terça-feira, 13 de outubro de 2015

Realidade dual - a EDP à beira Tejo

Poucas coisas existem de modo bem definido e determinista. Ao nosso pobre cérebro, tão limitado por conceções lógicas só dele, custa a admitir isso. Vive desde os tempos da infancia no maniquismo de que uma coisa ou é boa ou é má.
Quando as coisas são duais, isto é, são uma coisa e outra antagónica ao mesmo tempo, ou sabe-se lá se pior ainda.
Comecemos por este cartaz
cartaz afixado na vedação do estaleiro da obra da fundação edp
Quem está a trabalhar, além do conhecido empreiteiro, é a EDP, uma empresa com quase 17 mil milhões de euros de dívida, e parcialmente responsável pelo défice tarifário devido ao acordo de rendas existente e nada flexível.
É verdade que são significativos os ativos de que dispõe, de que beneficiou graças á política de privatizações, além de ter um lucro anual da ordem de 1 milhão de euros.
Mas escusaria, numa ótica de contenção de custos, de gastar o dinheiro dos seus clientes (e, através das rendas e da desvalorização dos ativos na privatização, dos contribuintes) na sede da sua fundação que está a construir junto da central Tejo, mesmo ao lado do rio:



en passant, observe-se o espaço entre os terminais cerealífero e de combustíveis da Trafaria, e a ilha do Bugio; para aí tinha sido pensado, desde os anos 90, pelos especialistas portuários, o porto de águas profundas de Lisboa; mas o país dual não quis; penso que foi um grave erro estratégico 



É uma pena, junto do rio, estar a nascer mais um mamarracho junto do outro mamarracho do museu dos coches. Serei eu que tenho mau feitio e que serei impressionável,  mas num país em crise dissipar assim os dinheiros impressiona-me, até porque mais para nascente, ao chegar ao Cais do Sodré, já se vê concluida a nova sede da EDP, com os seus planos oblíquos tão caros aos arquitetos premiadissimos que desenharam para junto do rio uma obstrução à vista de Santa Catarina.

Habituemo-nos pois à ideia de que pagaremos mesmo o défice tarifário, graças uma empresa que, para compensar o lado menos bom que descrevi, está prestes a inaugurar a central hidroelétrica de Venda Nova III, com dois grupos gerador/alternador-motor/bomba (reversíveis, portanto com capacidade de absorver as intermitencias da produção eólica), com cerca de 750 MW de potencia instalada e um custo de 350 milhões de euros, em Ruivães, no Rabagão. Vai contribuir para reduzir o défice energético e facilitar a exportação para Espanha através de duas linhas de 400kV que serão financiadas pela comissão europeia. Não pode ser tudo mau, neste país dual.

Sem comentários:

Enviar um comentário