sábado, 28 de setembro de 2013

Voltando ao tema dos incêndios: a metáfora de “Eu pensava que era com água que se apagavam fogos”


No programa Olhos nos Olhos de Judite de Sousa e Medina Carreira dedicado aos incêndios e à prevenção florestal, este ultimo teve um desabafo curioso quando o técnico florestal criticou que nas reportagens televisivas se viam mais mangueiras do que máquinas de arrasto : “Eu pensava que era com água que se apagavam os fogos” .
O técnico pretendia destacar a importância do trabalho de prevenção dos GIPS/GNR, mas a afirmação de Medina Carreira pode também ser utilizada como uma metáfora.
Economistas como ele têm capacidade para diagnosticar situações que conduzem à catástrofe da economia, mas revelam desconhecimento sobre o funcionamento das coisas, e como as coisas podem funcionar para evitar as catástrofes.
Como já foi tratado neste blogue, a cultura económico-financeira tem muita dificuldade em apreender a cultura físico-matemática.
É extremamente grave afirmar-se na televisão que se pensava que era com água que se apagam fogos.
Não culpo quem o diz, o que digo é que revela o falhanço generalizado da educação da população numa cultura de segurança.
O melhor exemplo é imaginar o deflagrar de um incêndio num posto de abastecimento de gasolina.
Devia estar automatizado no cérebro de todos que o inicio de um incêndio desses não se apaga com água.
Apaga-se por abafamento (ou com extintor de espuma não de água, ou abafando o incêndio com um cobertor).
Esta a razão por que se vê na televisão grupos de pessoas armados com ramos de arbustos a tentar conter os fogos, abafando com eles as chamas por falta de oxigénio comburente.
O incêndio desenvolve-se com:
- combustível (madeira, resina dos pinheiros, palha),
- comburente (o oxigénio do ar ou do vapor de água que pode vir da própria água das mangueiras )
- calor (associado à ultrapassagem da temperatura de ignição).
A ideia dos contrafogos (tática extremamente perigosa provavelmente responsável pela morte dos 8 bombeiros e do presidente de junta) pretende diminuir a carga combustível do incêndio principal.
Os ramos de arbustos sobre a base das chamas e as 5 toneladas de água despejadas pelos Canadair, pretendem “abafar” as chamas por falta de comburente .
A água das mangueiras pretende apenas “resfriar” o terceiro elemento do incêndio, de modo a que a temperatura seja inferior à da ignição (obviamente que em incêndios de grande dimensão, fortemente atiçados por vento forte e pelas correntes ascensionais em encostas, isto é, com fornecimento em doses massivas  de comburente, a temperatura é tão elevada que o que as mangueiras estão a fazer é fornecer mais comburente).

Enfim, está estabelecida a discussão sobre o desastre dos incêndios , entre algumas entidades de bombeiros, os GIPS/GNR e os técnicos florestais, vindo ao de cima a incompetência técnica do ministério da administração interna para lidar com o problema.

Esta também pode ser outra metáfora sobre os malefícios que a ignorância dos decisores governamentais em questões técnicas vem causando a todo ao país, sem com isto querer isentar o governo anterior nalgumas dessas questões técnicas, nomeadamente das áreas educacionais, culturais e de transportes.  

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