quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A orquestra XXI e Pedro Sena Lino



Tive muita pena de não ter assistido aos concertos da orquestra XXI.
Diz quem assistiu que o som da orquestra foi muito bom.
Que a soprano Susana Gaspar também, embora ainda não tenha atingido o apogeu da sua carreira.
A orquestra XXI é composta por jovens músicos portugueses que trabalham na sua profissão em grandes orquestras estrangeiras.
Reuniram-se em Portugal verão e com meia dúzia de ensaios produziram um espetaculo de elevado nível.
O senhor ex-ministro Relvas diria que nos devíamos orgulhar. Mas eu tenho pena.
Estes jovens descontam para as pensões dos reformados dos paises em que vivem, não para os reformados portugueses.
Eu contribui com os meus impostos para os cursos que tiraram em Portugal (alem de uns empréstimos externos que até 2005 não subiram a divida alem dos 60% decentes). Agora, é mais um setor de atividade, e ligado à cultura (gerador de riqueza, segundo alguns economistas, pelo que não devia ser estrangulado), em que tenho de ouvir os senhores governantes dizerem que há um défice demográfico e que a segurança social não é sustentável.
Com o PIB a decrescer e a emigração a subir não é, claro.
Que será preciso acontecer para os senhores do governo se convencerem que têm de fazer o PIB crescer? (o QREN é um dos meios…mas era preciso que os decisores e os seus conselheiros soubessem onde investir).
Falo nisto também porque acabo de ouvir na Antena 2 um poema de Pedro Sena Lino, professor de literatura portuguesa a viver em Berlim.
Um jovem de menos de 40 anos, também emigrado, depois da sua empresa de iniciativas culturais ter falhado em Portugal.
Escreve bem.
Trata a cidade de Berlim como uma mulher, ou terá usado a cidade e o seu anjo como pretexto para falar da sua paixão.
Quando poderá escrever em Portugal?
Quando teremos finalmente em toda a Europa a taxa Tobin? Quando uma empresa portuguesa com os pagamentos em dia terá acesso a empréstimos para investimento em bens transacionáveis à mesma taxa de juro de uma empresa alemã?
Quando os grupos financeiros e bancários deixarão de ter força para impor cortes aos pensionistas que auferem menos de 600 euros por mês?
Quando finalmente se poderá rever o tratado de Lisboa para que os Estados possam contrair divida junto do BCE e não junto de bancos intermediários usurários?
Quando passarão a pagar IMI a Igreja e os grandes grupos imobiliários?
Quando deixará de se utilizar o estratagema de transferir divida externa privada para divida publica?

Nollendorf platz, Berlin love song é para ti, cidade, no teu anjo

como uma ruína morre e se torna vida.
foi isto, tu comigo, nós.
não páras de te criar, cidade velha e nova, noiva.
nunca chego suficientemente à tua boca,
nunca te tomo todos os lábios de pedra.
começas no fim, inventas um rio, guardas o sol num quadro.
queres amantes insones, que desfaçam as palavras todas contra o teu corpo.
queres o seu fluído limpo, catedral, desejo absoluto.
queres a fome dos loucos, que gera toda a gramática do futuro.
mas dobro-te as pernas com o meu amor, tomo-te os lugares onde nunca foste amada, bebida, desdobrada.
dou-te o meu coração de sangue, se o quiseres - faz com ele uma esquina onde nunca mais um abraço de pedra e carne termine.
não te tenho nunca, e é por essa sede que me procuras, ruas.
pontes onde nunca mais haja um muro que não seja invisível, arco.
como são escadas as tuas águas, ó sempre grávida do futuro.
não páras de me criar, luta, amante.
queres-me sempre mais além do que eu imagino ser eu.
tão simples na tua natureza nua de milagre.
nas tuas ruas corre o meu sangue, nunca suficiente.
só tu o bebes e ardes, música de água.
sei que nunca vamos chegar um ao outro.
é por isso que quero que morramos juntos - dois tempos sobrepostos, como as galáxias amam.

2 comentários:

  1. Agradeço a sua nota e a sua leitura. Mas queria notar que a minha empresa de actividades culturais é uma associação e que não falhou - pelo contrário, continua em funcionamento. Obrigado, Pedro Sena-Lino

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    1. Obrigado pelo esclarecimento. Fico contente por saber que a associação continua.

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