Senhora ministra.
Não me quero comparar a si nem dar-lhe conselhos.
E se falo assim é porque não tenho certezas devido à idade que tenho, que nisso estou de acordo com Saramago quando diz que ter dúvidas é o privilégio de quem viveu muito.
Baralham-se-me as ideias quando leio agora, na maior parte da imprensa, que a sua antecessora deixou obra muito positiva, e me lembro de ver a minha mulher a chorar com algumas das suas decisões (suas da antecessora).
Talvez, continuando o tema das dúvidas e de não acreditar no que vejo, que o que vejo aqui era a minha mulher a fazer testes diferentes uns dos outros para dificultar a cópia durante o teste e já eram duas da manhã, que aqueles escribas laudativos da sua antecessora tivessem razão e que os 40.000 professores (30%? 40%, cito de cor) que se reformaram em antecipação e com penalizações eram uns oportunistas que trabalhavam menos que qualquer professor da Estónia ou da Finlandia.
Não me quero comparar, mas se na empresa em que trabalho, uma percentagem dessas me desaparecesse de repente eu gritava ao economista chefe que fosse poupar para longe.
Mas eu sou um técnico insípido, sem sensibilidade artística que apenas reflecte na correlação entre o abaixamento do nível do ensino quando se perdem tantos profissionais (ah! É verdade, como já sou um técnico idoso já estou ultrapassado e de nada me vale a experiencia de vida perante o levante imparável das novas tecnologias, que eu aliás utilizo; por que não haveria de utilizá-las que nunca me neguei a socorrer-me de ferramentas?), a desgraça do abandono escolar que não se consegue mascarar com estatísticas (será verdade, eu que de tudo duvido, que um estudo independente detectou 8 vezes mais de abandono escolar do que as estatísticas oficiais, e eu, que já disse que duvido, até pensava que era mais que 8) e a criminalidade emergente 5 anos depois (falo da correlação porque me mantenho na dúvida, porque os jovens talvez achem que não é correlação, que é causa e efeito).
E como técnico insípido, cheio de dúvidas, habituado a separar claramente os técnicos dos gestores, porque cheio de dúvidas que um gestor que não percebe nada das técnicas de abordagem aos problemas possa ser um bom técnico e que um técnico que tropeça nas artimanhas burocrático-economistas possa ser um bom gestor, pego com a devida vénia na sugestão de Miguel Real (Um certo olhar – Antena 2 - 25 de Outubro de 2009) e que a senhora ministra, assim que puder, escreva “Uma aventura na 5 de Outubro”.
Eu sei que a senhora ministra não vai precisar, como costuma fazer quando preparam um “Uma aventura…” de conhecedores das questões da educação porque já é uma conhecedora.
Mas, sem querer arvorar-me em bom exemplo, como vivo atormentado por dúvidas, sempre que desenvolvo um trabalho técnico, peço a opinião de colegas que pensam de maneira diferente da minha, ou, pelo menos, abordam de maneira diferente os problemas. Método referendário que a comunidade científica segue e que as normas de controle de qualidade das empresas obligent.
Ou talvez seja mesmo preciso pedir o apoio de especialistas em burocracia económica, para que a senhora ministra fique de sobreaviso contra os burocratas e para que a aridez das regras orçamentais e da gestão corrente não invalide a aventura, isto é, que o abandono escolar seja derrotado.
Mas para isso não a posso ajudar, eu que nada sei de economia nem consta que tenha qualquer poder de decisão ou de influência.
Votos dos melhores êxitos.
PS - Diz-me uma professora que já meteu os papeis para a reforma que foram 70.000 no último ano. Cerca de 50% da força de trabalho. Que desgraça, do ponto de vista de gestão empresarial. Que sucesso, do ponto de vista de gestão de tesouraria...
Sem comentários:
Enviar um comentário