terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Um conto tenebroso, a sinistralidade rodoviária

resumo: 
a campanha publicitária para redução da sinistralidade rodoviária seria provavelmente mais eficaz se apresentasse comportamentos corretos a imitar, em vez de apresentar imagens chocantes que "só acontecem aos outros"



Passa um anuncio na TV promovido pela autoridade da  segurança rodoviária que choca pela crueza das imagens.
A ideia é mostrar as consequências de uma condução imprudente, nomeadamente a não adaptação da velocidade ás condições ambientais, na esperança de levar as pessoas a evitar os comportamentos de risco.
Pessoalmente, chocou-me o que me parece uma abordagem errada.
A reação da  maioria das pessoas poderá ser a de que coisas tão horrorosas só acontecem aos outros; comover-se-ão com a desgraça dos outros e por razões de auto-estima e auto-confiança, manterão os seus comportamentos.
Isto é, se analiso bem, o anúncio é inútil.
Penso que uma publicidade televisiva com o objetivo de promover um comportamento mais correto só poderá funcionar pela positiva, apresentando exemplos desse comportamento e esperando que por imitação ele seja seguido.
Recordo um exemplo da televisão espanhola focando a condução em autoestrada á aproximação da zona de portagens. Ao ver o sinal de portagem próxima, vê-se o condutor a levantar o pé do acelerador e a aconchegar o pedal de travão.
Por cá, o que me acontece é, à aproximação do canal da via verde, normalmente colocado à esquerda, ao reduzir a velocidade de acordo com a sinalização lateral, ser ultrapassado por um condutor sem via verde que depois se atravessa á minha frente para passar pelo canal normal.
Recordo ainda uma campanha que passou na televisão portuguesa, em que se via a paragem do automobilista para deixar passar os peões na passadeira. O aspeto cortês do anuncio induzia a reprodução desse comportamento na vida real.

Reapresento o post de abril de 2013 neste blogue sobre a sinistralidade rodoviária: 

Retomo os números da operação da GNR no período de 23 a 28, inclusivé, de dezembro de 2014, em comparação com 2013 em igual período:

                 nº de mortos        nºde feridos   nºde acidentes      nºestimado de
                                              graves                                      mortos a 30 dias

2013                  5                        20                   1308                       7

2014                 14                       18                     935                      19


As hipóteses que podem colocar-se não serão conclusivas porque não se fazem inquéritos exaustivos aos acidentes (ou pelo menos não são divulgados os resultados, com a análise das causas e circunstancias dos acidentes e com recomendações para reduzir a probabilidade da sua ocorrencia), mas talvez possa dizer-se que a redução do preço dos combustíveis estimulou o tráfego, que embora tenha havido menos acidentes o número de mortos mais elevado poderá estar ligado á velocidade excessiva, e que velocidade excessiva existe sempre que a condução não se adequa às condições ambientais ou de clima (chuva, nevoeiro, fumos, poeiras) e do estado do pavimento e condições de aderência.
Mas é gritante a ausência de relatórios conclusivos sobre os acidentes que se vão verificando.
Seria muito mais eficaz do que a passagem de anúncios de imagens chocantes. E a insistência no conceito de velocidade excessiva e na correlação entre velocidade e sinistralidade. Segundo os dados da ANSR, autoridade nacional de segurança rodoviária, essa correlação traduz-se por uma redução de 5% na velocidade média de circulação corresponde a uma diminuição estatística de 30% no número de acidentes mortais.

Considerando os dados da ANSR relativos aos mortos a 30 dias em janeiro e fevereiro de 2014 (contabilizando as mortes no local do acidente e as que se verificam como consequência nos 30 dias seguintes), ver em:

temos:

nº total de mortos em acidentes
em janeiro e fevereiro de 2014:                           90   (em 2013: 106)

sendo:

1)     25 por atropelamento
27 por colisão
38 por despiste

2)     54 condutores
10 passageiros
26 peões

3)    15 em autoestradas                          (em 2013:    3)
30 em estradas fora de localidades  (em 2013:  49)
45 em arruamentos e estradas
     dentro de localidades                  (em 2013:   54)    

Notar a gravidade dos acidentes mortais nas povoações e o peso dos peões e atropelamentos
O número de despistes evidencia o fator velocidade excessiva (45 km/h pode ser excessivo se as condições de visibilidade ou de aderência forem más). A sinistralidade nas autoestradas, aparentemente menor do que nas estradas, deve ser reduzida porque a gravidade dos acidentes, quando se verificam, parece ser maior.

Conclusão: apesar das melhorias que se vêm verificando, ainda há muito a fazer para reduzir a sinistralidade, e as campanhas publicitárias para isso deverão insistir na redução da velocidade (o automóvel não deve servir de compensação freudiana nem de manifestação de superioridade ou perícia de condução), na prevalência de comportamentos corteses e na prudencia na condução. É essencial a realização de inquéritos aos acidentes e divulgação das recomendações.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

55 anos de metropolitano

29 de dezembro, aniversário do metropolitano de Lisboa.
55 anos de circulação.
Votos de felicidades para os seus atuais trabalhadores, e para os antigos, que não sejam ofendidos por quem não quer reconhecer o seu trabalho e os acusa de serem uns privilegiados.
Recordo o filme de Artur Agostinho, em que ele explica para que servem os metropolitanos, para poupar no consumo e importação de combustíveis fósseis:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2011/03/o-filme-do-metropolitano-com-artur.html

Pena os hierarcas do nosso país não compreenderem as palavras simples de Artur Agostinho, que é uma questão de eficiência energética, simplesmente.
Que justificaria a candidatura aos fundos comunitários, cujo prazo de apresentação termina em 26 de fevereiro próximo futuro.
Pena, os contabilistas que tomam decisões não perceberem isso.


O share da TV - Don Giovanni

Reparo que na secção de espetáculos e TV do jornal a notícia é que no dia anterior, 27 de dezembro, sábado, a audiencia da RTP2 foi de cerca de 1,1% , a pior do ano.
Reparei porque nesse dia tinha assistido à retransmissão do Don Giovanni, gravado em 2006 na inauguração do teatro das figuras de Faro. Cantores portugueses, à exceção do protagonista, Nicola Bau.
E tinha-me parecido um espetáculo de qualidade elevada, digno de figurar na programação do canal Mezzo, por exemplo.
Pois terá sido o dia de pior audiencia do canal RTP2.
Não vou culpar o público. Há anos, quando o São Carlos levava a ópera ao Coliseu, ele enchia-se. E hoje também se voltasse a haver ópera no Coliseu.
Também me recordo, sempre que se fala de cultura, da resposta de uma senhora, do povo, como se costuma dizer, que assistia à gravação de um "reality show" e dizia alegremente para a entrevistadora: "Sei muito bem que isto não é cultura, mas é disto que gostamos e estou muito contente por estar aqui a assistir".
É a diferença entre as senhoras do povo e os hierarcas que no governo ou nas instituições tomam decisões ou as boicotam.
As senhoras do povo sabem o que é cultura, os hierarcas terão aprendido a não saber o que é a cultura.
Ou simplesmente, a avaliar pelo comportamento dos senhores presidente da República, primeiro ministro e ministra das finanças, serão culturalmente extremamente limitados.
Por isso imagino Mozart e o seu libretista da Ponte a projetar na sua personagem D.João as psicopatologias dos detentores do poder. D.João diz claramente que não suporta oposição e não admite réplicas. Ilude o povo que se arma para o castigar.Subordina todos à sua vontade.
Ora é sabido, depois de Freud, que a necessidade de D.João se afirmar como conquistador (do governo se afirmar como triunfador na sua estratégia política) deriva da sua impotência de se realizar humanamente (do governo conseguir investimento e emprego).
Por isso o vejo como uma metáfora do imobilismo e da incapacidade do atual governo de investir nas coisas certas, recuando quando se trata de concretizar, como no caso da ligação ferroviária a Madrid ou de candidatar, aos fundos comunitários, investimentos em infraestruturas produtivas até 26 de fevereiro de 2015.
Se o dia da transmissão de Don Giovanni foi o da pior audiencia da RTP2, foi porque o governo é impotente para conduzir uma política eficaz de cultura.
Por isso se desculpará, como qualquer afetado por uma doença psicológica, com causas externas a si próprio, como não haver dinheiro (num país em que a gestão do pavilhão atlantico não parece ter problemas, em que os espetadores acorrem em massa aos festivais de verão, em que se vendem mais de 10.000 automóveis por  mês?) nem procura de bens deste tipo de cultura. E que o melhor será fugir à ira popular como D.João, extinguir o canal RTP2 e privatizar a RTP.
Isto é, deixar que a programação seja decidida e aprovada numa assembleia de acionistas de acesso restrito e em que não é respeitada a regra "uma voz, um voto".
Já no tempo dos antigos atenienses se sabia que isso não era democracia.

Ver também:
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2013/12/citacao-de-pedro-burmester.html

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

uma complicadissima trindade, a inovação, a produtividade e a competitividade

Nota prévia - não caia o leitor numa sinédoque (tomar a parte pelo todo) e não conclua que o escriba é contra  a inovação, a produtividade e a competitividade. Apenas pensa que qualquer medida para as promover deve ser acompanhada de uma análise de custos-benefícios, de uma análise de riscos e precedida por testes. E perdoe-se a imodéstia do escriba ao recordar ter participado no caderno de encargos da aquisição em Portugal da segunda central telefónica privativa de comutação temporal e do primeiro encravamento de sinalização ferroviária (interlocking) computorizado. Pelo que não está seguro de que os economistas que enchem a boca com as três palavras possam acusá-lo de inimigo desta trindade complicadíssima de entender, de insondável dificuldade de aplicar.

Inovação -  durante 1 ano, o dirigível Hidenburg exibiu a sua superioridade sobre os outros dirigíveis. Beneficiava de uma cobertura sintética que oferecia menos atrito à deslocação do ar e era mais leve do que as lonas dos outros. Por isso, graças à inovação, consumia menos combustível e era mais rápido. Porém, a natureza sintética do material, por razões da mecânica quantica e da física dos dielétricos (isolantes) propiciava a acumulação de cargas eletroestáticas. Que originaram o incêndio fatal na manobra de atracagem à torre metálica em New Jersey em 1937. São exemplo também de inovação não testada nem sujeita a análise de riscos os dois acidentes fatais com os primeiros aviões que utilizaram software nos seus comandos. A base de dados com a altitude da rota não tinha sido refrescada. Felizmente sem consequências fatais, outro exemplo é o da substituição do uso das cartas náuticas de papel por mapas eletrónicos. Por não ter feito zoom in, um dos veleiros da corrida oceanica colidiu com um recife. Se tivessem traçado a rota na carta náutica, como fazem os marinheiros normais, teriam evitado o recife.

Produtividade - dificil de entender o que é produtividade se não se aceitar o conceito de quociente. Quociente entre a medida de uma produção e a medida de um fator de produção. Infinita se se anular o fator de produção, como a anedota do cavalo do inglês. Aumenta-se a produtividade se se reduzir o fator de produção mais do que a produção. É a preferencia dos senhores economistas. Sofrerão de um complexo de Edipo perante a produção. Preferem cortar. Pode sair o tiro da culatra por efeito de multiplicação, Como dizia Christine Lagarde, por cada euro cortado de austeridade a economia pode baixar 2 euros. Mais vale aumentar a produtividade aumentando mais a produção do que o fator de produção.
Por outro lado, há um fator específico. Mais vale não nos preocuparmos muito em querer imitar a produtividade maior dos outros. Isso só se consegue com um plano a médio  ou longo prazo. Os senhores economistas que querem mandar em quem trabalha deviam ponderar o que dizia o empresário de componente para máquinas de café. Tinha montado uma fábrica na Alemanah com 90 funcionários. Quando regressou a Portugal montou uma fábrica com a mesma produção mas 120 funcionários. Se tivese insistido em 90 funcionários teria liquidado a fábrica. Mudar bruscamente, sem um plano de transição e sem considerar as condições reais, é umas das maneiras de destruir uma empresa (ou um país), conforme explica o livro "Como destruir uma empresa em 12 meses... ou antes).
Eis porque é pouco prudente tentar aplicar receitas teóricas como as da troika.
Um bom exemplo de aumento da produtividade numa atividade rentável bem documentada na nossa história trágico-marítima é o da querena italiana. As naus da carreira da Índia necessitavam de calafetagem periódica. Pô-las a seco demorava muito tempo. Adotou-se o método genovês de esvaziar a nau, deitá-la na água puxando o topo dos mastros e calafetando meia nau ao longo da quilha (querena). Poupava-se tempo e recursos humanos e materiais, Aumentava-se portanto a produtividade. Só que as mais das vezes o trabalho era feito de forma apressada, as tábuas não secavam bem e daí a uns meses, sujeitas à sobrecarga das mercadorias para além do razoável  e às tempestades do Índico, o casco abria e a nau naufragava.
Outra tragédia associada ao aumento da produtividade é a gestão hospitalar das operações. O tempo necessário para a desinfeção antes e depois das operações pode ser superior à duração da própria operação, limitando o número de operações possíveis de realizar. Recentemente isso foi demonstrado com o surto de legionela. Uma das medidas para evitar a doença é a desinfeção dos doentes antes e depois das operações. O que piora o indicador de produtividade tão caro aos senhores econonistas que nunca operaram um doente. Como explicar-lhes que a declaração dos direitos humanos deve prevalecer sobre o formalismo matemático do cálculo de um indicador e sobre o critério da definição do valor e do montante monetário?

Competitividade - A história trágico-marítima, desta vez inglesa, dá outro exemplo para a competitividade. O Titanic deveria estar parado na noite do acidente, em consequenciado aviso de icebergs. Como o Carpatia, que o socorreu. Porém, a administração da empresa deu instruções ao comandante para avançar de modo a bater o recorde de ligação a Nova Iorque, e assim poder propagandear a maior competitividade da empresa. O exemplo da Rover, fabricante inglês de excelencia de automóveis, introduziu melhoramentos na gestão da fábrica que lhes permitiu baixar o preço e aumentar as vendas: concursos para fornecimento externo de peças, controle de qualidade partilhado com os clientes, bloco de alumínio em 3 fatias aparafusadas sem pernos, válvulas hidráulicas, otimização da injeção e da forma da câmara de combustão (o que lhe permitiu ser o primeiro fabricante a conseguir um motor de 1400 cm3 com mais de 100 cavalos, muito antes da Volkswagen o conseguir). Sabe-se o que aconteceu como reação a este notável aumento de competitividade. A BMW comprou a Rover num processo deselegante para o outro interessado, a Honda, absorveu o seu "know how" , desinvestiu na engenharia própria da Rover e depois, quando já não era competitiva, vendeu-a a um fabricante chinês que não tem negócios na Europa. Dir-se-ia que é como na selva,  quando um animal  mais fraco dá nas vistas, arrisca-se a ser comido pelo predador.








quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Gárgulas da Torre do Tombo

o guarda das ondas hertzianas

o bem e o mal


As gárgulas da Torre do Tombo, do escultor José Aurélio, para além de escoarem a água das coberturas, são símbolos.

Para mais informação, ver
 

e



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Edifício triste



Parece agora triste e cinzento, abandonado, à venda, como o prédio do lado, cada vez mais distantes do brilho, um e outro, da  alta burguesia, um, e da discricionaridade executiva dos hierarcas do metropolitano de Lisboa, o outro. 
Não serei eu a atirar nenhuma pedra por esta venda, que já não concordei com a compra do prédio, quando a empresa disfrutava do rating de não sei quantos AA. Mas estas coisas são subjetivas, embora quantificáveis e integráveis nas vicissitudes e flutuações do mercado de arrendamento.



                                   O edificio visto atrás das grades do palácio Galveias

Afinal não é preciso ir a correr mudar de fornecedor de eletricidade

Há uns meses, fui abordado em casa por um senhor ao serviço de uma empresa fornecedora de eletricidade.
Como um propagandista religioso, anunciou-me o apocalipse do fim das tarifas reguladas (que nome, senhores, tarifas reguladas, para designar as tarifas de quem não quer ser incomodado com burocracias de mudanças de fornecedor). Que seria o caos quando todos quisessem mudar.
Contestei que as empresas e o governo deviam pensar por que tantos consumidores se mantinham nas tarifas reguladas (cerca de 50%, 2,5 milhões).
A resposta do senhor foi ofensiva, perto de chamar estúpidos a quem não queria pagar menos, com a liberalização e os descontos que os novos fornecedores ofereciam.
Pacientemente expliquei ao senhor que estávamos perante um caso semelhante ao da anedota do escuteiro que queria ajudar a velhinha a atravessar a avenida; só que a velhinha não queria atravessar a avenida.
As vantagens da liberalização e da concorrência existem nos manuais dos economistas (supostamente para estimular a economia, embora se possa perguntar: então porque não se estimula?) sem as contrariedades que a cruel realidade lhes opõe. Os decisores burocratas da Europa impõem a liberalização para que haja muitas empresas com lugares de direção em quantidade suficiente para albergar quem os suporte, aos decisores europeus. Qualquer mudança num sistema de abastecimento público deveria ter sido objeto de uma análise de riscos com a previsão de todas as vantagens e inconvenientes, de todos os custos e benefícios. Por exemplo, os riscos de apagões por descoordenação entre salas de despacho (gestão das redes nacionais), os riscos de incumprimento das normas de segurança por facilitação de pequenas empresas ou funcionários sem formação adequada, os riscos de abaixamento da qualidade dos serviços de fornecimento de eletricidade e de manutenção das infraestruturas graças a politicas de economia de custos com cortes em recursos materiais e humanos, os riscos de ineficácia da regulação devido a inexperiencia dos reguladores ou ao poder financeiro do fornecedor.
Sem a discussão efetivamente pública (não com prazos formais ineficazes) com a participação real dos consumidores não será aceitável a tal "liberalização".
Confesso que é possível que pense assim por me recordar das aulas de Aplicações de Eletricidade I e II, do professor Domingos Moura, em que nos deixávamos prender pelos mistérios da eletricidade e das suas utilizações para o bem comum. E porque os grupinhos de economistas que ocuparam os postos decisores da burocracia europeia e nacional , muito crentes como apóstolos em leis universais que podem ser aplicadas a qualquer dominio, ignoram na realidade como funcionam as redes elétricas e os equipamentos que elas alimentam.
E sabe-se o que acontece quando a ignorância preside às decisões.
Como desenhou Goya, o sono da razão gera monstros.
Por isso tudo, concordo com a decisão do senhor economista secretário de Estado da Energia, Artur Trindade: "Já não há uma data de fim da tarifa transitória regulada... não vai haver nenhum corte (era o que mais faltava, comento eu) se ainda não tiverem mudado. Podem fazê-lo sem pressas".
Mas, como eu disse ao senhor agente que me incomodou com a sua propaganda,que me candidatava a ser o último a mudar, o novo regulamento (que de forma civilizada termina com essa ideia peregrina das "fidelizações") prevê que só haverá prazo de mudança quando houver apenas 1000 clientes das tarifas reguladas com contratos de 6,9 kVA (30 A em monofásica ou 3x10A em trifásica).
O que a religião da liberalização leva as pessoas sérias a fazer...



Berlim, dezembro de 2014

Este blogue não resiste a deixar registado o fim do mandato do burgomestre de Berlim, ou presidente de câmara, Klaus Wowereit.
A dívida da cidade, depois de 13 anos do mandato, é de 60 mil milhões de euros. Existe ainda um plano de 500 mil milhões para recuperação de palácios prussianos (penso que na avenida Unter der Linen, um repositório de obras primas de arquitetura do classicismo do século XVIII). A isto se junta o descalabro da execução da obra do novo aeroporto, para substituição do Tempelhof,  de que o senhor ex-presidente foi supervisor (ou regulador, como os senhores economistas gostam de dizer). Não só se verificou uma ultrapassagem excessiva do orçamento inicial, como a data de inauguração saltou de 2012 para 2017.
Isto é, os nossos concidadãos alemães da capital alemã viveram claramente acima das suas possibilidades, têm dificuldade em conservar o seu património e são incapazes de executar um plaenamento de um investimento público de acordo com o seu cronograma financeiro e de execução de obra.
Mas viveram alegremente em crescendo turístico para compensar o fim dos subsídios às empresas da antiga Berlim ocidental, por ter caído o muro de Berlim.
Não é para nos regozijarmos, é apenas para a comunicação social não vir com a conversa do costume que os países do sul são uns desorganizados.
Isto também para não falar muito do acidente nas obras do metro de Colónia, há uns anos, em que abateu o edificio do arquivo municipal, perdendo-se documentos do século X.
Mais valia que em cada setor de atividade os concidadãos alemães se sentassem com os outros colegas e todos colaborassem sem complexos de superioridade ou inferioridade na resolução dos problemas comuns.
Que a mim me parece, neste momento, que são a união fiscal e bancária que se impõe, com emissão de moeda para combater a deflação e apoiar o investimento nos paises com défice comercial.
Salvo melhor opinião, claro.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Os acidentes com os apanhadores de ameijoas

Lamento as mortes dos apanhadores de ameijoas e solidarizo-me com os seus familiares. Gostaria de não ser mal interpretado no que escrevo a seguir, com base nos princípios da análise de riscos e também por, embora esporadicamente e numa embarcação de vela, frequentar o rio Tejo.
Não são os primeiros acidentes no rio. A Marinha tem sempre cumprido a sua função educativa e de alerta contra os perigos.
Mas seria bom que a comunicação social desse mais importância às medidas preventivas de segurança que poderão reduzir as probabilidades de ocorrência deste tipo de acidentes, do que a outros pormenores.
Para isso seria desejável que a tutela da Marinha e as instituições oficiais de proteção civil atuassem com vontade executando ações de formação.
Quem passa na ponte Vasco da Gama à hora da maré baixa vê muita gente a apanhar ameijoa. O facto das vítimas serem pescadores ludicos não é relevante para o que escrevo, uma vez que muitos dos que ganham a vida nesta apanha serão emigrantes ou desempregados sem formação marítima (vendem por 3,80 euros o kilo a intermediários que vendem as ameijoas em Espanha a pouco menos de 7 euros o kilo).
Daí a necessidade de ações de formação pela Marinha.
As marés junto da lua nova e do solstício de inverno têm maior amplitude. A maré baixa do dia dos acidentes, sábado 20, às 7:30, foi 50 cm mais baixa do que a do sábado anterior, e a maré cheia 40 cm mais alta. Acresce que em consequência das chuvas ou vento poderá ter havido agravamento das condições  nas zonas de baixios durante a enchente.
Sobrevindo nevoeiro (há anos esteve iminente um acidente com um veleiro na albufeira do Alqueva, em dia de nevoeiro), sem referencias de iluminação ou sinais sonoros em terra, sem vestuário isotérmico, sem coletes de flutuação, sem bússola, sem telemóvel ou rádio para apoio em terra, a probabilidade de desorientação e de inanição por hipotermia é muito grande. O tipo de roupa e calçado é importante, o uso de botas com cano alto soldado às calças com alças é extremamente perigoso porque se a pessoa é derrubada pela corrente e a água ocupa as calças pode afogar-se mesmo em pouca profundidade de água (aconteceu há anos no estuário do Mondego). Conviria que  a investigação deste acidente esclarecesse se o tipo de roupa usado contribuiu para ele.
Existem ainda meios empíricos de orientação em situação de nevoeiro, mas exigem experiência, como a cor das águas, a presença em suspensão de sedimentos ou resíduos vegetais ou animais, o voo de gaivotas, a deslocação de manchas à superfície que indiciem a orientação das correntes e por conseguinte a orientação da frente de água.
Mas insisto, tudo isto exige ações de formação através de recursos para que a Marinha o possa fazer e, naturalmente, apoios aos apanhadores para vestuário isotérmico, coletes de flutuação, bússolas e material de comunicações.


domingo, 21 de dezembro de 2014

Desprezo e ignorancia

http://visao.sapo.pt/jordi-savall-renuncia-ao-premio-nacional-de-musica-de-espanha-num-protesto-ao-governo=f799992
A noticia já foi dada há cerca de 2 meses, mas só recentemente, através da Antena 2, tive conhecimento.
Jordi Savall, musico catalão especialista em musica antiga, recusou o prémio musical de Espanha como manifestação da indignação dos artistas pela ignorancia e desprezo dos governos pelo património musical.
Ao menos neste campo, pode dizer-se de Espanha, lá como cá.
Recordo o ar contrafeito com que os ministros do atual governo compareceram num concerto para assinalar uma das poucas iniciativas culturais, ligada ao maestro Vitorino de Almeida.
E a ofensiva ausencia sistemática do presidente da Republica nos concertos e óperas nos teatros nacionais.
Desprezo pela Cultura e ignorancia, como diz Jordi Savall.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Cirandando pela rua Ivens no dia 3 de dezembro, dia internacional das pessoas com deficiência, meditando na mobilidade reduzida e daí formulando uma sugestão ao metropolitano

Cirandando mais uma vez pela rua Ivens, no dia 3 de dezembro, dia internacional das pessoas com deficiencia, de novo me atardei a olhar para o edificio do número 34, fronteiro aos restos de uma dependência da secretaria de Estado da cultura, que lá deixou, decrépita como a sua alma, sua da secretaria de Estado, uma tabuleta identificadora.
antiga secretaria de Estado da Cultura

placa abandonada, metáfora do abandono da Cultura 

E também fronteiro ao palácio negreiro que agora abriga o refinado Grémio Literário.
O edifício do número 34 é ainda propriedade, ao que julgo, que o secretismo é a tragédia do negócio, permito-me assim contestar o aforismo do segredo do negócio, do metropolitano de Lisboa.
Nos idos dos anos 90, quando o rating da empresa era de vários AA, incluiu-se no projeto da estação Baixa Chiado uma ligação por elevadores da rua Ivens para o mezanino da estação, precisamente no interior do edificio do número 34.
Assim se cumpriria a diretiva europeia que obriga, melhor dizendo, obrigaria,  os edifícios públicos a estarem adaptados a pessoas com mobilidade reduzida.
Porém, as atribulações e a complexidade da construção da estação e da linha fatigaram os decisores do metro, não por serem eles a resolver os problemas, mas porque sofriam a pressão dos prazos que os senhores ministros queriam ver cumpridos para poderem vangloriar-se junto dos eleitores, e ainda a pressão dos sobrecustos sucessivos.
Por isso, já no fim da obra, como que naufragando a ideia à vista da praia, e porque o arquiteto contratado sem concurso publico (porque o brilho do seu nome era para quem o convidava, isto é, os representantes na administração da empresa do partido ganhador das eleições, incompatível com o concurso) apresentou uma solução de um milhão de contos, dir-se-á agora de cinco milhões de euros, foi decidido economizar e não se fizeram os elevadores no prédio do número 34.

Soluções alternativas mais económicas foram-se estudando, que sempre foi havendo no metropolitano técnicos capazes de as estudar e sempre foram mantidos contactos com o INR e associações como a ACAPO e a APD. Desde instalar o elevador na rua da Vitória, ou ocupando o espaço do restaurante Vitaminas, ou da antiga agência da casa da sorte na rua Garrett, ou até junto do largo do S.Carlos.
possiveis localizações dos elevadores (a azul os corredores ao nível do mezanino):
A - antiga casa da sorte na rua Garrett, com a vantagem de dispensar canais de controle por aceder a zona não paga
     B - esplanada de restaurante na rua Capelo, frente ao antigo Governo Civil                                                                      
C - largo de São Carlos                                                                                                                                                      
D - restaurante Vitaminas                                                                                                                                                    
E - rua da Vitória, junto à igreja                                                                                                                                          
F - escadarias de São Francisco                                                                                                                                          
G - localização originalmente prevista no nº34 da Rua Ivens                                                                                              


A - antiga agência da casa da sorte

 
 




B - esplanada na rua Capelo




C - largo de São Carlos








D - restaurante Vitaminas e zona de ligação ao mezanino, ao fundo das escadas




E - rua da Vitória


F - escadinhas de São Francisco



G - localização originalmente prevista na rua Ivens 34 e zona de ligação ao mezanino



Mas os sucessivos decisores, isto é, como se disse atrás, os representantes na administração da empresa do partido ganhador das eleições, foram-se opondo, sempre com a desculpa da falta de dinheiro, não obstante a existencia da diretiva europeia sobre as acessibilidades dos edificios de utilização publica, não obstante a existencia de fundos comunitários suscetíveis de aplicação neste campo. Aliás, a intenção dos próprios governantes é transigir no recurso a esses fundos, mas nunca para aplicação em infraestruturas. Dizem eles que lhes interessa mais a inovação e a competitividade sob novas formas de apoio às pessoas com deficiencia através da prestação de cuidados. São pontos de vista...
Ainda se conseguiu instalar, nas escadas do lado da rua do Crucifixo, uma plataforma elevatória. Não seria a solução ideal porque a sua utilização requereria o apoio de um agente da estação e,portanto, não garantiria a autonomia que se deseja à pessoa com mobilidade reduzida. Mas nem isso funcionou, ao que consta  por dificuldades de software detetados na altura dos ensaios de colocação em serviço...




Agora, que tão contentes andam os senhores governantes e os economistas que os sustentam com as estatísticas do turismo e do fluxo de entrada de dinheiros com os vistos gold por compra de imobiliário, ocorre-me à passagem pelo número 34 da rua Ivens esta sugestão ao metropolitano: que a venda do prédio seja feita a um preço mais favorável, mas com a condição imperativa da construção pelo comprador de 2 elevadores para ligação ao mezanino da estação. Por informação do segurança que costuma estar na porta do número 32, um antigo restaurante chinês, todo o prédio, até à esquina da rua Capelo, pertence ao banco de Portugal. Também podia ser um potencial interessado...o conjunto daria um grande hostel para turistas, ou gabinetes de start ups...
Seria mais uma parceria, uma espécie de negócio win-win.
Mas tenho pouca esperança, com a fama das parcerias...

PS em 24 de dezembro de 2014 - a referência ao palácio negreiro da rua Ivens onde se encontra o Grémio Literário fundamenta-se no livro Escravos e traficantes no império português, de Arlindo Manuel Caldeira, ed. esfera dos livros. O palacete foi mandado construir por Angelo Francisco Carneiro, primeiro visconde de Loures, cujo título foi outorgado por D.Maria II, e que ganhara fortuna no tráfico de escravos de Angola para o Brasil. Este complemento fica para mais uma vez se verificar a promiscuidade entre o poder político, que concede títulos, e o financeiro, em ações de branqueamento de dinheiro subsidiando partidos políticos.

PS em abril de 2017 - o prédio da rua Ivens já foi vendido pelo metropolitano. A plataforma elevatória foi inaugurada, ignorando a sua taxa de utilização. Está em construção um prédio na rua do Crucifixo, mesmo ao lado das escadinhas de S.Francisco sem considerar a ligação á estação para cadeiras de rodas, perdendo-se assim mais uma oportunidade e dando muito jeito a que continue a utilizar-se o argumento "não há dinheiro" 

Dia internacional dos direitos humanos

10 de dezembro , dia internacional dos direitos humanos.
Dia em que morreu um ministro palestiniano em consequencia da atuação da policia israelita, durante uma manifestação contra a ocupação de território palestiniano segundo a resolução da ONU que definiu 2 estados, um israelita e outro palestiniano.
Recordo o número 1 do artigo 23 da declaração universal dos direitos humanos:

"Todas as pessoas têm direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego";

e o número 1 do artigo 24:

"Todas as pessoas têm direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle"

É assim evidente o desrespeito pelos direitos humanos de governos como o de Israel e os da União Europeia.
Um porque não reconhece o direito do estado palestiniano, os outros porque a pretexto da concorrência não controlada, das regras cegas dos defices públicos orçamentais, da incapacidade de reconhecer que o valor e o preço das coisas deviam ser definidos pelas necessidades das pessoas e não pelos mercados férteis em falhas, deixam por cumprir os direitos sociais.

Fica assim o registo do dia internacional neste ano de 2014.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A rota da seda e a cegueira do governo português

O colega Mario Ribeiro teve a amabilidade de me enviar esta ligação do Washington Post


http://www.washingtonpost.com/blogs/worldviews/wp/2014/11/21/map-the-worlds-longest-train-journey-now-begins-in-china/

Trata-se da inauguração da maior ligação ferroviária de mercadorias do mundo, entre Yiwu no leste da China, e Madrid.
Trata-se da nova rota da seda, e já se estudam alternativas.
A cegueira do atual governo, ao inviabilizar a ligação da plataforma logística do Poceirão ao Caia (com ligação a Lisboa e a Sines), impede assim que estivessemos a comemorar a ligação entre Yiwu e Lisboa.
Isto é, Portugal já é uma ilha ferroviária ao largo da Europa, e assim vai continuar porque até fevereiro de 2015 não vão ser apresentados programas base credíveis para projetos de infraestruturas ferroviárias que caibam no programa de 21 mil milhões de euros dos fundos comunitários 2014-2020.
Nem para investimento em redes de produção de energia por concentradores solares e sais térmicos, nem por  outras energias renováveis (aproveitamentos hídricos com bombagem, fotovoltaicas) a exportar por linha de muito alta tensão contínua para a Europa (eu sei que o nuclear francês não gosta, mas estas coisas não devem ser por gostos) com reforço das interligações com Espanha, e também utilização do excedente produzido em produção distribuida de hidrogénio para abastecimento de frotas de veículos de mercadorias e de serviço elétricos com pilha de combustível, nem para o aproveitamento dessa rede de produção de hidrogénio para aquecimento doméstico (já se fabricam pilhas de combustível sem platina), nem para investir em aquacultura para reduzir a importação de peixe, nem uito menos adaptar as estruturas públicas `s pessoas com mobilidade reduzida.
E assim, sem investimento reprodutivo, e sob a tirania ignorante do mantra do que o que é bom é desviar os fundos comunitários para a "competitividade das pequenas e médias empresas" com a comunicação social a ecoar, esquece-se o alerta do economista Jacinto Nunes logo a seguir á chegada da troika: isto só tem uma saída, que é o investimento.
Mas andam muito sorridentes, os senhores politicos que nos governam.
Pelo menos quando aparecem na televisão mostram-se sorridentes...

PS em 17 de dezembro - a viagem Yiwu-Madrid é de cerca de 13.000 km, demora 3 semanas, movimenta 1400 toneladas de mercadorias em 30 contentores que são transferidos 3 vezes por causa das diferenças de bitola, a locomotiva é mudada todos os 800 km, os opsradores são a Inter  Rail Services, a DB Schenker e a Transfesa, emissões de CO2 : 44 toneladas (a mesma carga por camião emitiria 144 toneladas); bens importados : brinquedos e materiais de escritório; bens exportados: vinho, azeite e enchidos. Existem ligações regulares entre Hamburgo e Yiwu.