sábado, 20 de fevereiro de 2010

O senhor Abílio


DESCRIÇÃO
O senhor Abílio terá sido um jovem com dificuldades em obedecer às regras dominantes.
Mas casou com uma rapariga, como se costuma dizer, trabalhadora.
Têm um filho que está a acabar o serviço militar nos Açores e não sabe onde encontrará emprego, mas que nos tempos livres vai fazendo serviço de segurança em discotecas, nos Açores.
Têm outro filho que também é segurança, sempre em termo incerto, nas empresas por aí, enquanto aguarda o serviço militar (não por ser obrigatório, mas porque sim).
Têm uma filha que quando pode trabalha numa cabeleireira no bairro. Digo quando pode porque tem a doença de Krone.
Todos foram alunos da minha mulher, que recorda o interesse com que a mãe ia à escola falar com os professores. Porém nem ela nem o senhor Abílio tinham estudado o suficiente para ajudar os filhos em casa. Daí o insucesso escolar.
E eu entro nesta história porque é ao senhor Abílio que compro flores para cumprir os rituais burgueses. Ele estaciona a carrinha, monta a banca no passeio e faz uns ramos de rosas muito bonitos.
Mas não conseguimos evitar, de cada vez que compro as rosas vermelhas, a doença da rapariga, e o quanto está a afetá-la psicologicamente o ter de usar fraldas. E o senhor Abílio, que nunca estudou literatura, a dizer que todos os dias perde mais um pouco da sua filha.

DESTAQUE
O que quero destacar é que temos aqui um casal que produz e contribui para o PIB, indo buscar ao produtor ou ao grande distribuidor as flores e as verduras. Compete com a multinacional que abriu uma loja na Avenida da Igreja em termos de diversidade e de serviços ao domicílio. Gasta dinheiro com a doença da filha que não tem a assistência que a doença exigiria. Não consegue resolver o problema do emprego dos filhos.
Será justo aparecerem uns fazedores de opinião a dizer que a culpa do país estar assim é de todos?
Perdão, mas os senhores gestores da coisa pública não estão a querer ver as coisas, pois não?


FECHO
O senhor Abílio e a mulher tratam de tudo o que diga respeito a flores e verduras e levam a casa (eu depois ponho o telemóvel para o caso de precisarem).

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