sexta-feira, 19 de maio de 2023

O senhor ministro e os meios aéreos

 Oiço de raspão o senhor ministro queixar-se numa entrevista de que não há no mercado meios aéreos para prevenir o combate aos fogos.

Vou ao arquivo deste blogue recordar o que escrevi sobre o combate aos fogos:

https://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=canadair

Verifico  que não comentei, no seu devido tempo, a proposta da Comissão Europeia para a constituição duma frota comum de aeronaves, incluindo os hidroaviões pesados como o Canadair (capacidade de descarga de 6 toneladas de água com retardante, a água não apaga o fogo, abafa-o). Proposta a que o governo português na altura não terá correspondido (certamente pela prudência do senhor ministro das finanças) uma vez que agora o senhor ministro fala em ida ao mercado. 

Ainda em 2022 não havia aeronaves de combate ao fogo nacionais na frota da UE:

https://onovo.pt/internacional/frota-aerea-de-combate-a-fogos-florestais-da-ue-ja-esta-de-prevencao-MB11239566

Provavelmente, o senhor ministro refere-se agora aos concursos da força aérea portuguesa para aquisição de 2 aviões de 3 toneladas úteis e de aluguer em 2023 de 2 aviões de 6 toneladas úteis (Canadair ou equivalente) e de aluguer em 2024 de 4 aviões de 6 toneladas úteis:

https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/dois-avioes-portugueses-ao-servico-da-ue-para-combater-incendios-entre-junho-e-outubro-16176693.html

Ter de ir ao mercado quando existe falha do mercado é inglório. Os teóricos classificam 3 tipos de falha do mercado: assimetria (o segredo é a alma do negócio), externalidades (o meu negócio prejudica terceiros) e escassez.

Logo havia de calhar a escassez aos meios aéreos.

E porquê? porque não se tratou do assunto quando atempadamente, isto é, o governo português ficou de fora do RescEU (setembro de 2019):

https://www.publico.pt/2019/09/23/politica/perguntaserespostas/resceu-1887493

Provavelmente haverá culpas no cartório também da UE, porque se há escassez no mercado dos aviões de combate ao fogo é também porque a procura foi pouca e os fabricantes, por exemplo do Canadair resolveram descontinuar a sua produção, até porque era necessário criar um novo modelo (entretanto terá sido lançado o modelo DHC-515:   https://dehavilland.com/en/news/posts/de-havilland-aircraft-of-canada-limited-launches-dhc-515-firefighter).

Nos países arautos do livre mercado, por exemplo USA e Austrália, foi deixado o combate aos incêndios à iniciativa privada. Foram desenvolvidas várias soluções através da adaptação de aviões pesados de passageiros, mas sobreveio uma série de acidentes. Possivelmente atualmente será mais utilizado o avião anfíbio Fire Boss de 3 toneladas úteis (https://airtractor.com/pt-br/aircraft/at-802f-fire-boss/ ).

Esperemos que melhore a coordenação do governo com a UE no âmbito do programa RescEU, que se confirme uma adesão à frota de utilização comum e a dotação de recursos à força aérea portuguesa, incluindo com fundos comunitários, como previsto no TFUE.



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