domingo, 11 de outubro de 2015

Resultados eleitorais - os sábios

No momento em que escrevo não se conhecem ainda os resultados eleitorais da emigração, de modo que só posso registar o seguinte quadro, em que as percentagens são referidas ao total de inscritos nos cadernos eleitorais e os mandatos ordenados por ordem decrescente:

partido ou                votos               %                 nºdeputados
conjunto

inscritos               9 439 651           100,00
votantes               5 374 363             56,93                 230

abstenções           4 065 288             43,07              
PSD                     1 979 132 (1)       20,96(1)                 86

PS                        1 740 300             18,4                     85
BE                           549153               5,80                   19
CDS                                                                            18
PCP                         444 319 (2)        4,70(2)                 15                
PEV                                                                              2

brancos                   112 293               1,11
nulos                         86 571               0,92

(1) inclui votos no CDS
(2) inclui votos no PEV

Os sábios que comentam os resultados na TV, repisando o bordão desagradável "para as pessoas lá em casa perceberem", como se lhes competisse formar a opinião das pessoas, insistem nas teses de bipolarização e na exclusão de partes significativas de votantes de representação no governo. Têm uma certa razão, mas se e só se a assembleia da República, como orgão legislativo, prevalecesse sobre o governo, este como orgão executivo. Ora, na prática, é o orgão executivo que toma as iniciativas. Então, parecerá preferível fazer representar no governo todas as sensibilidades, consoante o seu peso eleitoral. O que deveria levar a que o governo considerasse as motivações dos 43% de abstencionistas. Isto é, deveria desenvolver as técnicas de sondagem aplicada a casos concretos, como por exemplo as privatizações, em que as poucas sondagens conhecidas as desaprovam. Mas os sábios comentadores não querem saber dessas minudencias (que diriam eles se os 43% de abstenções estivessem representados no parlamento pelos correspondentes lugares vazios?).
E explicam com gráficos por que a coligação de direita, embora perdendo votos, ganhou as eleições depois de 4 anos de austeridade.
quanto maior o saldo estrutural maior a austeridade



as estatísticas do desemprego e do PIB, embora trabalhadas no que toca aos efeitos da emigração e redução da população ativa, empregos precários e dédice de registo dos desistentes, foram habilmente utilizadas para aumentar a confiança no governo a partir de julho de 2013 aumentando as intenções de voto no PSD-CDS

Os sábios também não querem saber de algo que permitiria interpretar melhor os resultados da votação: o voto preferencial, ou seja, cada eleitor, para que o seu voto fosse validado, teria de assinalar por ordem decrescente 3 forças políticas concorrentes, com a correspondente ponderação diferenciadora (ou melhor, cada eleitor disporia de, por exemplo, 6 pontos para atribuir a uma força política, 3 para outra e 1 para uma terceira).
Tão pouco se preocupam com as teorias da psicologia comportamental e social da necessidade de integração em grupos através da obediencia a lideres ou da acomodação a soluções conhecidas em contextos de grande complexidade.

Para os sábios é ainda dispensável discutir a forma de equilibrar o saldo orçamental. Não querem saber, ou simplesmente não fazem ideia, por nunca terem trabalhado em empresas produtivas, de que modo se pode aumentar o investimento privado e comunitário (através de projetos rigorosos suportando candidaturas aos fundos europeus), reduzindo o nível de poupanças (pode parecer paradoxal, mas as poupanças no banco, a render,  reduzem o saldo orçamental), reduzindo as importações (o contrário do que está a acontecer, com o aumento da importação de automóveis, especialmente das gamas mais elevadas, com a loucura do predomínio do transporte individual e do transporte aéreo sobre o transporte ferroviário,  com o imobilismo na produção energética de fontes renováveis e na construção de infraestruturas para a sua exportação, e com a pressão das grandes superfícies comerciais para aumentar o défice alimentar) e aumentando as exportações (os sábios mostram-se contentes com o saldo positivo da balança de pagamentos, mas isso só acontece porque o setor de serviços, turismo e serviços de engenharia incluidos, conseguem compensar o défice tremendo em bens (haverá alguma regra da UE que proiba IVA mais elevado sobre bens importados que não sejam produzidos em Portugal?) .


Mas vejo-os a assustar as pessoas, anunciando que as politicas austeritárias são para manter. De facto são, considerando as questões do défice energético e do défice orçamental, da balança de pagamentos de bens desequilibrada e do desperdício dos fundos comunitários em infraestruturas reprodutivas como as energéticas e as ferroviárias. Mas não ao nível do castigo sistemático do fator trabalho e dos pensionistas e reformados (ficará na história das campanhas eleitorais o episódio da senhora vestida de rosa: "quer que vá buscar o recibo?"). Não os vejo também, aos sábios, discutir a taxa Tobin, e fico a pensar que continua a ser verdade a "boutade" de João Cesar das Neves, que não é propriamente um intelectual de esquerda,"os ricos não pagam impostos em Portugal". E não fica bem a uma classe política passar a campanha eleitoral a dizer que o pior já passou, e depois continuarem as restrições.


Vejo-os a ameaçar as maiores desgraças, com subidas incontroláveis dos juros "nos mercados" se o novo governo desenvolver politicas de esquerda (não ficou provado que a crise internacional de 2008 aconteceu por falta de controle sobre a especulação financeira, dos subprime aos swap? e que é para evitar esses descontroles que existem instituições como o BCE?).

Como dizia um colega meu, os sábios não são mais doutores que eu, e se estou a ver mal as questões, também me parece que os sábios o estão a fazer.
Deveriam ser mais humildes.
Salvo melhor opinião, claro.

Nota: os gráficos foram retirados de   http://www.pedro-magalhaes.org/perplexos/    e a sua citação não significa concordancia com eles, especialmente no relativo às estatísticas do desemprego (sendo conhecidas a influencia da emigração, da redução da população ativa, do emprego precário e subemprego, e do deficiente registo dos desistentes) e da confiança, dado que a amostra não inclui os 60% de portugueses e portuguesas que vivem em condições precárias (reconheço que 40% de cidadãos e cidadãs vivem bem ou remediadamente), mas concordo que, apesar de omitir as causas da abstenção, é uma boa análise, pelo menos bate certo com os resultados (perdendo votos enquanto a oposição subia o número de votantes, a coligação PSD-CDS teve mais votos)

PS em 15 de outubro de 2015 -  Finalmente são conhecidos os resultados da votação dos emigrantes. Junto então os resultados finais com as percentagens referidas ao número de eleitores inscritos, mas estou visceralmente indignado com o tratamento dado à emigração. 
Nada ganho com isso, mas a minha realidade é esta, visceralmente indignado com a anulação dos votos enviados de Caracas e de Timor, por razões pífias, os envelopes foram endereçados ao ministério dos negócios estrangeiros em vez das freguesias respetivas. 
Faz lembrar as não menos pífias razões do cartão de cidadão não poder ser vitalício. 
Na era das assinaturas eletrónicas e da internet, o cartão tem de ser renovado?  
Quando ainda se conservam papiros dos antigos egipcíos...o voto dos emigrantes não pode ser enviado pela internet? 
E as entidades ditas competentes vão resolver o problema para as próximas eleições dinamizando a inscrição como eleitores? e o novo parlamento vai reformular o voto dos emigrantes, para que não se desrespeitem as pessoas que querem votar e são desconsideradas desta maneira? sem que ninguém apresente desculpas? 
Assinale-se ainda o valor elevado da abstenção, 44,14%, que deveria tornar  humildes os políticos eleitos pela pequenez da sua representação (imaginem que os lugares no parlamento correspondentes aos eleitores que se abstiveram ou votaram branco, nulo ou nos restantes partidos, estavam vazios, cerca de 150, dado que o método de  Hondt dá uma vantagem aos mais votados, neste caso a abstenção ...)  e que revela a necessidade de mudanças. Para obter o número de deputados eleitos por cada 1% de votos relativamente aos eleitores votantes, basta multiplicar os valores indicados pela percentagem de votantes, 55,86%.

partido ou                votos            % relativamente    nºdeputados     nºdeputados       nºvotos
conjunto                                          aos inscritos                             por cada 1%      por cada
                                                                                                     dos inscritos      deputado
                                                                                                     (eficiência)        (esforço)
inscritos               9 682 553           100,00%
votantes               5 408 805             55,86%                 230                       4,12        
abstenções           4 273 748             44,14%            

PSD                      2 082 511 (1)       21,51%                   89                       4,97(1)     19 463(1)  
PS                        1 747 685             18,05%                  86                       4,76          20 322
BE                           550 892               5,60%                 19                        3,34          28 994
CDS                                                                              18        
PCP                         445 980 (2)        4,61%                    15                       3,69(2)     26 234(2)
PEV                                                                                2
PAN                          57 849               0,60%                    1                        1,67         57 849
brancos e nulos         202 395               2,10%
restantes partidos      319 524              3,30%



(1) inclui votos no CDS; caso se considere a mesma distribuição de votos entre PSD e CDS das eleições de 2011, o PSD teria em 2015 recebido 1 598 479 votos (abaixo do PS) e o CDS 484 032 (acima do PCP/PEV), considerando que em conjunto estes dois partidos receberam menos 731 218 votos
(2) inclui votos no PEV

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