Pedro Mexia, que não pode ser acusado de ser um perigoso esquerdista, moderou durante o festival um encontro com Eduardo Lourenço e Hélia Correia. A finalizar, pediu aos dois um comentário sobre o facto de um agente político ameaçar com uma reação da União Europeia e do mercados.
Eduardo Lourenço foi-se perdendo em divagações até que se interrompeu e depois disse depressa: "em linguagem corrente, é uma chantagem". E a sala bateu palmas. Depois Hélia Correia disse que a sua imaginação é mais de enredos, e então o que tinha imaginado era que o povo tinha decidido uma coisa e foi ao palácio do príncipe para a propor. Mas o lacaio à porta disse-lhes que não valia a pena estarem a perder o seu tempo e o do principe, porque já se sabe o que o principe acha de tudo isso. E Hélia Correia concluiu que de facto se poupou tempo. Enquanto os gregos passaram por várias negociações com o principe, várias eleições e um referendo para depois ficarem acabrunhados, o povo de cá fica logo acabrunhado se seguir o conselho do lacaio. Mais palmas da assistencia.
E eu, que de forma preconceituosa pensei que o Folio era um encontro fechado de uma elite de costas voltadas para a realidade, tiro-lhes o chapéu, pelo menos a Eduardo Lourenço e Hélia Correia.
É isso, a cultura pode valer mais do que 1% do PIB, pode ser subversiva para com o poder instalado. Provavelmente por isso é que o primeiro ministro da Hungria deixou de ir à ópera, depois de ter sido vaiado num espetáculo. Coisa que não poderá acontecer em Portugal. Nunca o presidente da República ou o seu primeiro ministro foram vistos no São Carlos...
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