Até porque este blogue se interessa por problemas de transportes, trascrevo carta enviada ao senhor presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sobre a problemática dos desnivelamentos das ligações ferroviárias em Alcantara, a propósito da recente emissão pelo Ministério do Ambiente da Declaração de impacto ambiental "condicionada favorável".
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Tendo sido emitida a declaração de impacto ambiental para o desnivelamento da ligação entre a linha de Cascais, o terminal de contentores de Alcantara e a linha de cintura, e considerando que qualquer intervenção na zona deverá poupar o mais possível o caneiro de Alcântara, mas também minimizar o impacto à superfície, como refere a declaração, pedia-lhe para não considerar uma das premissas do estudo de desnivelamento, que é a de juntar a Poente das docas as vias de passageiros da linha de Cascais e as de mercadorias do terminal de contentores.
Penitencio-me de só agora ter lido a memória descritiva da REFER relativa ao desnivelamento das ligações, mas gostaria de propor as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: deixemos o projeto das vias de passageiros como está, de preferencia segundo a alternativa D, que permite, em 2 vias, chegar a Campolide; mas, muito importante, liguemos em túnel em via única (por ser mais económico) o feixe do terminal de contentores à estação de Alcântara-Terra.
Vantagens: não se interfere com o caneiro de Alcântara, uma vez que tanto as vias de passageiros (a Poente do caneiro), como a via de mercadorias (a Nascente do caneiro) seguem paralelamente, encontrando-se apenas a norte do túnel existente de Alcântara.
Não se interfere à superfície com os armazéns referidos na declaração de impacto ambiental.
Inconvenientes: algumas interferências com as condutas da Simtejo. Necessidade de compatibilizar os traçados com eventuais prolongamentos das linhas amarela e vermelha do metro, quer para Alcântara (desejavelmente em viaduto), quer para Ajuda/Algés (desejavelmente com correspondência em Alvito).
Os custos do túnel em via única para as mercadorias são compensados com a economia dos custos do feixe de expedição das mercadorias (em túnel) e do impacto da ligação à superfície do terminal de contentores ao feixe de expedição
Hipótese 2: Idêntica solução à hipótese 1 para a via de mercadorias. Mas realizando a ligação de passageiros entre a linha de Cascais e a de cintura sempre a Nascente do caneiro, pela margem esquerda, em túnel de via dupla, aproveitando a estação existente de Alcântara-Mar. A reunião entre a via de mercadorias e as de passageiros processar-se-ia na estação de Alcântara-Terra, antes do túnel existente (necessidade de mais um túnel de via única para passageiros)
Vantagens: Dispensa a construção da estação subterrânea prevista, muito dispendiosa por exigir 2 vias e cais central e túneis contíguos; dispensa a construção do viaduto da alternativa D, junto do viaduto da linha da ponte; permite dispor dos terrenos previstos para as vias de ligação e de expedição a Po.
Inconvenientes: algumas interferências com as condutas da Simtejo. Necessidade de compatibilizar os traçados com eventuais prolongamentos das linhas amarela e vermelha do metro, quer para Alcântara (desejavelmente em viaduto), quer para Ajuda/Algés (desejavelmente com correspondência em Alvito); necessidade de duplicação do túnel existente; necessidade de rebaixamento parcial da linha de Cascais, em cerca de 200 m à saída da estação de Alcântara-Mar para Na e eventual necessidade de alterar o perfil da Av.24 de Julho (possibilidade de rebaixamento da própria estação de Âlcantara-Mar de modo a permitir a curva de ligação à estação de Alcântara-Terra com raio maior do que 200 m, embora exigindo o reforço do caneiro, ou de deslocação para Poente da estação de Alcântara-Mar).
Junto dois desenhos esquemáticos com as duas hipóteses.
Parecerá petulante da minha parte defender uma solução que os técnicos da REFER não terão valorizado. Admito porém que, no seguimento de anteriores planos diretores, tivesse sido imposto aos projetistas o não uso da margem esquerda da ribeira/caneiro de Alcântara, possivelmente reservada a uma linha enterrada de metro.
No entanto, as vantagens de fazer a ligação da linha de Cascais e do terminal de contentores pela margem esquerda parecem relevantes, podendo a linha de metro vir a ser realizada em viaduto.
Gostaria ainda de chamar a atenção para que dificilmente poderá haver soluções perfeitas para o nó de Alcântara, dada a sua complexidade (a necessidade de compatibilizar os traçados ferroviários, de metro, dos elétricos de superfície, e rodoviário nunca permitirá o êxito de uma solução parcial; eventualmente, para minimizar as obras subterrâneas, a melhor solução geotécnica seria criar em toda a zona do caneiro e margem esquerda, entre o largo de Alcântara e a Av.Brasilia, todo um plano a uma cota superior à da superfície da ordem de 6 metros para assegurar todos os cruzamentos) , diversidade de disciplinas técnicas envolvidas (destaque para a geotecnia e a hidráulica, incluindo as problemáticas da melhor localização para o porto de contentores e da proteção contra maremotos) e os elevados custos necessários para as melhores soluções.
Por esta razão, as próprias hipóteses que proponho também não são a melhor solução, e parecerá que deverá ser estudado um plano a longo prazo, de execução faseada, e desenvolvido com amplo debate público.
Com os melhores cumprimentos
Fernando Santos e Silva
Ver os desenhos esquemáticos propostos, a memória descritiva da REFER, o estudo de impacto ambiental da REFER e a declaração de impacto ambiental em:
http://cid-95ca2795d8cd20fd.skydrive.live.com/browse.aspx/Alcantara%20Desnivelamentos%20ABR2010
Hipótese 1 – Ligação de passageiros da linha de Cascais como na alternativa D (viaduto sem interferir com o caneiro; junção à linha existente a norte do túnel de Alcântara;
Ligação de mercadorias pela margem esquerda do caneiro sem interferência com ele; junção à linha existente na estação existente de Alcântara Terra
Hipótese 2 – Ligações de mercadorias e de passageiros exclusivamente pela margem esquerda (a Na do caneiro); utilização da estação existente de Alcântara-Terra ou sua deslocação para Po para aumentar o raio da curva para a estação de Alcântara-Terra
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