segunda-feira, 2 de março de 2015

Macbeth no São Carlos de Lisboa, em fevereiro e março de 2015 - Patria opressa



Apesar das restrições orçamentais na cultura e das demissões na administração e direção artistica do teatro, ainda é possível assistir a bons espetáculos de ópera em Lisboa.
O camarote presidencial continua vazio, símbolo da indiferença e insensibilidade dos nossos decisores.
Aos nossos governantes, especialmente ao senhor primeiro ministro, que com assinalável franqueza confessou que quer continuar a ser primeiro ministro, não por o poder lhe ter subido à cabeça, mas porque há ainda muitas coisas por fazer (e continuarão, se continuar a ser primeiro ministro, mostrando sinais de hipomania, isto é, convicção de ter sido encarregado de uma missão salvífica) , e à senhora ministra das finanças, que afirmou que em Portugal se abre um mundo aos jovens que acabam a licenciatura, dedico o coro dos exilados escoceses da ópera Macbeth de Verdi, Patria opressa:

"Patria oprimida, pátria oprimida,
não posso dar-te o doce nome de mãe,
pois que agora te converteste
num túmulo para todos os teus filhos.
Dos orfãos e dos que choram
o esposo e a sua prole,
ergue-se um grito que fere os céus
com o nascer de um novo sol.
A esse grito o céu responde
como se, apiedado,
quisesse propagar pelo infinito
a tua dor, pátria oprimida.
O sino toca sempre a finados,
mas ninguém é audaz o bastante
que ouse derramar um inutil pranto
por quem sofre e por quem morre.
Patria oprimida
Patria minha."


Perigosa para estes governantes, a ópera.





Sem comentários:

Enviar um comentário