Este humilde blogue já escreveu por várias vezes, citando a fórmula saldo orçamental=investimento privado ou comunitário-poupanças+exportações-importações
que é essencial o investimento para sair das nossas limitações, desde que se controlem as importações e se utilizem as poupanças privadas.
E também tem referido a reabilitação urbana com apoio dos fundos comunitários como componente do investimento necessário.
Infelizmente, à boa maneira portuguesa, muitas vezes ignora-se que a reabilitação urbana exige o equipamento dos edificios com infraestruturas modernas, desde casa de banho a garagens, o que implica em muitos casos a reunião de vários números matriciais no mesmo prédio recuperado, o que põe problemas de propriedade.
Por isso regista com concordancia a proposta e a declaração de Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário em
para lançamento de um programa de 40 mil milhões até 2020, incluindo 20 mil milhões para infraestruturas e equipamentos e 18 mil milhões para reabilitação urbana.
"... não podemos correr o risco de desaproveitar
os dinheiros europeus. Não vejo ninguém a discutir o Plano Juncker, e são 315
mil milhões. Somos um país da Europa, as infraestruturas não vão chegar a
Espanha e parar."
Registo também, graças à revista Ingenium de jul/ago2015, os resultados de um inquérito (Barómetro de engenharia da Região norte da Ordem dos engenheiros) a 160 engenheiros civis sobre a reabilitação urbana:
- 73% não acredita que as verbas disponiveis no programa Portugal 2020 sejam suficientes para impulsionar a renovação do edificado;
- 95% pensa que o investimento público não tem sido ajustado às necessidades de reabilitação urbana
- avaliação dos principais problemas:
- 30% pensam que o principal problema é a dificuldade de financiamento
- 21% que é a falta de investimento privado
- 18% que é a dificuldade de obtenção dos licenciamentos
- 16% que é a instabilidade legislativa
- relativamente ao último regime especial de incentivos, 67% consideram-no desajustado
Não parece assim que a posição deste blogue seja negativista, destrutiva ou radical, antes se encontra confirmada pelos colegas que trabalham no setor.
Salvo melhor opinião, a Ordem dos engenheiros teria aqui matéria para publicamente criticar o atual governo.
O atual governo concentrou-se na aplicação de fundos comunitários em ações de valorização e formação sob o lema da competitividade. Considerando que existe o plano juncker e os mecanismos CEF (connecting Europe facilities), será uma opção aceitável, embora não seja aceitável que minta quando pretende justificar-se com o predomínio da anterior aplicação dos fundos comunitários em auto-estradas (ver o que penso ser uma demonstração de que é mentira em
Eu penso que foi gravosa a interrupção de investimentos como o TGV Poceirão-Caia (já prevista a ligação de mercadorias), e que o atual governo, apesar de tímidas e vagas referencias nos ultimos meses da legislatura ao aproveitamento de fundos comunitários para o corredor ferroviário do Atlantico, não tem bem a noção da necessidade de elaboração rigorosa e fundamentada de estudos e projetos. Sem o que, sem a conclusão desses estudos e projetos, os fundos comunitários não virão.
Igualmente existe pouca esperança no bom aproveitamento dos fundos Juncker e CEF, apesar de também tímidas e vagas candidaturas em resposta aos apelos ("calls for proposals") que conduzem, devido à demissão das entidades oficiais (será a obsessão desestatizadora do atual governo...), às pequenas concessões esperadas.
Existem 3 tipos de CEF: para ligações ferroviárias, para telecomunicações e internet, e para a energia.
No caso do CEF-Energy , a comissão europeia estabeleceu para as interligações energéticas o valor de 10% de capacidade para exportação de país para país e o objetivo de integrar a produção de eletricidade por fontes renováveis. O orçamento é de 5350 milhões de euros. Já foi selecionada a lista de estudos e obras a financiar no seguimento da primeira chamada (first call for proposals). Ver a lista em
Decorre neste momento a segunda chamada, de 30 de junho a 14 de outubro de 2015, mantendo-se a pouca esperança de que Portugal submeta candidaturas concretas em número significativo.
Ver mais pormenores, incluindo a lista dos projetos selecionados em
Nesta ligação pode também obter-se o mapa seguinte, com os projetos selecionados e projetados:
Aparentemente, os projetos portugueses de interligação com Espanha são muito modestos, e não permitem uma futura exportação maciva de eletricidade com origem eólica ou fotovoltaica (que a Espanha exportaria para França e esta para a Alemanha:
- financiamento de 250.000€ para o estudo de linha dupla de 400 kV interna, entre Ribeira de Pena e Vieira do Minho, para interligação com Espanha no corredor prioritário NSI West Electricity
- financiamento de 505.925€ para o estudo da 3ª interligação de gaz com Espanha no corredor prioritário NSI West Gas.
Ao observar a lista de projetos e obras e o respetivo mapa, registo o maior dinamismo de países como a Irlanda, França, Inglaterra e os países bálticos e do leste da Europa no aproveitamento dos fundos comunitários.
E também recordo as aulas do professor Domingos Moura, nos longínquos anos sessenta, em que já nos falava de depósitos subterrâneos de gás e de ar comprimido, de ligações em tensão contínua de 1 milhão de Volt em cabo submarino (solução evidente entre a Dinamarca e a Suécia, entre a Irlanda e a Inglaterra e a França, para aproveitamento das eólicas irlandesas, entre a Grécia e Chipre, entre a Galiza, tão perto da fronteira portuguesa e a França).
Assinalo ainda as referências a "electricity storages" (albufeiras com capacidade de bombagem, principalmente, coisa muito mal vista por algumas cabeças pensantes em Portugal por causa das famosas parcerias e rendas e consequente défice tarifário, mas talvez também já se pense por essa Europa fora, como forma de armazenamento para contrariar as intermitencias, em baterias de células de combustível alimentadas por hidrogénio produzido por eletrólise a partir de renováveis...).
Mas infelizmente os decisores preferem, aparentenente, o imobilismo ou o ramerrão burocrático.
Ou como diria Luis Vaz, que não sabia nada de eletrotecnia, preferem esta "apagada e vil tristeza"
Gostaria de estar enganado, e que a resposta à segunda chamada me desmentisse.
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