente para o congestionamento e para limitar as ciclovias. É urgente um plano de construção de parques subterrâneos e de auto-silos. Igualmente deveria adotar-se o critério básico de que numa artéria só deverá haver um sentido de circulação, de modo a reduzir as interferências por mudança de direção.

Este não é um problema exclusivo de Lisboa. Qualquer autarquia da AML deve ponderar seriamente a questão da mobilidade em termos de estratégia de organização do território e de atualização do PROTAML, com uma visão integradora. Infelizmente não é isso que se verifica, assistindo-se a protocolos entre câmaras e a imposição de traçados  e de modos de transporte (LRT, BRT) sem debate público, sem harmonização com planos de urbanismo ou de instalação de unidades produtivas, e com deficientes propostas de articulação entre os modos de transporte. Lamentavelmente, o fator primordial é o da rentabilização imobiliária, privilegiando-se a ocupação dos solos sem reservar antes espaço canal para o transporte coletivo. Exemplo gravoso disso é a zona de Alcântara, que poderia ser um interface intermodal de transportes públicos, incluindo um novo nó desnivelado, mas em que predominam os projetos de imobiliário de luxo (gentrificação), relegando a estação de metro atualmente “em estudo” para Alcântara Terra, longe da estação de correspondência com a linha de Cascais, Alcântara Mar. Não se avança decididamente para a reabilitação habitacional (sugere-se o emparcelamento de números matriciais para melhoria da habitabilidade) e repovoamento da cidade de Lisboa; combater o excesso da quota de transporte individual é também combater a desertificação da cidade de Lisboa.

O transporte individual - Para abordar o grave problema da quota maioritária de transporte individual na AML, terá de se analisar a questão da “first mile” e da “last mile”. Considerando um percurso tipo composto por 3 troços:

 - casa-estação de comboio

 - percurso de comboio

 - estação de comboio-emprego,

verifica-se que não é suficiente um bom traçado de comboio para substituir o TI. Admitindo que a “first mile” corresponda predominantemente ao TI, a “last mile” necessita de ser dotada de modos complementares, que por razões económicas deverão ser automatizados e “self-service”, sem prejuízo, por razões de segurança, de monitorização por sala de controle central guarnecida. Será conveniente prever nas estações ou paragens o serviço de faixas transversais aos traçados dos modos pesados, da ordem de 2 km, por modos complementares como:

 

 - cabinas autónomas (autonomous shuttles) de guiamento por GNSS (global navigation satellite system) e requisitáveis de modo informático ou por consolas dedicadas,“a pedido”, em pistas tipo ciclovia com 4m de largura de utilização preferencial pelas cabinas e bicicletas (veículos de 1,6m de largura e 3,5m de comprimento; sublinha-se que, apesar das cabinas autónomas disporem de sensores de proximidade de peões, as vias de um só sentido são mais seguras para os peões); tecnologia mais simples, por cabo embebido no pavimento e ligação por indução eletromagnética ao veículo

 - frotas partilháveis “renting” de duas rodas e de automóveis elétricos em parques junto das estações

 - para distancias superiores a 2 km, os modos clássicos (autocarros e miniautocarros de horário pré-estabelecido, táxis)

 

Embora a natureza destas soluções permita atrativas intervenções em webinars e promessas de um futuro ambientalmente ideal, o seu estudo requer elevada experiência em mobilidade, colaboração interdisciplinar e capacidade de debate público à medida do avanço do projeto.

Linha circular do metropolitano - Retomando o tema da indiferença do XXII governo e da CML pela opinião dos cidadãos, recordo o caso da linha circular do metro e as inconformidades do EIA que serviu de base à sua aprovação, ao afirmar que satisfazia o PROTAML  de 2002. Trata-se de uma intervenção interna da cidade e não um serviço à AML. Recordo a falsidade de que as linhas independentes não permitem intervalos curtos quando anunciam um intervalo de 3 minutos e meio para a linha circular. Recordo a falsidade de que na rede atual são precisos dois transbordos para chegar à Avenida da República, quando basta um. Recordo a desigualdade de tratamento para os moradores de Odivelas e zona do Lumiar impondo-se-lhes um transbordo para evitarem o transbordo aos da linha de Cascais, quando o plano de 1974 previa a prioridade da expansão a Alcântara para correspondência com a linha de Cascais. Recordo a menor fiabilidade de uma linha circular em comparação com duas linhas equivalentes independentes.

Registo ainda as respostas da Provedoria da Justiça e do Tribunal de Contas rejeitando liminarmente as queixas de moradores em Odivelas e Lumiar, apresentadas ao Gabinete de Interesses Difusos e ao TdC  pelo incumprimento da lei 2/2020 que mandava suspender a construção da linha circular, dar prioridade à expansão para Loures e a parte ocidental de Lisboa, estudar um plano de mobilidade, equipar as estações em falta para pessoas com mobilidade reduzida.

Como aceitar que uma lei da Assembleia da República é ignorada pelo governo, pelo metropolitano, pela Provedora da Justiça e pelo Tribunal de Contas, quando a Constituição da República Portuguesa diz explicitamente no art. 165º.1.z - "... exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre...bases do ordenamento do território e do urbanismo"?

 

A linha em laço - No contexto atual, em pré campanha de autárquicas, se de todo em todo se insiste na ligação de metro entre Rato e Cais do Sodré, e se não se quiser adjudicar o estudo da expansão do metro e de um novo plano de mobilidade na AML por concurso público internacional, ao menos que se evite a agressão visual de mais viadutos no Campo Grande (lote 3), transformando a linha circular em linha em laço (à semelhança do que se fez em Londres em 2009 com a linha circular), e aumentando o limite de controle instrumental de assentamentos de 25 para 100 m no edificado junto do novo traçado na colina da Estrela.

 

Apelo assim a todos os candidatos às eleições autárquicas das câmaras da AML que considerem estes factos ao elaborarem e discutirem os seus programas.

 

 

 

Mais informação:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/07/julho-de-2021-expansao-do-metropolitano.html

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Julho de 2021 - a expansão do metropolitano de Lisboa e a campanha autárquica

Neste mês de julho de 2021 governo e autarquias esmeram-se em informar a população sobre os seus planos de expansão dos transportes coletivos ao serviço da área metropolitana de Lisboa.

Adjudicados os 3 lotes da linha circular com vistos do Tribunal de Contas apesar da lei 2/2020 ter mandado suspender a construção, anuncia-se a instalação dos estaleiros para as obras e a realização de sondagens dos 1º e 2º lotes. 

Realiza-se uma sessão solene para consagrar a sintonia entre as câmaras de Lisboa, Odivelas e Loures para a  construção em Odivelas e Loures de 12 km de "metro ligeiro de superfície", TCSP ("transporte coletivo em sítio próprio"), que em linguagem vulgar corresponde a uma linha de elétrico ("tramway"), com as conhecidas limitações em termos de velocidade comercial devido às interferências com o tráfego automóvel, pedonal e ciclável (exceção de um pequeno túnel de 1,8 km sob a A40/radial de Odivelas, para evitar gradiantes muito elevados). Tem caraterísticas semelhantes à da linha 15 da CARRIS e impõem um transbordo na estação de metro de Odivelas que afastará os utilizadores do transporte individual do eixo Mafra-Malveira-Loures, apesar de tecnologicamente beneficiar de sistemas de controle automático dos semáforos à aproximação.

Com júbilo se anuncia que prosseguem os estudos do prolongamento da linha vermelha para Alcantara, que era prioritária relativamente à linha circular segundo o plano de expansão de 1974, segundo o PROTAML de 2002 e segundo a lei 2/2020. Mas a boa nova não será muito boa porque o prolongamento será a Alcantara Terra, a 800m de distancia da estação de Alcantara Mar da linha de Cascais (a correspondencia com a linha de Cascais foi um dos principais argumentos para defender a linha circular).

Num registo mais discreto, pediu-se ao senhor ministro das finanças que viabilizasse a disponibilização de mais 30 milhões de euros que alguém se tinha esquecido de "pôr" no orçamento de Estado para os fornecimentos de equipamentos necessários aos 3 lotes. Candidamente se apresentou a desculpa de que, com a pandemia, os materiais encareceram e os prazos de entrega se dilataram, pese embora prosseguir com animação o assalto das imobiliárias ao território, comprometendo a implantação das futuras redes de transporte. Não menos candidamente se lamentou também que o código de contratação pública impõe condicionalismos.

Se eu digo candidamente é porque sei do que estou a falar, que passei muito tempo da minha vida profissional a protestar contra os temos daquele código, redigido por senhores advogados que nunca precisaram de fazer concursos para metros, e a explicar aos meus colegas da construção civil, sem pôr em causa, claro, a sua competencia profissional nas suas especialidades, que um metropolitano não é uma obra de construção civil, é uma integração de muitas especialidades de engenharia, que a obra só está pronta depois de se fazerem os ensaios de homologação da segurança da circulação dos comboios e da funcionalidade segura dos sistemas de apoio, e que é uma pena decidirem-se traçados de linhas de metro sem que se oiçam os colegas com experiencia profissional na operação e na manutenção. É também uma pena que os assuntos de engenharia, e a sua diversidade num metropolitano é enorme, estejam no metro de Lisboa relegados para segundo plano, se observarmos o peso relativo que as outras áreas têm no organograma visível no seu site, o que é aliás uma limitação vulgar no país.

Recordo as inconformidades do EIA que serviu de base à aprovação da linha circular, ao afirmar que satisfazia o PROTAML  de 2002. Trata-se de uma intervenção interna da cidade e não um serviço à AML. Recordo a falsidade de que as linhas independentes não permitem intervalos curtos quando anunciam um intervalo de 3 minutos e meio para a linha circular. Recordo a falsidade de que na rede atual são precisos dois transbordos para chegar à Avenida da República, quando basta um. Recordo a desigualdade de tratamento para os moradores de Odivelas e zona do Lumiar impondo-se-lhes um transbordo para evitarem o transbordo aos da linha de Cascais, quando o plano de 1974 previa a prioridade da expansão a Alcantara para correspondencia com a linha de Cascais. Recordo a menor fiabilidade de uma linha circular em comparação com duas linhas equivalentes independentes.

Reporto ainda as respostas da Provedoria da Justiça e do Tribunal de Contas rejeitando liminarmente as queixas de moradores em Odivelas e Lumiar, apresentadas ao Gabinete de Interesses Difusos e ao TdC  pelo incumprimento da lei 2/2020 que mandava suspender a construção da linha circular. Como aceitar que uma lei da Assembleia da República é ignorada pelo governo, pelo metropolitano, pela Provedora da Justiça e pelo Tribunal de Contas, quando a Constituição da República Portuguesa diz explicitamente no art. 165º.1.z - "... exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre ... bases do ordenamento do território e do urbanismo" ?

No contexto atual, em pré campanha de autárquicas, se de todo em todo se insiste na ligação de metro entre Rato e Cais do Sodré, e se não se quiser adjudicar o estudo da expansão do metro e de um novo plano de mobilidade na AML por concurso público internacional, ao menos que se evite a agressão visual de mais viadutos no Campo Grande (lote 3), transformando a linha circular em linha em laço (à semelhança do que se fez em Londres em 2009 com a linha circular), e aumentando o limite de controle instrumental de assentamentos de 25 para 100 m no edificado junto do novo traçado na colina da Estrela.

Apela-se assim a todos os candidatos às eleições autárquicas das câmaras da AML que considerem estes factos ao elaborarem e discutirem os seus programas.


Informação adicional:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/06/queixa-apresentada-senhora-provedora-da.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2021/06/resposta-do-tribunal-de-contas-em.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2018/01/ultima-tentativa-ultima-chamada-da.html







domingo, 11 de julho de 2021

Stan Swamy e Esther Bejarano

 Com a devida vénia ao Publico e aos autores das reportagens,  cito o exemplo de humanismo destas duas pessoas, rodeadas  pela barbárie dos defensores da superioridade de uns relativamente a outros, contra os ensinamentos de Gandhi e das disposições da constituição da União Indiana no primeiro caso (democracia, prevalecendo o sistema de castas?), no campo de concentração de Auschwitz, no segundo caso (sobrevivente do Holocausto, afirmou numa entrevista so Publico: 

“Temos uma nova onda de radicalismo, fascismo e racismo na Europa e em todo o mundo – em Israel, nos Estados Unidos… É por isso que temos de continuar a falar sobre o que aconteceu”.


https://www.publico.pt/2021/07/09/opiniao/opiniao/defesa-pobres-pobres-1969608


https://www.publico.pt/2021/07/10/sociedade/noticia/morreu-esther-bejarano-rapariga-orquestra-auschwitz-1969918