sábado, 13 de maio de 2023

As perturbações do metro decorrentes das obras dos viadutos e a linha circular

 Email que enviei a dois jornalistas a propósito dos seus artigos sobre o tema:

https://lisboaparapessoas.pt/2023/05/10/metro-de-lisboa-conferencia-imprensa-linhas-verde-e-amarela/?utm_term=Em+Lisboa+tambem+ha+agricultura.+E+vai+haver+um+festival+sobre+isso&utm_campaign=Lisboa+Para+Pessoas&utm_source=e-goi&utm_medium=email

https://www.publico.pt/2023/05/10/local/noticia/metro-lisboa-reforca-numero-carruagens-atenuar-constrangimentos-2049167


 

Apreciei os vossos artigos sobre a conferencia de imprensa do metro com as suas justificações para as perturbações decorrentes das obras nos viadutos de Campo Grande.

O assunto interessa-me porque, como antigo funcionário do metro, participei na equipa de coordenação da integração da exploração do metro nas extensões inauguradas em 1998. Foi então colocada em serviço a linha vermelha de Alameda a Oriente e realizada a desconexação em Rossio e Restauradores, criando-se a linha verde para Cais do Sodré e a linha azul para Baixa-Chiado e a estrutura de uma efetiva rede de metro. Tal como agora, tiveram de se interromper diversos troços do metro com os consequentes incómodos e transtornos para a população. Sobreveio até, em 1997, um incêndio na estação de Alameda, infelizmente com vítimas mortais. 

Os comentários seguintes não contêm portanto nenhuma crítica ao trabalho dos colegas agora no ativo, que com brio e competência profissionais cumprem um plano imposto pelo Governo e pela direção superior do metro, plano esse que não posso deixar de criticar por se basear num despacho de uma secretaria de Estado de 2009 incompatível com o PROTAML  e  o PDM então em vigor e cuja aprovação do Estudo de Impacto Ambiental ignorou  os sistemáticos pedidos da Assembleia da República e da Assembleia da Autarquia para fornecimento dos "estudos" que fundamentavam a escolha da linha circular em detrimento do prolongamento a Alcântara. Tampouco foi satisfeito o pedido de fornecimento dos "estudos" justificativos do traçado escolhido para o prolongamento da linha vermelha, numa prática a que o próprio Governo nos vem habituando ao arrepio do art.48 da CRP. Também por cumprir ficou o art.282 da lei2/2020 da Assembleia da República. Finalmente, apesar do assunto ter sido debatido na campanha eleitoral para a CML, foi rejeitada pelo Governo e pelo metro a proposta de transformar a linha circular em linha em espiral ou laço, analogamente ao que foi feito no metro de Londres em 2009, e que teria evitado os complexos trabalhos de construção dos dois novos viadutos e sua ligação aos viadutos existentes, que implicarão na sua futura exploração alguns inconvenientes para a operação e manutenção (redução de velocidade sobre os aparelhos de via, elevado número de aparelhos de dilatação, desgaste de material devido às curvas apertadas).



Mas voltando às perturbações relatadas nos vossos artigos, as quais, repito, são inevitáveis por razões de segurança, aliás como referido pelo senhor presidente do metro, gostaria de referir que talvez fosse possível ter contratado por esse país fora, como há uns anos num período de greves no metro, alguns autocarros que fizessem o vai-vém entre a Cidade Universitária (por exemplo aproveitando o parque de estacionamento da Reitoria) e a estação  Campo Grande (por exemplo junto do lado nascente da estação). Admitindo um tempo de ida e volta de 15 minutos (beneficiando de proibição de desvio automóvel para a direita no topo norte do Campo Grande), teríamos, partindo um autocarro de 1,5 em 1,5 minutos, necessidade de 10 autocarros ou 40 autocarros/hora ou 2.000 passageiros por hora.

Relativamente às frequências de comboios de 3 carruagens na linha verde, não bastará "duplicar o número de comboios disponíveis", é necessário pelo menos duplicar a frequência para manter a mesma oferta. Se antes circulavam 9 comboios de 6 carruagens com intervalo de 4 minutos e meio, para um tempo de ida e volta de 40 minutos isso significava 13,6 comboios por hora e sentido ou, para uma lotação de 800 passageiros, 10.900 pessoas por hora e sentido. Diz o senhor presidente que agora dispõe de 12 comboios de 3 carruagens, com intervalo de 3,3 minutos, o que dá para uma lotação de 400 passageiros, 18 comboios por hora e sentido e 7.200 passageiros por hora e sentido.

Eu sugeria, enquanto a conclusão da instalação dos aparelhos de via e da ligação do novo viaduto ao existente, no cais de chegada de Alvalade a Campo Grande, não estiverem concluídas, intercalar um comboio de 6 carruagens entre os comboios de 3 carruagens. Os de 6 inverteriam em Alvalade que é um término intermédio, e os de 3 em Campo Grande. Com intervalos próximos de 3 minutos poderia pedir-se às pessoas que não fossem para Campo Grande e que esperassem pelo comboio de 6 carruagens. Dada a grande afluência no transbordo de Alameda, essa medida poderia melhorar o serviço da linha verde  (para melhorar os tempos de percurso e consequentemente reduzir o número de comboios requeridos,  em situações excecionais alguns metropolitanos chegam a usar o sistema de um comboio parar nas estações "ímpares" e o comboio seguinte nas estações "pares"). Mas subsistirá ainda o problema se o metro tem maquinistas suficientes.



Gostaria ainda de chamar a vossa atenção para uma questão sobre a possibilidade de, após a inauguração da linha circular prevista para 2024, a experiência demonstrar que a exploração como linha em laço traz vantagens (primeiramente, facilitar a não entrada de automóveis no eixo Odivelas-Rato-Cais do Sodré). 

Seria de interesse o metro esclarecer quais as condições para isso ser possível, uma vez que, face às declarações públicas do próprio metro quando se discutiu a "partilha" da linha circular com a linha de Odivelas-Rato, no tempo do secretário de Estado José Mendes, se julga que apenas foram instalados aparelhos de via que ficam fixos por tira-fundos (parafusos) numa das duas posições possíveis, mas que não estão controlados pelo sistema de sinalização de modo a obedecer ao comando de itinerários. Também isso conviria ser publicamente divulgado (em anexo envio o esquema dos aparelhos de via previstos para os novos viadutos de Campo Grande, evidenciando a complexidade dos movimentos).




Pedindo a vossa benevolência para a aridez do assunto, cumprimento-os com consideração

 


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