segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Caim, ou o suicídio da humanidade
Lilith (1892 E.C.), em gravura de John Collier.
Já li o Caim. Ter menos de 180 páginas ajuda.
É um resumo picaresco (no sentido das aventuras do anti-heroi não obedecerem aos conceitos lógicos de tempo e lugar) dos principais episódios da Biblia.
Bem escrito e muito bem imaginado.
Para mim o mais importante é o romance de Lilith, um mito mesopotâmico que os censores hebreus não quiseram que ficasse na Bíblia porque Lilith era uma deusa babilónia, fonte dos prazeres vampirescos e da libertação feminina. Coisa francamente desagradável aos sacerdotes judaico-cristãos-islamicos da comum tradição abraânica.
Ficou-me um sabor a pouco porque me pareceu que a ideia de Saramago, de transformar Caim no representante da humanidade, não é desenvolvida e morre porque Caim comete o suicídio da humanidade ao matar todos os seres humanos da arca de Noé.
Por isso a história da humanidade acaba no fim do livro.
É contraditório com o próprio Saramago, quando diz que o homem é mais misericordioso do que deus, a ponto de pôr Caim a segurar o braço de Abraão quando ia matar o filho Isaac.
Enfim, o livro acaba deixando a hipótese , contraditória com o fim da humanidade, de que a discussão entre os dois grandes assassinos, o deus assassino das crianças de Sodoma, e Caim, que somos todos nós (é, atentados no Iraque, no Afeganistão, fratricídio Israel-Palestina, camorra, violência doméstica, assaltos…é, a espécie humana é um catálogo de assassínios…apesar da Declaração Universal dos Direitos do Homem), é eterna.
Assim como assim, pode ser que a Bíblia seja como aquela história do Jô Soares. Só contaram pra você (para os eleitos e escolhidos do senhor, como diz a Bíblia, dentro do numerus clausus do quadrado de 12 e do quadrado do quadrado de 12), mas a vida existe e continua fora do grupo dos eleitos, entre as pessoas comuns que não foram chamadas nem escolhidas, e que são a humanidade.
Porém, como diria Cesário Verde, o supremo encanto, além da liberdade que cada um tem de interpretar o final do livro como bem entender, ou de imaginar a sua continuação, é de facto Lilith.
Vejam em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lilith
donde retirei a ilustração.
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