domingo, 30 de setembro de 2012

Manifestação em 29 de setembro de 2012


                                                                                       com a devida vénia à SIC; imagem já depois da manifestação

Sem querer invocar a estética neo-realista subsequente à segunda guerra mundial, e sem querer destacar quaisquer argumentos ou propostas alternativas, que já começam a ser publicamente debatidas, quero deixar registada uma entrevista que a repórter da SIC fez a uma cidadã. Esta senhora tem 40 anos e dois filhos e o marido teve de emigrar. Depois de ter explicado tudo isto à reporter, a senhora disse: “Não se faz”.

As grandes audiências gostam de se comover com telenovelas, ou de se entreter com os “reality shows”.
Parecerá que esta realidade está mais próxima.
Na verdade, depois da evolução da humanidade e dos progressos técnicos que possibilitam uma vida melhor, é um sinal de fracasso dos sistemas de organização das sociedades a separação forçada de uma mulher jovem do seu marido.
O muro de Berlim era uma aberração, estamos de acordo; mas como caiu há mais de 20 anos, estamos de acordo também que o problema é outro?
A desigualdade crescente entre as pessoas, o querer aproveitar os tais progressos técnicos para que apenas uma pequena percentagem possa ter os seus empregos ou as suas atividades rentáveis, enquanto a maioria da população vai perdendo o acesso à saúde, à educação e às prestações sociais (os três gastadores que os ultraneoliberais querem reduzir à ínfima espécie) não são a caraterística de um período de recessão a que se seguirá um período de crescimento e de melhor redistribuição dos rendimentos.
São a essência de uma ideologia: reduzir o valor do fator trabalho, para melhor o controlar e para mais facilmente desviar o rendimento para o fator capital.
Nem devia ser preciso fazer manifestações para explicar isto.
Bastava ouvir o discurso de Cristine Lagarde em Tokio, em 7 de Julho de 2012: os bancos devem limitar-se a desempenhar a sua função de bancos.
Ou as suas afirmações mais recentes, que medidas restritivas de austeridade são insuficientes para relançar a economia (coisa tão óbvia) e que o sistema financeiro ainda não está bem, que precisa de ser mais transparente e menos complexo.
Ou o que disse Ilídio Pinho, antigo patrão do atual primeiro ministro, referindo-se à orientação do governo para os portugueses trabalharem mais com menos: “Não se faz”.

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