quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Educação V – o “ranking”

O DN mandou um fotógrafo à escola melhor classificada no “ranking”.
As alunas do colégio Mira Rio deixam-se fotografar nos seus uniformes, e declaram: “Somos a melhor escola porque os nossos professores nos ensinam a sermos as melhores em tudo”.
Temos aqui mulheres competitivas para o futuro, que não aceitarão segundos lugares.
Já dizia a castelhana segunda filha do Medina Sidónia: antes rainha em Lisboa por pouco tempo do que duquesa em Madrid toda a vida.
Coitado do marido, D.João IV, tão dado à música, ter de aturar uma megera destas toda a vida…
Pois daí o DN saltou para a escola pública D.Maria que o ano passado tinha ficado muito bem classificada e este não.
E a directora (ou presidente do conselho executivo, ainda não sei) explicou: sabe, saíram 42 dos 100 professores, a maioria por reforma antecipada porque não estiveram para aturar os disparates da ministra. É natural que os resultados tenham piorado.
Este exemplo não demontra, mas mostra o que se passou neste país com a ministra da Educação de quem o Presidente da Republica disse para a deixarem trabalhar: os professores responsáveis pelos bons resultados de uma escola esgotaram a sua paciência e a escola ficou privada de bons profissionais. Os resultados estão à vista, se bem que as estatísticas possam ser falaciosas (ainda há bem pouco tempo um estudo independente revelou que os números de abandono escolar revelados pela ministra eram um oitavo da realidade estudada – pobre de um subordinado meu que me enganasse dessa maneira, que me informasse que o indicador era um oitavo da realidade).
Eu há anos que já tinha divulgado este fenómeno, porque a minha mulher, que não é propriamente uma Luisa de Guzman, e a irmã, que também não o é, fizeram o mesmo que aqueles 42% (devo esclarecer que há uma penalização, mas a penalização vale menos do que a sensação de impotência de quem se mantém na vida activa perante os disparates da ministra).
Mas ninguém liga, claro.
É estranho, num país em que o ministro do ensino superior tem resolvido problemas e tem o apoio dos professores… haver uma incongruência assim.
Aplicando um critério qualquer de gestão de empresas a saída de 42 bons profissionais, substituídos parcialmente por professores sem experiencia (possivelmente manobrando melhor o Magalhães), provocaria medidas interventivas, quanto mais não fosse para evitar que daqui a 5 anos a criminalidade devida ao abandono escolar suba e que daqui a 10 anos o nível intelectual dos portugueses médios soçobre (porque o nível daquelas meninas de condomínio do Mira Rio certamente que estará acima da média).
Mas não, a orientação de voto dos portugueses e a política de Educação do seu governo não coincide com o que eu penso, ao analisar a realidade.
Pronto, não há coincidência, mas devia falar-se mais nisto, devia fazer-se inquéritos para fazer o seguimento do percurso escolar dos meninos e meninas, tentar estabelecer correlações entre o ranking das escolas por onde andaram e o seu sucesso na universidade .
Provavelmente concluindo que os universitários de sucesso também vêm de escolas mal classificadas no ranking, o que significaria que estamos a perder energias para fazer o ranking.
Mas tudo isto parece não interessar, não ter interesse mediático.
Deixemos essas coisas para as teses de mestrado.
E deixemos que por todo o lado se façam estatísticas muito bem feitas a justificar os sucessos das decisões dos decisores. Assim como assim, as reforma antecipada dos 42% libertou as escolas (e analogamente, as empresas) de vozes incómodas para os decisores. E as meninas do Mira Rio saberão assumir o poder, porque não deixarão que ninguém lhes passe à frente.
Que tempos… que pena que eu tenho que as pessoas não leiam Elinor Ostrom…
Ah!, é verdade, por que chamei pobre a quem me apresentasse um indicador afastado 7/8 da realidade: nada de especial, apenas ficava escrito e divulgado que o senhor tinha má vontade para trabalhar e que fazia disparates. Apenas isso.

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