terça-feira, 27 de abril de 2010

Diálogos de Siracusa. 4º diálogo – in PEC probationem nostri (no PEC as nossas provações)

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Publius Coletius atravessava apressado o Forum de Siracusa, de manhã cedo, dois dias depois das festas da Florália, quando encontrou Caio Indivisio.

Publius Coletius - Amicus Caius, ainda bem que te encontro. Vem ajudar-me na Ágora. Chegou uma nave de Roma. O imperador expediu ordens de PEC.

Caio Indivisio – Ordens de PEC?!

Publius Coletius - Sim, ignorante, as propositionem exequo compositus advenio (proposições para equilíbrio e compatibilização do crescimento). Trata-se de um plano destinado a compensar os disparates que os imperadores têm cometido, gastando demais com atividades não produtivas, guerreando em vez de negociar os preços do trigo e de investir na construção, na marinha, no comercio, na agricultura, nas ferrarias e nas canalizações. Têm deixado à solta os patrícios e banqueiros que emprestam dinheiro e eles têm enganado a plebe e explorado os escravos, os artesãos e os soldados até ao tutano, e pior que isso, especulam, especulam e arrasam as empresas honestas. Eu bem tinha avisado.

Caio Indivisio - Publius, Publius, sabes que eu sou pela iniciativa privada. Nem todos os empreendedores e banqueiros são assim. Eu próprio vou diversificar as minhas empresas e vou abrir um banco. Estudei os textos de Apolodorus sobre o pai, Pasion; os êxitos do seu trabalho nos bancos de Antistenes e Arquestratus, do Pireu. Aprendi com eles e com o banco de Delos a emitir títulos de dívida de modo a não ser preciso andarmos sempre com bolsas cheias de sestércios.

Publius Coletius - Sim, sim; nem eu queria ofender tão ilustre empreendedor como tu és. Também não queria que pensasses que menosprezo a capacidade matemática dos banqueiros, desde os primeiros babilónios que sabiam calcular juros compostos; nem sou fundamentalista como a nova religião do médio oriente que condena os juros sobre os empréstimos; e acho muito bem que estudes a história da banca, para evitares  os erros que outros cometeram e evitares ser  enganado como os outros já foram pelos especuladores. Mas as ordens do imperador são muito claras, e são para cumprir. Aumento de impostos e cortes nas despesas. Vamos ter de prescindir de enviar os escravos ao topo das montanhas para trazer neve para fazer gelados, vamos ter de nos contentar com os carroções da Etruria e da Iberia e deixar de comprar os carroções da Germânia. Adeus às sedas e brocados de Bagdad e de Samarcanda. Os bois e as vacas que mandamos vir das planícies da Panónia vão ter de ser criados aqui na Sicília. Temos de libertar uns quantos escravos e dar-lhes terras para criarem galinhas , coelhos e ovelhas. Não podemos continuar assim, a importar mais de oitenta por cento do que comemos.


Caio Indivisio - E recuamos também as fronteiras do Oriente, para pouparmos nos gastos militares; deixamos os territórios de entre o Eufrates e oTigre para os Partos e os Persas…

Publius Coletius - Acho bem, folgo muito em ouvir-te dizer isso.

Publius e Caio mergulharam absortos no estudo das bulas do imperador. Ao fim de algum tempo de grande concentração, Caio exclamou:

Caio Indivisio – Publius, devias ser tu a dizer isto, mas eu dou-te a ideia de graça. Qualquer resolução deve ser baseada em factos e em números bem concretos, como diziam os alunos de Pitágoras. Isso nos ensinam os economistas do tempo daqui a 80 gerações. Recolhem-se os dados, classificam-se e armazenam-se em bases de dados e depois, interpretam-se , ou tenta-se interpretar através dum modelo que simule a realidade; que a simule, como dizia Bertrand Russel, nunca a pode reproduzir exatamente.

Publius Coletius – Explica-te.

Caio Indivisio – Disseste que o problema só podia resolver-se com aumento de impostos para o nosso imperador. Então, temos de saber que percentagem da riqueza do império foi produzida pelos escravos, artesãos e soldados, e que percentagem da riqueza foi produzida pelos patrícios e pelos banqueiros.

Publius Coletius – Isso não sei dizer-te, qual a riqueza produzida por cada grupo; mas, como as contas são feitas, sei dizer-te qual a riqueza que entra nas bolsas dos escravos, dos artesãos e dos soldados , e qual a que entra nos cofres dos patrícios e dos banqueiros. Conta com 20% para os escravos, artesãos e soldados, e com 80% para os patrícios e banqueiros.

Caio Indivisio – Então é simples: 20% do aumento dos impostos tem de ser aplicado aos escravos, aos artesãos e aos soldados, e 80% aos patrícios e banqueiros.

Publius Coletius – E se os patrícios e os banqueiros fugirem para a Germânia ou para outros sítios bárbaros, podemos pôr grandes massas de escravos, artesãos e soldados a trabalhar nos campos e nas minas desses patrícios e banqueiros… e podemos dizer aos chefes das tribos germânicas que os sestércios que eles levaram sem autorização do imperador já não valem o mesmo que os sestércios do imperador.

Caio Indivisio – Publius, já temos a solução para a nossa Sicília e para o nosso imperador. Já podemos mandar a nave de volta com a nossa posição. Esperemos que o Senado em Roma concorde. E não nos esqueçamos de escrever na mensagem que o aumento da produção de bens alimentares e a redução dos gastos com campanhas militares são absolutamente necessárias.

Publius Coletius – Amen (assim seja). Agora vamos fazer como se honrássemos os deuses da mesa e depois voltamos para escrever a mensagem para o Senado de Roma. Ainda temos tempo depois para assistir serenamente ao crepúsculo.



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