sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Doutor, foi mesmo 7% que disse que tinhamos de cortar no orçamento?

A pergunta do título fi-la eu num belo dia de setembro de 2006 ao colega diretor financeiro. E ele confirmou a mensagem anterior. O orçamento do ano seguinte tinha de ser reduzido 7% relativamente ao do ano anterior. Ainda antes da crise internacional de 2008, do Lehman Bros e da AIG, já se praticava a cultura da contenção.
Eu entendia o orçamento como um plano de atividades, e portanto como uma coisa muito séria que comprometia os meus colaboradores que tinham a triste sina de serem obrigados a sê-lo e com quem eu discutia o que se podia fazer dentro da respetiva área.
Confesso que a taxa de realização não era famosa, o que nos permitia fazer os cortes pedidos, que muitas das rubricas não saiam das intenções, embora houvesse sempre a desculpa da falta de meios humanos para as executar.
O que raramente acontecia era não entregar o orçamento a tempo. E nem nos passava pela cabeça desculpar-nos com alguém que estava de férias e por isso não tinhamos os elementos para enviar o orçamento.
Aprendi na tropa que o comandante está sempre no quartel, mesmo que fisicamente possa estar de férias ou simplesmente em casa. Alguém o substituirá.
Por isso repudio o comportamento do atual governo, sempre pressuroso a bater com a mão no peito pretextando o respeito pelos compromissos internacionais, que vem agora dizer que o governo ue lhe suceder que mande o orçamento.
Enche-se a imprensa sustentadora do atual governo com acusações de ser uma exigencia burocrática da comissão europeia que é irrelevante não cumprir.
Parece sem importancia, mas não é.
Um orçamento é tambem um plano de atividades e as suas linhas gerais  de orientação deviam transcender os horizontes temporais de vários governos.
Até porque o pedido da comissão europeia, prevenindo estes casos, admite o orçamento como um exercício de manutenção de políticas a corrigir pelo governo seguinte e até condescende, como Wolfgang Munchau bem notou, com alguma flexibilidade, como no caso do orçamento de Itália.
Mas não, a senhora ministra das finanças e o senhor primeiro ministro, do alto da sua sabedoria, entendem  que o assunto compete ao próximo governo.
Assim deixa-nos na dúvida, se seria mal visto pela opinião pública uma provável transferencia de despesa deste 2ºsemestre de 2015 para o primeiro semestre de 2016, para poder cumprir-se o limite de 3% do défice... ou se será coisa pior (apesar do momento favorável, com juros baixos e o petróleo barato).
Que convencidos e seguros da sua auto-estima que são estes governantes...

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