Embora o momento atual, para o metropolitano de Lisboa, esteja dominado pela crise da nova Transportes de Lisboa e das subconcessões , penso que podemos e devemos reservar alguma parte da nossa atenção para questões aparentemente áridas, mas importantes, pelo menos numa perspetiva de médio e longo prazos, como seja a manutenção das estações (toda e qualquer construção, sistema ou equipamento necessita de manutenção).
A propósito de subconcessões, recordo que a ideia de um operador único (não concedente) é também uma ideia de esquerda; tudo depende do que é que as coisas estão ao serviço, do respeito pela natureza estratégica da atividade de transportes, e da hierarquização dos fatores de produção, incluindo os humanos; os critérios de decisão de uma empresa assim deverão, para cumprir os requisitos científicos, respeitar sempre a segurança, o conforto e a eficiência energética; por exemplo, querer resolver problemas de transporte com veículos de rodas de borracha, por mais evoluido que seja o seu motor de combustão interna, é um desperdício energético pago pelos contribuintes, e infelizmente isso é dificil de compreender pelos decisores, mas a discussão sobre os modos de transporte mais eficientes seria uma conversa muito longa que deveria levar ao estabelecimento de mais uma lista, a dos investimentos a submeter a candidaturas aos fundos comunitários.
Passageiro atento deu-me conta do progresso das infiltrações na estação do Terreiro do Paço e manifestou preocupação pela resistência das armaduras à corrosão marítima.
Eu penso que há na estação 3 tipos de infiltração e que a situação ainda não é grave. Mas num dos casos sê-lo-á a médio prazo com alguma probabilidade.
Sabe-se que se está a reformular o plano de instrumentação e monitorização do túnel e estação, e que decorre o plano de manutenção geral das galerias. No entanto, penso que neste caso conviria tomar algumas medidas para tirar dúvidas.
1 - Infiltrações na placa de cobertura e no piso ao nível da passagem pedonal de poente
Trata-se de estalactites e estalagmites devidas ao calcário nas águas pluviais (figs 1 a 7).
Durante a presidencia portuguesa da União Europeia, em 2007, foram dadas ordens ministeriais proibindo a execução dos arranjos exteriores que incluiam a impermeabilização da cobertura durante a dita presidência. Depois ficou assim, com as pressas de inauguração da estação e depois com o rebentamento da crise (figs 10 e 11).
Notar porém que no pavimento da passagem pedonal aparecem vestígios de infiltrações de água do Tejo, não parecendo haver indícios de ataque às armaduras (o que não dispensa a monitorização, claro) (figs 8 e 9).
Notar ainda que não se encontra corrigida, embora protegida por estrutura metálica, a deslocação de um dos elementos do primeiro arco junto do torreão nascente (figs 12, 13, 14, 16, 29)
que poderá ter sido causada pelo assentamento progressivo do torreão antes da obra da estação (que em princípio veio parar esse assentamento), por solicitação sísmica ao nível do pavimento do primeiro piso, por deformação por dilatação térmica, por assentamento devido à construção da passagem pedonal poente que foi executada depois da estrutura da estação, ou por realização de obras internas debilitando a estrutura de abóbadas.
Penso que deveria esclarecer-se a questão deste arco, em colaboração com o ministério das finanças e a direção do património arquitetónico, notando que existem alvos topográficos para a monitorização (figs 30 e 31) (extensivo à monitorização do torreão poente, cujo assentamento foi parado pela construção do metropolitano -fig.15).
2 - Infiltrações ao nível do 1º piso acima do cais e nas paredes das escadas do lado norte dos cais (figs 18 a 25)
Põe-se a hipótese de serem devidas ao calcário da água, mas nesta zona, já água do Tejo, infiltrando-se através das estacas secantes do lado norte aos níveis referidos.
Tratando-se de água salgada, põe-se também a hipótese do pó que aparece nas colunas junto das escadas ser indício de carbonatação. E neste caso isso teria alguma gravidade por indiciar corrosão eletroquímica em que a armadura funciona como ânodo, oxidando, e o eletrólito é a água salgada, com cloretos, sendo o carbonato de cálcio um dos produtos da reação.
Salvo melhor opinião, poderão alargar-se as zonas afetadas, preenchê-las com resinas e monitorizar o comportamento futuro, mas penso que mais correto seria, para tirar dúvidas, analisar a natureza química do pó que aparece nas colunas (sondagens com fenolftaleína) e, sendo carbonato de cálcio, submeter as armaduras a medições de potencial elétrico (na altura da construção da galeria da Pontinha para a Amadora foi pedido á FERCONSULT para incluir no seu normativo de construção a acessibilidade das armaduras para efeito destas medições de potencial elétrico) e, se comprovada a existencia de processos eletroquímicos, aplicar o tratamento anti-corrosivo eletroquímico, com injeção de corrente contínua através de um elétrodo adicional.
De meu conhecimento, em Portugal apenas existe "know-how" no Laboratório de Engenharia Civil e na empresa iCorr, mas evidentemente que pode haver mais. Em qualquer caso, penso que se impõe a análise química do pó que aparece nas colunas.
3 - Infiltrações ao nível do cais e da via no lado poente (figs 26 a 28)
Trata-se de infiltrações de água do Tejo na zona do emboque poente, podendo ser consideradas normais e não parecendo haver indícios de carbonatação. Neste caso é essencial continuar a monitorização com alvos topográficos para controle dos parâmetros geométricos da galeria e da via. Conviria também monitorizar a corrosão de armários de equipamentos e das esteiras de cabos.
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