quarta-feira, 4 de março de 2015

A cimeira energética em Madrid em março de 2015

Gosto de ver esta mini-cimeira. Não me parece que o senhor primeiro ministro português tenha competencia e conhecimentos para dela  retirar utilidade para Portugal (seria preferível delegar no seu vice-ministro Moreira da Silva que é um técnico conhecedor, embora tenha de cumprir o program do seu partido).
Também não estou a ver as empresas portuguesas a corresponderem ao apelo de Juncker para apresentarem candidaturas aos fundos europeus e para beneficiarem do gabinete de apoio técnico.
Quando comparamos com REE espanhola, detida a 20% pelo Estado, e com a RTE francesa, quase 100% pública, compreende-se como é que conseguiram chegar ao acordo  que a inauguração da linha enterrada de 65km, + - 326 kVDC , 2x1000MW entre Santa Llogaia (Espanha) e Baixas (França) veio coroar. 



Tenho de contrariar várias posições  que se manifestam criticamente contra o lobi das eólicas. 
Parece-me correta a posição descrita por Vital Moreira no económico.sapo).
Não pretendo tomar partido por ou contra qualquer lóbi, seja renovável, importador de combustíveis fósseis ou nuclear. 
 Apenas apresentar questões técnicas (e um ou outro pormenor financeiro).

1 – a fatura energética de Portugal não parece sustentável uma vez que importa cerca de 75% da energia primária que consome (fundamentalmente para transporte rodoviário)
2 – sendo assim, não parece incorreto aumentar a taxa de produção renovável (eólica e hidráulica, sendo que ainda há potencial para instalação de 5.000 MW) desde que o seja de forma integrada em todo  panorama energético e de transportes
3 – é evidente que para isso devem alterar-se os dogmas financeiros que condicionam o défice tarifário e a remuneração do MWh a 100 euro. É razoável, considerando o aumento da potencia instalada, remunerar o MWh a 50 euro.
4 – de forma análoga ao que já foi proposto para as famosas PPP , beneficiando das baixas taxas de juro, “adquirir” aos bancos as PPP, e redução da rentabilidade de 16% para 3%, podendo encarar-se um programa de aquisição de ativos ao dito lóbi eólico, desvalorizados com base na referida remuneração
5 – as razões para aumentar na Europa a taxa de renováveis não são apenas as das alterações climáticas. Primeiro, trata-se de reduzir a importação de combustíveis fósseis (a dependência do exterior da Europa em energia primária é 50%). Além disso, o preço baixo do nuclear francês não deve poder manter-se: as centrais nucleares estão obsoletas do ponto de vista da segurança e a sua atualização já foi estimada em 30.000 milhões de euros. Acresce que a construção de centrais nucleares novas, de maior segurança, serão caras e a remuneração do MWh consequentemente elevada (é a experiencia da noca central finlandesa).
6 – tal como pode ver-se nas ligações que junto, a recomendação europeia é a de que 10% da ponta de potencia elétrica consumida possa estar interligada com países vizinhos. Apesar da recente inauguração de 64km de cabos enterrados de muito alta tensão contínua para interligação das redes francesa e espanhola, também ilustrada nas referidas ligações, o valor da interligação Espanha-França ainda é menos de metade do objetivo (prevê-se o lançamento de cabos de muito alta tensão contínua no golfo da Bizcaia) e entre Portugal e Espanha ainda pior (daí a expressão “ilhas energéticas”). O custo de uma interligação com esta solução técnica é da ordem de 10 milhões de euros por km, obviamente sujeito a financiamento comunitário.
7 – voltando ao excesso de potencia renovável instalada e repetindo que se trata de assunto que exige o seu estudo devidamente integrado no panorama geral energético e de transportes, a utilização desse excesso poderá ser feita através da exportação (obviamente resolvendo o assunto das altissimas remunerações do MWh e beneficiando da vontade expressa de Juncker de “ajudar” à solução do problema das interligações) e do armazenamento. O consumo poderá ainda ser otimizado através da alimentação da rede ferroviária (recordo que o atual tráfego aéreo de passageiros entre Lisboa e Madrid e Lisboa e Porto está associado a desperdício energético, dada a menor eficiência do transporte aéreo quando comparado com o transporte ferroviário).
8 - O armazenamento poderá ser feito nas tais albufeiras reversíveis (exige obviamente financiamento comunitário maioritariamente a fundo perdido), e através da carga de baterias ou de produção descentralizadas de hidrogénio (é  a eletricidade que é transportada do local de produção de energia elétrica para o local de carga ou de produção de hidrogénio). Quer as baterias quer o hidrogénio poderão ser localmente aplicados em transportes (postos de abastecimento de combustível já em funcionamento nalguns países da Europa, nomeadamente para abastecimento de autocarros elétricos de baterias ou de células de combustível). O armazenamento através do hidrogénio poderá ainda ser rentabilizado através do aquecimento doméstico por células de combustível.
9 - Embora o rendimento da produção de hidrogénio seja baixo, a vantagem é a de poupar a importação de combustíveis fósseis. O inconveniente é exigir um controle de custos a empresas ou financeiras privadas mais interessadas no lucro ou com dificuldade em competir com os preços da eletricidade espanhola ou francesa, ou a empresas participadas públicas (caso da espanhola REE e da francesa RTE) que possam não deter o “know-how”necessário (o que não parece ser o caso da REE e da RTE; no entanto, Juncker disponibilizou-se para agilizar um gabinete de apoio técnico para estudas as interligações).






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