domingo, 11 de outubro de 2009

Gestionarium VIII - As virgens púdicas do Ministério da Justiça

Segundo o DN de hoje, sucederam os seguintes factos:
1 – dois moços durante 6 meses andaram a “espiolhar” a rede dos servidores de uma empresa com sede na ilha de Hianan, na China, a Ghostnet;
2 – na referida rede encontraram ficheiros com informação relativa ao Ministério da Justiça, EDP, PT…, incluindo listas de passwords e emails de funcionários dessas entidades;
3 – os moços enviaram a informação para a Procuradoria Geral da Republica (o que me parece essencial) e para a Presidência da Republica (o que me parece dispensável)
4 – os moços mostraram alguns dos elementos ao DN;
5 - o Ministério da Justiça chamou levianos aos moços e diz que os vai processar ao abrigo da lei de protecção informática (será que vai também processar a Ghostnet?)

Falo nisto apenas para falar de conceitos de gestão.
Nós, portugueses, gostamos muito de cortinas e persianas fechadas nas janelas.
Nas empresas gostamos do segredinho das hierarquias.
É uma das principais razões das dificuldades de progresso nas empresas, por que inibe a circulação da informação.
As virgens pudicas do MJ ofenderam-se até mais não poderem e descarregaram a sua ira nos dois moços.
Até é possível que a lei permita a sua condenação, porque as leis normalmente são feitas por quem não tem experiencia de informática e frequentemente “traduz” mal (tradutore traditore) aquilo que lhe tentam explicar para fazer a lei (além de que é impossível prever todas as situações numa lei).
O signatário é um técnico desactualizado (não havia microprocessadores quando acabou o seu curso, nem sequer circuitos integrados COSMOS, mas destes ainda aprendeu alguma coisa durante a vida profissional) mas lembra-se de explicar na sua empresa, nos anos de brasa de 75, citando a sua passagem pela arma de Transmissões, que o modo telefónico não é um meio seguro de comunicação do ponto de vista da segurança das informações (apesar do construtor da primeira central telefónica automática, Strowger, ter pretendido ver-se livre dos mexericos que as operadoras telefónicas punham em circulação). E que se se quiser transmitir informação confidencial por linhas telefónicas terá de se encriptar a mensagem.
Também se retira desta história que o cofre forte e o armazenamento de informação em papiro (tecnologia do século XXV, antes de Cristo...) devem manter-se, apesar das conquistas informáticas que tanto impressionam os novos-ricos e os provincianos.

Enfim, temos de nos habituar à ideia de que os nossos segredos podem ser conhecidos por terceiros.
O que vale é que há terceiros civilizados que não alimentam os mexericos.
E quanto aos não civilizados, se tivermos razão, façamos como as virgens pudicas do MJ, processemos.

Mas que devemos apoiar o debate aberto e generalizado nas empresas como meio de progresso da empresa, sem segredinhos de hierarquias, sim, devemos.
E para isso, até a informática nos ajuda.
Então aproveitemos essa informática.

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