Tenho de contrariar várias posições que se manifestam criticamente contra o lobi das eólicas.
Parece-me correta
a posição descrita por Vital Moreira no económico.sapo).
Não pretendo
tomar partido por ou contra qualquer lóbi, seja renovável, importador de
combustíveis fósseis ou nuclear.
Apenas apresentar questões técnicas (e um ou outro pormenor financeiro).
1 – a fatura energética de Portugal não parece sustentável
uma vez que importa cerca de 75% da energia primária que consome
(fundamentalmente para transporte rodoviário)
2 – sendo assim, não parece incorreto aumentar a taxa de
produção renovável (eólica e hidráulica, sendo que ainda há potencial para
instalação de 5.000 MW) desde que o seja de forma integrada em todo panorama energético e de transportes
3 – é evidente que para isso devem alterar-se os dogmas
financeiros que condicionam o défice tarifário e a remuneração do MWh a 100
euro. É razoável, considerando o aumento da potencia instalada, remunerar o MWh
a 50 euro.
4 – de forma análoga ao que já foi proposto para as famosas
PPP , beneficiando das baixas taxas de juro, “adquirir” aos bancos as PPP, e redução
da rentabilidade de 16% para 3%, podendo encarar-se um programa de aquisição de
ativos ao dito lóbi eólico, desvalorizados com base na referida remuneração
5 – as razões para aumentar na Europa a taxa de renováveis
não são apenas as das alterações climáticas. Primeiro, trata-se de reduzir a
importação de combustíveis fósseis (a dependência do exterior da Europa em
energia primária é 50%). Além disso, o preço baixo do nuclear francês não deve poder
manter-se: as centrais nucleares estão obsoletas do ponto de vista da segurança
e a sua atualização já foi estimada em 30.000 milhões de euros. Acresce que a
construção de centrais nucleares novas, de maior segurança, serão caras e a
remuneração do MWh consequentemente elevada (é a experiencia da noca central finlandesa).
6 – tal como pode ver-se nas ligações que junto, a
recomendação europeia é a de que 10% da ponta de potencia elétrica consumida
possa estar interligada com países vizinhos. Apesar da recente inauguração de
64km de cabos enterrados de muito alta tensão contínua para interligação das
redes francesa e espanhola, também ilustrada nas referidas ligações, o valor da
interligação Espanha-França ainda é menos de metade do objetivo (prevê-se o
lançamento de cabos de muito alta tensão contínua no golfo da Bizcaia) e entre
Portugal e Espanha ainda pior (daí a expressão “ilhas energéticas”). O custo de
uma interligação com esta solução técnica é da ordem de 10 milhões de euros por
km, obviamente sujeito a financiamento comunitário.
7 – voltando ao excesso de potencia renovável instalada e
repetindo que se trata de assunto que exige o seu estudo devidamente integrado
no panorama geral energético e de transportes, a utilização desse excesso
poderá ser feita através da exportação (obviamente resolvendo o assunto das
altissimas remunerações do MWh e beneficiando da vontade expressa de Juncker de
“ajudar” à solução do problema das interligações) e do armazenamento. O consumo
poderá ainda ser otimizado através da alimentação da rede ferroviária (recordo
que o atual tráfego aéreo de passageiros entre Lisboa e Madrid e Lisboa e Porto
está associado a desperdício energético, dada a menor eficiência do transporte
aéreo quando comparado com o transporte ferroviário).
8 - O armazenamento poderá ser feito nas tais albufeiras
reversíveis (exige obviamente financiamento comunitário maioritariamente a
fundo perdido), e através da carga de baterias ou de produção descentralizadas
de hidrogénio (é a eletricidade que é
transportada do local de produção de energia elétrica para o local de carga ou
de produção de hidrogénio). Quer as baterias quer o hidrogénio poderão ser
localmente aplicados em transportes (postos de abastecimento de combustível já
em funcionamento nalguns países da Europa, nomeadamente para abastecimento de
autocarros elétricos de baterias ou de células de combustível). O armazenamento
através do hidrogénio poderá ainda ser rentabilizado através do aquecimento
doméstico por células de combustível.
9 - Embora o rendimento da produção de hidrogénio seja
baixo, a vantagem é a de poupar a importação de combustíveis fósseis. O
inconveniente é exigir um controle de custos a empresas ou financeiras privadas
mais interessadas no lucro ou com dificuldade em competir com os preços da
eletricidade espanhola ou francesa, ou a empresas participadas públicas (caso
da espanhola REE e da francesa RTE) que possam não deter o “know-how”necessário
(o que não parece ser o caso da REE e da RTE; no entanto, Juncker
disponibilizou-se para agilizar um gabinete de apoio técnico para estudas as
interligações).
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