sexta-feira, 20 de maio de 2016

O jardim da cerca, as confissões de um desconhecido e a conferência dos grandes banqueiros

Em dias de sol, os fins de tarde no jardim da cerca, na Graça, são mesmo gloriosos. Não admira a satisfação dos utilizadores e a empáfia dos vereadores da câmara de Lisboa orgulhosos da sua obra.








Claro que eu tinha de dizer mal. Porque a simpática funcionária do pequeno quiosque não tinha de saber que eu precisava de utilizar as instalações sanitárias. Porque só pedindo-lhe a chave o posso fazer. Regredimos  milénios, Já os romanos sabiam que tinha de haver latrinas públicas.
Mas claro que tem de se cortar no pessoal. Se não o fizessem, como poderiam manter-se os números do desemprego?
O simpático desconhecido que partilha o banco do jardim comigo, tão idoso como eu, não resiste a meter conversa.
Sente-se a necessidade de desabafar, com a segurança de estar a ser ouvido por um desconhecido. Que o filho, gerente de uma dependencia bancária, homem de 50 anos, tinha ido ter com ele e pedira-lhe 150000 euros. Assim, sem mais nem menos. Que tinha aberto um buraco no banco e precisava do dinheiro. Mas tu não puseste a casa do Algarve à venda e ainda no mês passado compraste o Mercedes "the best or nothing". E não lhe deu o dinheiro. O homem deixou de aparecer em casa dos pais, não os deixou ver os netos e a mulher do senhor entrou em depressão, não sai de casa. Isto tinha sido no ano passado. Neste ano o filho já foi passar uns dias ao Dubai com a mulher e já tem as férias com os miúdos marcadas no Caribe. O senhor calcula que o buraco já seja de 175000 euros.
E eu, que estava, sem exito, a tentar ler a notícia da conferência dos 5 grandes banqueiros com as duas senhoras supervisoras não sei de que departamentos euro-burocrático-bancários, sou de repente levado  a acreditar que já sei o que podia explicar aos 5 grandes banqueiros, para que eles não façam a cara de incompreensão com que aparecem na fotografia do jornal.
Que um banco em que um gerente de uma dependencia desvia 175000 euros e só o pai do gerente sabe, só pode ser mal gerido. Não culpem os outros, sejam humildes, e se possível mudem de atividade, entreguem-na à comunidade, mas cuidado.

PS em  21 de maio - a recomendação de humildade aos senhores banqueiros é devida à forma sobranceira como um deles, em entrevista televisiva, afirmou sorridentemente que o seu banco só faz bons negócios, quando a outra parte, que fez um mau negócio, foi um banco público. Ou de como outro, também com sobranceria, afirmou que os bancos, apesar de obterem piores resultados, comparativamente com outras empresas,  não precisam de uma ajuda exterior, "divina", sob a forma de um banco mau (contrariando assim Tim Harford, Bulow e Klemperer).
Quando sugiro cuidado estou a pensar nos defeitos portugueses, pequenos grupos acharem que são os melhores...

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