Pensei comentar as 4 mortes na estrada no dia 21 de Outubro de 2009, numa altura em que o número de mortes nas estradas já tinha ultrapassado neste ano o número de mortes no mesmo período. Entretanto verificaram-se 6 mortes no dia 23.
Estamos de facto numa situação grave, contrariando o anterior optimismo dos responsáveis.
Não pode continuar a ficar por fazer uma análise de cada acidente e a rápida divulgação das suas causas e circunstâncias (porque se despistou a carrinha de Penafiel com as 7 moças?)
Quando é que os decisores, agarrados às suas estatísticas, compreenderão isto?
Vendeu-se a ideia de que os automóveis agora são mais seguros, assim como as auto-estradas vieram diminuir a sinistralidade.
É perigoso alimentar estas ideias feitas.
Nalguns aspectos os automóveis são mais seguros. Noutros não.
O conforto actual ilude e pode levar o condutor. Sub-liminarmente, a julgar que a condução é um jogo de computador e a subestimar a velocidade real.
Os sistemas electrónicos de ajuda à travagem, à estabilidade e à correcção de trajectória podem, nalgumas circunstâncias, conduzir directamente ao acidente (é o eterno problema dos sensores que alimentam directamente os automatismos sem intervenção humana).
As auto-estradas criaram a ideia feita de que é seguro viajar a altas velocidades.
Bastou chover mais e os acidentes surgiram como cogumelos à chuva.
Atenção a que não deve ter havido aumento de tráfego, porque as estatísticas de vendas de combustível até acusam um ligeiríssimo decréscimo (0,1%).
Logo, para além de ter de se actuar sobre os condutores divulgando as técnicas de condução defensiva e económica e o conhecimento do código, haverá que implementar a referida análise de cada acidente.
Claro que não há técnicos que cheguem nem dinheiro no orçamento para isso, e possivelmente teríamos uma corrida ao tráfico de influências para gabinetes de consultores prestarem esse serviços ao ministério da administração interna para absorver o pouco dinheiro que fosse votado.
Também não seria mau estender a instalação de equipamentos de multa automática por excesso de velocidade e insistir em campanhas de esclarecimento sobre o código da estrada (não chegou a implementar-se um sistema de pontos?).
Poderia ainda ser útil recuperar a extinta Brigada de transito da GNR, mas não deve haver humildade dos decisores que chegue a tanto.
Entretanto, um grupo de técnicos já há uns anos que anda empenhado no OSEC – Observatório de segurança das estradas e cidades. E chama a atenção para o problema do “aqua planning” (hidro planagem). Muitas das estradas e auto-estradas padecem de dificuldades de drenagem (chegam a formar-se linhas de água com mais de 100 m , o que é grave, muito grave).
O acidente pode ocorrer mesmo em velocidades baixas se a camada de água for significativa (maior que meio milímetro) e houver uma velocidade excessiva ou variação excessiva da velocidade da periferia das rodas relativamente à superfície da camada de água (não é preciso ir muito depressa, basta travar, ou mudar de velocidade ou de direcção de forma mais brusca para se perder a aderência).
No caso de travagem sobre camada de água, assume especial risco o caso dos carros de potencia com tracção atrás. Os seus vendedores deviam fornecer gratuitamente cursos de condução em condições atmosféricas adversas. Quando um carro de tracção atrás abranda sobre uma camada de água, a inércia faz “afocinhar” o carro e levantar a traseira, diminuindo o contacto das rodas motrizes com o solo e contribuindo para a perda de aderência.
Se o ministério quer acabar com as mortes na estrada ainda tem muito que fazer. Mas não vejo humildade para se informar.
É pena, ficarmos dependentes apenas das melhorias de segurança introduzidas pelos fabricantes de automóveis, e de eventual consciencialização do código da estrada pelos utilizadores da estrada.
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