sábado, 3 de outubro de 2015

A série de défices públicos semestrais

Deve sempre ter-se cuidado com as correlações estatísticas porque não devem deixar-se variáveis de fora. Cita-se o caso dos economistas que descobriram a correlação entre os gastos com os hospitais e a incidencia das doenças. Nos distritos em que havia maior incidencia de doenças os gastos eram mais elevados. Então os economistas propuseram reduzir os financiamentos dos hospitais para que as doenças diminuissem.
Mas parece-me curioso este quadro com os défices públicos semestrais de 1999 a 2014


No período anterior à crise internacional de 2008 o padrão de variação entre semestres foi o de agravamento do 2º semestre relativamente ao 1º semestre, com a exceção de 2003 (era ministra a dra Ferreira Leite) em que o 2º semestre de 2003  foi inferior ao 1ºsemestre de 2003 e ao 1ºsemestre de 2004, indiciando a preocupação de apresentar um bom resultado em 2003 (curiosamente, penhoraram-me no 2ºsemestre de 2003 parte do vencimento, para 6 meses depois me devolverem).
No período de 2008 a 2011 manteve-se, com o crescimento do défice, o mesmo padrão (agravamento do 2ºsemestre relativamente ao 1º).
No período de 2011 a 2014, correspondente ao atual governo, o padrão é um 2ºsemestre inferior aos 1os semestres anterior e seguinte. Com a exceção  do 2ºsemestre de 2014 devido à injeção de 4,9 mil milhões de euros no Novo Banco à espera da venda (no entanto, se não fosse este precalço, o défice teria sido de 4,5%, inferior aos primeiros semestres de 2014 e 2015.
Aparentemente, terá sido preocupação do atual governo comprimir os segundos semestres para apresentar bons resultados no respetivo ano, com o fatal agravamento do 1ºsemestre do ano seguinte.
Infelizmente, o panorama não é nada animador, e mantenho o que venho dizendo desde antes da crise de 2008. Nenhum país é sustentável com a dependencia de energia primária e alimentar de que Portugal sofre. A importação de energia primária é da ordem de 3% do PIB (se ele desaparecesse a média desta série seria praticamente zero). Os atuais juros da dívida da ordem de 4% também não ajudam.
Parece que os decisores já compreenderam a importancia da soberania alimentar apesar da politica das grandes superficies comerciais de importação maciça de alimentos. No caso da energia primária, devido aos interesses instalados e remunerados com as parcerias contratadas (CMECs, etc...),pouco se fala, em vez de se dinamizar o financiamento de projetos de produção e exportação de energia renovável e de substituição dos combustíveis fósseis nos transportes. Para além de um caso de subordinação do poder político ao económico, com prejuízo do interesse público, será talvez um caso de ignorancia.

Sem comentários:

Enviar um comentário