segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Manifestações de 15 de setembro de 2012


Já há mais de um ano que foi publicado em Portugal o livrinho “Indignez-vous”, de Stephan Hessel, contra o ataque ao estado social  ( ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=indignez-vous  ).

A manifestação de 12 de Março de 2011, pela sua associação à internet e à capacidade de mobilização fora das estruturas partidárias, já tinha sido muito interessante  ( ver:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/03/o-discurso-do-presidente-e-manif.html  ).
As manifestações de dia 15 de Setembro de 2012 continuaram este movimento de massas.
Seria bom demais se ganhasse consistência e se da sabedoria das multidões saíssem formas de organização que convivessem com os partidos políticos e que pudessem influenciar a tomada de decisões.
Mas seria uma forma de democracia popular, de participação no estudo e decisão de medidas políticas e económicas que, embora prevista na constituição da republica portuguesa, (art.48º.1 : todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direção dos assuntos públicos do país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos”), a grande maioria dos senhores engravatados que desempenha cargos políticos neste país recusaria.
Duvido que os partidos tenham percebido bem a manifestação de dia 15 de Setembro e queiram alterar a sua perspetiva de monopolização da ação politica.
Que queiram apenas colaborar com a sabedoria das multidões, com a revolução sem lideres (cito nomes de livros já citados neste blogue).





É uma sensação agradável poder entrar numa manifestação sem estar à procura de um grupo ou de uma associação que o represente, tudo muito bem organizado e integrado num programa único; entrar simplesmente, como manifestante.
Não é o elogio da espontaneidade.
A ciência da gestão já evoluiu o suficiente para se ver que a gestão da coisa pública, e das coisas de qualquer empresa não devem depender de estruturas hierárquicas rígidas.
Graças à teleinformática, a descentralização é agora possível.
Manuel Alegre exprimiu bem a situação: os manifestantes perderam a confiança nos partidos políticos, mas não sei se para alem da auto-crítica terá coragem para reconhecer que os partidos não devem ter o monopólio da ação politica.
Mas talvez a pressão popular se mantenha.
E que o INE passe a trabalhar para dar cumprimento ao nº2 do artigo 48º da constituição da república portuguesa: “todos os cidadãos têm o direito de ser esclarecidos objetivamente sobre atos do estado e demais entidades públicas e de ser informados pelo governo e outras autoridades acerca da gestão dos assuntos públicos."
Para que se pudesse partir de dados concretos, não diluídos na retórica sofista do senhor primeiro ministro ou na retórica de fé em receitas independentemente dos resultados reais, do senhor ministro das finanças.
Porque é da análise de dados reais e do seu tratamento e debate que podem sair medidas suscetíveis de serem sentidas pela maioria. Por exemplo: a manifestação protestava contra o deslocamento dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital. As contas são relativamente fáceis de fazer para a triste proposta de aumentar a contribuição para TSU de 7% para o trabalho e de reduzir 5,75% para o capital.
Mas interessava saber como está a situação em todo o país, que percentagem do rendimento vai para o trabalho e que percentagem vai para o capital, que destino por tipo de consumo têm tido os dinheiros do empréstimo da troika? que medidas protecionistas contra as importações se poderiam negociar com a troika em função dos valores reais das importações, das exportações e da sua evolução? (não ao sofisma do senhor primeiro ministro, que se está a anular o défice externo; não, graças à falta de dinheiro para importar, e ao aumento das exportações de automóveis da auto-europa, de gasolina refinada da GALP e de ouro vendido ao exterior, a taxa de crescimento do endividamento externo está a diminuir, se não contabilizarmos os juros dos empréstimos e as comissões).
Qual a composição por tipo de atividade da dívida privada (e também da pública, claro)?
E afinal as PPP e os desperdícios da despesa do estado, que dados concretos existem, que só se fala mas não se dão valores concretos ? (na verdade, que preparação científica tem quem diz que resolve um problema de equilíbrio orçamental com 1/3 de aumento de receita pública, enganando-se rotundamente - e não foram os 700 milhões de euros de automóveis importados a menos que justifica o falanço; considerar a lei de Laffer, por exemplo, muito falada antes do disparate da subida o IVA – e com 2/3 de redução da despesa pública, sem ter dados concretos para basear a repartição?).
É que a expressão da indignação popular deve ser complementada rapidamente com informação concreta, para se seguir a fase de tomada de decisão (que será feito daquel grupo ligado à universidade de Coimbra que se propunha auditar de forma completa as dívidas pública e privada?).
É assim que fazem os acionistas para controlar as suas empresas. Analisam os indicadores característicos e a sua evolução, como será o caso, na coisa pública, do coeficiente das desigualdades de Gini, dos indicadores da saúde, da educação e da proteção social (ah, sim, as principais despesas; mas não o deviam ser?) para além das taxas de evolução do endividamento, do défice, do PIB, claro, claro.
Podia ser que, num país em que o montante de deósitos é de 132 mil milhões de euros (comprometidos evidentemente em contratos de depósito ou obrigações, mas tudo é negociável) se arranjasse maneira de reunir 66 mil milhões de euros para agradecer à troika e fiquem lá com o vosso dinheiro e digam aos vossos diletos amigos germânicos que nao se preocupem connosco que não será por nossa cusa que a sua própria dívida começa a subir com força.
Mas será difícil que os partidos, os senhores conselheiros de estado, os senhores provedores, os senhores juízes conselheiros, os senhores comentadores, os senhores doutores constitucionalistas, concordem comigo.
Era um perigo, se, como respondeu Lenine a um opositor bem pensante, se estivesse a trabalhar para que a senhora da limpeza pudesse participar diretamente numa tomada de decisão com o mesmo peso do senhor bem pensante, em lugar de se limitar a votar num representante distante. E quando Lenine disse isso, ainda não havia o suporte científico de que as técnicas de gestão de hoje dispõem para fundamentarem a descentralização dos processos de tomada de decisão.

Mas pode ser que a pressão popular se mantenha e não apareçam líderes a quererem salvar o país..

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