quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O orçamento de estado e um soneto de José Régio

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Com a devida vénia ao jornal gratuito Metro e ao blogue cavalinho selvagem,

http://cavalinhoselvagem.blogspot.com/2010/02/soneto-de-jose-regio.html


não resisto a reproduzir o soneto de José Régio, de 1969, sobre o qual, mutatis mutandis, poderemos fazer um estudo comparativo, tendo em atenção que os deputados de agora são eleitos em eleições livres.
Faço esta observação para recordar que os outros, os biltres (6 contos seriam agora 2.100 euros …), também eram eleitos, só que em eleições não livres, porque enganavam os eleitores com coisas do género de que a guerra era precisa.
E nas eleições de 1969 até houve fiscalização (na mesa da minha freguesia estava o ator Rogério Paulo) e contaram bem os votos que entraram nas urnas.
No meu concelho, votaram no partido em que eu votei 30.000 cidadãos. No partido do senhor doutor Mário Soares votaram 9.000, e no partido do senhor doutor Marcelo Caetano votaram 150.000.
Já faz uns anitos que me habituei a ser minoritário … dentro de certos limites.
E lá vou assistindo a alguma evolução, não pequena no caso do 25 de Abril de 1974, embora esta da novela do orçamento me esteja um bocado atravessada.
Ver em Janeiro de 2010 o senhor ministro das Finanças tão triste e tão surpreendido com a evolução negativa dos números…
Fiquei surpreendido com a surpresa dele. De que estava à espera? Até eu, que sou ignorante em economia, fiz uma pequena apresentação em Novembro de 2009 em que mostrei este pequeno quadro, dizendo que assim não podia ser:

• a energia primária (petróleo, carvão, gás, electricidade) importada por Portugal é cerca de 83% do total de energia primária consumida
• 20 % da energia eléctrica consumida é importada
• quase 80% dos alimentos são importados
• a quota da factura energética (7.000 milhões de euros) no defice da balança de pagamentos de Portugal é de 60% , sendo este defice de 11%
• a quota dos transportes na factura energética é superior a 40%



Mas vamos antes ao:

Soneto (quase inédito) de José Régio, escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos.

- Em memória de Aurélio Cunha Bengala

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.


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