Refiro-me à taxa Euribor a 6 meses, aquela que às vezes é notícia por ser "manipulada" à conveniência de grandes bancos (com a devida vénia ao DN):
A teoria económica diz que se a taxa de inflação está alta aumentar a taxa de juro reduz a inflação e que se queremos aumentar a inflação devemos baixar a taxa de juro. Mas o que vemos é as taxas de juro a baixar, até negativas(!?) e a inflação a manter-se muito abaixo dos 2%.
Taxas de juro baixas e inflação e nível de
preços baixos podem ser muito interessantes para quem quer obter empréstimos e
comprar barato. Mas se quem quer obter empréstimos quer investir numa fábrica,
como é que se vai lançar nisso se a inflação e o nível de preços
estiverem baixos, pelo que teria de vender os seus produtos abaixo do preço de
produção e abaixo dos próprios juros?
É evidente: a economia europeia foi a que
reagiu pior à depressão de 2008.
Pobre Mario Draghi que parece que já
percebeu e que está a falar sozinho. Os sábios da troika não querem ouvir falar
de estímulos à produção (nem em combater o desemprego, nem em valorizar o fator
trabalho em detrimento do fator capital - claro que tem de se ampliar o plano
Juncker para além dos programas 2020, com a colaboração de equipas mistas para
estudo de investimentos, especialmente em países em que os decisores são
pessoas tão importantes que sabem sempre tudo, quer sejam presidentes de
empresas públicas ferroviárias ou rodoviárias, quer sejam presidentes de
câmaras de cidades com circulares entupidas).
E contudo, graças ao DN, é interessante
registar as opiniões de:
- Martin Wolf, economista chefe do
Financial Times: "os principais governos podem pedir emprestado com taxas
de juro reais nulas, ou até negativas a longo prazo. A obsessão pela
austeridade, mesmo quando os custos dos empréstimos são tão baixos, é de
loucos"... "os bancos centrais poderiam enviar dinheiro , de
preferencia em formato eletrónico, a todos os cidadãos adultos"...
Quando um ignorante como eu diz isto (ver
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2016/01/conto-fantastico-o-petroleo-ou-um-dia.html
) , e um economista como Martin Wolf também , a probabilidade de ser
verdade que os decisores estão loucos deve ser muito próxima de 1. Talvez
porque uma lei não obedece a curvas lineares, pode variar a sua derivada
consoante o domínio em que as variáveis se encontram . Não esperem que
aumentando o valor absoluto de taxas de juro negativas que a taxa de inflação
suba. É física, não é economia. A taxa de juro que uma empresa produtiva paga
depende das suas coordenadas geográficas, não da sua produtividade.
- Yanis Varoufakis, ex-ministro das
finanças da Grécia "embora os países europeus tenham permanecido
democráticos, as instituições da UE, para onde a soberania sobre as decisões
cruciais foi transferida, permaneceram sem democracia" ... "tal como
acontece com todos os gestores de carteis, os tecnocratas da UE trataram a
verdadeira democracia pan-europeia como uma ameaça ... quem se opõe à abordagem
tecnocrática é rotulado de anti-europeu" ... (nota minha: esta deve ser
dedicada ao senhor deputado Paulo Rangel).
O valor e a segurança de um depósito de um
cidadão europeu depende das coordenadas geográficas do seu banco. Mais uma vez
a física, não a economia.
Vale ainda a pena uma terceira opinião:
- Wolfgang Munchau: "Olhando para trás, o
erro crasso cometido pelas autoridades europeias foi não terem conseguido
limpar o sistema bancário em 2008, após o colapso do Lehman Brothers. Esse foi
o pecado original. Posteriormente, muitos mais erros agravaram o problema: a
austeridade orçamental pró-cíclica, as várias falhas de política do BCE e o
fracasso na criação de uma união bancária adequada. O mais curioso é que cada
uma dessas decisões foi, essencialmente, resultado da pressão exercida pelos
políticos alemães"
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/o-dinheiro-de-helicoptero-pode-nao-estar-muito-distante-5046431.html
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/yanis-varoufakis/interior/europa-a-democracia-ou-o-fim-5046361.html
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/wolfgang-munchau/interior/o-regresso-dos-gemeos-toxicos-das-financas-europeias-5029863.html
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