segunda-feira, 16 de março de 2020

Audição dos peticionários da petição 612/XIII/4 no pavilhão multiusos de Odivelas em 10mar2020





Caro Colega
Antes de mais, peço desculpa pelo atraso na resposta. Junto à minha desorganização crónica a vontade de deixar as coisas definirem-se. Pedia-me as impressões sobre a audição dos peticionários da petição 612/XIII/4 para suspensão do projeto da linha circular.

Sim, fui. Para alem dos peticionários de Odivelas também apareceram representantes da comissão de trabalhadores do metro e, naturalmente, cidadãos e cidadãs de Odivelas e de Lisboa que sentem os seus interesses prejudicados com o corte da linha amarela.
Saí de lá a debater-me com um dilema: será que devo acreditar que é possível a união, a convergencia de mentes pensadoras de coisas diferentes mas que perante o interesse comum se unem?
Já viu o que é uma mesa com deputado(a)s do CDS, BE, PSD, PS, PCP, PAN a concordarem que a linha circular não serve os interesses da população de Loures e Odivelas, bem como da Malveira e Mafra? E a aplaudirem a apresentação powerpoint que os peticionários tinham preparado e que eu anexo, com a ênfase logo no segundo diapositivo no art.2º da Constituição, que  o objetivo é uma democracia participativa? 
Até o deputado do PS Ricardo Leão e o presidente da câmara de Odivelas alinharam, aceitando, rebuscadamente embora, os argumentos contra a "partilha" das linhas, tudo em nome dos interesses dos seus eleitores. 
Argumentos que tive  a oportunidade de apresentar, dizendo que é possível, aliás os engenheiros servem para tornar possível o que é impossível, mas não violam leis da Física, e por isso a partilha traduzir-se-á por aumentar o intervalo entre comboios (reduzir a frequencia) no troço da linha circular não "partilhada". Ora, o argumento apresentado no EIA era que a linha circular ia aumentar a frequencia. Além de que, com os cruzamentos de nivel dos comboios no Campo Grande  e no término intermédio onde os comboios de Odivelas inverterem para voltar para Odivelas, será extremamente dificil manter um intervalo regular (3,5 minutos no troço partilhado e 7 minutos no outro) se a cadencia for um comboio para cada lado) e qualquer excesso de afluencia repercutirá perturbações em toda a linha circular.
Um modelo matemático para estes cruzamentos será imaginar a probabilidade, numa exploração aleatória (ui, o caso é semelhante à roleta de S.Paulo. qual  a probabilidade de atravessar incólume um cruzamento quando os semáforos estiverem vermelhos) do comboio proveniente de Odivelas encontrar o sinal permissivo em Campo Grande no pressuposto do comboio proveniente de Cais do Sodré por Rato e que segue para Alvalade, não ter sido atrasado pela manobra de inversão de um outro comboio no Rato com destino a Odivelas. Para não atrasar o comboio de Odivelas que quer seguir para Rato terá de se programar intervalos entre comboios e sucessivas atuações da agulha de mudança de via com uma almofada de tempo superior a 30 segundos para garantir os tais 3,5 minutos no troço partilhado, e é um pressuposto otimista, dificilmente cumprível na prática.
Gostei muito de ouvir o equilibrio das intervenções dos cidadãos e especialmente a de um antigo inspetor de movimento no metropolitano.  Como ninguem ele conheceu os requesitos da gestão da operação de uma linha de metro, porque esteve sentado aos comandos e em comunicaçáo com os comboios em movimento, acompanhando e adaptando-se à evolução tecnológica. Deviam ouvi-lo, os senhores decisores.

Como disse, saí de lá a pensar, é possível, é possível, pôr de parte as ideologiazinhas, os preconceitozinhos, as certezazinhas, as necessidadezinhas de afirmação que as inseguranças ou desconhecimentos geram como Freud mostrou. É possível deixar para segundo plano as piruetas dos artistas da política flexível.

Só que, no dia seguinte, por descargo de consciencia, liguei o canal parlamento no site do parlamento, para a reunião com o senhor ministro do Ambiente, quem tutela o metro:

E eis que que regresso à realidade, dum lado os senhores deputados não afetos ao partido do governo, pondo as suas questóes sobre vários temas de transportes, entre os quais a linha circular e se afinal o governo cumpre ou não a resolução da AR. Do outro o senhor ministro, sabiamente industriado pelos seus conselheiros de imagem para começar as suas intervenções com ar cansado e sorumbático, para progressivamente ir desabrochando e , nas suas próprias palavras, "remoçando" graças à presença dos contraditores, dando toda a atenção aos argumentos contrários mas não mudando um milímetro. Confortavelmente apoiado pelos seus deputados. Aliás, o metro vai relançando o concurso para o lote 2, Santos-Cais do Sodré com um preço base de 90 milhões quando a proposta mais baixa recebida na primeira tentativa foi de 89 milhões e quando há tanto, tanto tempo, se vem dizendo que a complexidade da obra exige mais do que isso ... E quando a deputada Filipa Roseta pede acesso ao projeto, a resposta bem humorada do senhor ministro foi de que não sabia como se faz esse acesso mas ia ver, e que atenção o projeto podia ter proprietário (?! Os direitos conexos transitam, salvo melhor e sem dívida douta opinião, para a empresa contratante ou empregadora do autor).
Eu posso explicar o acesso aoprojeto. Pede-se às relações públicas do metro e é marcada uma sessão para "mostrar" o projeto, acede-se a uns computadores e deixa-se ir passando as "janelas" com os desenhos e muito obrigado, muito prazer, até à próxima. Por outras palavras, estamos perante uma violação grosseira do art.37º.1 da Constituição. Como aliás se tem verificado com a ocultação sistemática do estudo da VTM comparando a linha circular com o prolongamento S.Sebastião-Campo de Ourique. 
Apreciei o argumento do senhor ministro que só havia dinheiro para fazer 2 km de Rato a Cais do Sodré, e que portanto a comparação era com os 2 km de S.Sebastião a Campo de Ourique pela linha vermelha.
Pois é. independentemente de que o acréscimo de encargos financeiros por passageiro-km seria menor na ligação S.Sebastião -Alcantara Mar em viaduto pela linha vermelha,  se queriam comparar 2 km comparavam com Rato-Alcantara Mar em viaduto pela linha amarela, que pouco mais é que 2 km e tem uma construção por km mais barata e já estudada no metro, na parte subterrânea, há quase 20 anos. Estão lá os estuos dessa altura.
Apreciei ainda, para além dos comentários ao Poligrafo como nome provável de um evangelista, à imutabilidade da mayonese de lagosta e à recusa de ser licenciador de aeroportos, a sonora gargalhada com que anunciou que era "óbvia" (o tempo que eu levei a calcular os intervalos de tempo entre comboios para as várias hipóteses de exploração das duas linhas, como eu gostaria de ser rápido nas análises) a redução para metade da frequencia no troço não partilhado da linha circular, comentando que era um argumento circular.
Pois é, é um argumento circular, começar por dizer que a frequencia vai aumentar, mas que para partilhar vai reduzir. Até o senhor deputado Ricardo Leão ficou a acreditar que vai haver partilha da linha circular e da linha de Odivelas, recomposta a sua fé na infalibilidade do partido.
Lá possivel é, mas não vai haver problema, quando nas horas de ponta se verificar o comportamento das agulhas no Campo Grande e no término intermédio da inversão dos comboios de Odivelas, voltará a não haver partilha.
Círculos de quem não acredita nos inconvenientes de linhas circulares e partilhas, se o metro de Londres pudesse evitar ambas, teria gostado muito, mas só arranjou orçamento para acabar com o anel da linha circular. O que desgostará o senhor ministro, não há mesmo anel na partilha da ex linha circular de Londres, agora linha em laço.
Em suma, a postura do senhor ministro não corresponde ao pedido do deputado Gonçalves Pereira, que pediu humildade na aceitação das opiniões contrárias,  nem à posição do senhor ministro das Infraestruturas que afirmou que o governo aceitaria com humildade as decisões da AR sobre o aeroporto e a lei da obrigatoriedade de aprovação pelas autarquias (curioso, 2 dias depois é o próprio senhor 1º ministro que vem dizer que a oposição das câmaras ao aeroporto do Montijo não é política, é  técnica; que poderíamos pensar sobre a posição do governo relativamente à suspensão da linha circular se ele a considerasse apenas uma questão técnica e não política? qual seria a sua posição? retiraria os adjetivos de irresponsáveis, incompreensíveis, lamentáveis e inexplicáveis?).
Uma palavra ainda para a reafirmação pelo governo da intenção da transferencia das competencias do planeamento e gestão dos transportes para a AML e a AMP conforme a lei 52 / 2015 do XIX governo. 
Vamos aguardar, o problema raramente está nas leis, está mais em quem as devia aplicar. 
E a sobranceria com que o senhor presidente da CML sistematicamente proclama a superioridade das suas opções (o que não quer dizer que não contenham aspetos positivos) não augura nada de bom.

Petição 612/XIII/4 :



























1 comentário:

  1. Sou grato por esta sua reflexão.Infelizmente confirma-se que o que se diz à noite é desdito pela manhã, em função do local e dos públicos. Nitidamente existe um conflito entre o Presidente da Assembleia Municipal de Loures Ricardo Leão e o Deputado Ricardo Leão.
    Quanto ao Sr. Ministro fez o que eu preconizei na entrevista que dei no final da Audição à NotíciasLx (https://www.youtube.com/watch?v=uCWHvBmoY5Y&feature=youtu.be&t=26&fbclid=IwAR3H9-sNYkWsY2UqX_nsswH1-nhB--s9JgVK1NNmGxIfggyuRxx06uNP_rg). De novo deixou-se tentar pela soberba.
    Acalenta-me a ideia que mesmo muita gente está connosco e alerta. Verifico ainda a fraqueza dos nossos media, que acorrem sequiosos aos eventos onde possa haver sangue, mas recusam vislumbrar a Verdade, a acção dos cidadãos e o momento histórico que é ter do mesmo lado partidos como BE, o CDS, o PAN, o PCP, o PEV, o PSD e o Chega, bem como não serem capazes de verificar a incongruência do PS que até se abstém (com alguns deputados socialistas a aprovarem inclusive) recomendações da Assembleia da República sobre este tema, mas depois é este mesmo partido o cangalheiro da Linha Amarela.

    O que poderão esperar de nós?
    Tenacidade!
    Firmeza na acção e valores que defendemos!
    Somos cidadãos, o poder primário é nosso.
    Estamos assim exortados a exercê-lo!

    A si, Eng.º Fernando, o meu bem-haja por ter escolhido e agir em prol do lado certo da História!

    @Contra o Fim da Linha Amarela

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