domingo, 7 de fevereiro de 2010

Economicómio XLII - A devassa dos rendimentos

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Não resisto a comentar a polémica da devassa dos rendimentos.
Vejo as virgens pudicas e os sacerdotes detentores da lei e da sua interpretação rasgando as vestes, que o direito romano está a ser traído com a inversão do ónus da prova. Que interessa mais combater a corrupção e a fuga aos impostos (por sinal até concordo com este combate, embora veja os soldados e os generais desta guerra mal armados ou iludidos).
Sinceramente parece-me que podemos pôr de lado as questões de inveja, mas que é inquestionável que temos aqui e nos países mais ricos, um grave problema de distorção da distribuição dos rendimentos, por maior que seja o mérito dos grandes gestores e empreendedores, dos fazedores de dinheiro e de riqueza.
Não posso considerar saudável um sistema económico que oferece uma indemnização de 34 milhões de euros, para sair, ao ex-CEO da Cadbury inglesa, depois de a ter vendido à concorrência americana.
Não tenho nada contra as lutas entre tubarões, que já Orson Wells filmou, mas tenho contra, que o reflexo das suas ondas atinja o meu país.
Não posso considerar saudável um sistema que oferece um prémio de gestão ao CEO da JPMorgan de 16 milhões de dólares porque o JPMorgan teve 11 600 milhões de dólares de lucro em 2009e já devolveu os 25 000 milhões das ajudas federais (para que o presidente Obama , que não se candidatou para satisfazer os caciques de Wall Street, cito, não o possa impedir de receber o bónus; défice dos USA: 16 000 000 milhões de dólares).
Confirma-se assim o que Michael Moore afirmou no seu filme, que as ajudas federais foram mesmo uma ajuda de amigos a amigos, que deixou de fora o povo norte-americano.
Não quero convencer ninguém a acabar com o sistema (cada um com as suas ideias, não é?), mas que devia ser corrigido, devia (salvo melhor opinião, até parece ser esta a opinião do presidente Obama).
Entretanto, como deve haver um mínimo de coerência, aqui vai a minha, e da minha consorte, declaração de rendimentos de 2008: rendimento global 118.731,04 euros que, depois de trabalhado pelas maravilhosas contas com deduções, retenções e abatimentos, deu um IRS pago no valor de 4.385,62 euros.
Foi um mês inteiro, mas não me queixo.
Queixo-me dos vivaços, dos espertos, dos que fogem, dos que não querem que a solução esteja nas escolas, para evitar a ignorância e o vandalismo, e no emprego, para evitar a criminalidade e o terrorismo ou, para ser mais claro, dos que não querem cumprir a declaração universal dos direitos do Homem. Está lá tudo escrito.
Há uns que querem, outros que não querem, e outros nem que sim que não.


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