Caro Colega
Antes de mais, peço desculpa pelo atraso
na resposta. Junto à minha desorganização crónica a vontade de deixar as coisas
definirem-se. Pedia-me as impressões sobre a audição dos peticionários da
petição 612/XIII/4 para suspensão do projeto da linha circular.
Sim, fui. Para alem dos peticionários de
Odivelas também apareceram representantes da comissão de trabalhadores do metro
e, naturalmente, cidadãos e cidadãs de Odivelas e de Lisboa que sentem os seus
interesses prejudicados com o corte da linha amarela.
Saí de lá a debater-me com um dilema: será
que devo acreditar que é possível a união, a convergencia de mentes pensadoras
de coisas diferentes mas que perante o interesse comum se unem?
Já viu o que é uma mesa com deputado(a)s
do CDS, BE, PSD, PS, PCP, PAN a concordarem que a linha circular não serve os
interesses da população de Loures e Odivelas, bem como da Malveira e Mafra? E a
aplaudirem a apresentação powerpoint que os peticionários tinham preparado e
que eu anexo, com a ênfase logo no segundo diapositivo no art.2º da
Constituição, que o objetivo é uma democracia participativa?
Até o deputado do PS Ricardo Leão e o
presidente da câmara de Odivelas alinharam, aceitando, rebuscadamente embora, os
argumentos contra a "partilha" das linhas, tudo em nome dos
interesses dos seus eleitores.
Argumentos que tive a oportunidade
de apresentar, dizendo que é possível, aliás os engenheiros servem para tornar
possível o que é impossível, mas não violam leis da Física, e por isso a
partilha traduzir-se-á por aumentar o intervalo entre comboios (reduzir a
frequencia) no troço da linha circular não "partilhada". Ora, o
argumento apresentado no EIA era que a linha circular ia aumentar a frequencia.
Além de que, com os cruzamentos de nivel dos comboios no Campo Grande e
no término intermédio onde os comboios de Odivelas inverterem para voltar para
Odivelas, será extremamente dificil manter um intervalo regular (3,5 minutos no
troço partilhado e 7 minutos no outro) se a cadencia for um comboio para cada
lado) e qualquer excesso de afluencia repercutirá perturbações em toda a linha
circular.
Um modelo matemático para estes
cruzamentos será imaginar a probabilidade, numa exploração aleatória (ui, o
caso é semelhante à roleta de S.Paulo. qual a probabilidade de atravessar incólume um
cruzamento quando os semáforos estiverem vermelhos) do comboio proveniente de
Odivelas encontrar o sinal permissivo em Campo Grande no pressuposto do comboio
proveniente de Cais do Sodré por Rato e que segue para Alvalade, não ter sido
atrasado pela manobra de inversão de um outro comboio no Rato com destino a
Odivelas. Para não atrasar o comboio de Odivelas que quer seguir para Rato terá
de se programar intervalos entre comboios e sucessivas atuações da agulha de
mudança de via com uma almofada de tempo superior a 30 segundos para garantir
os tais 3,5 minutos no troço partilhado, e é um pressuposto otimista, dificilmente
cumprível na prática.
Gostei muito de ouvir o equilibrio das intervenções dos cidadãos e especialmente a de um antigo inspetor de movimento no metropolitano. Como ninguem ele conheceu os requesitos da gestão da operação de uma linha de metro, porque esteve sentado aos comandos e em comunicaçáo com os comboios em movimento, acompanhando e adaptando-se à evolução tecnológica. Deviam ouvi-lo, os senhores decisores.
Como disse, saí de lá a pensar, é
possível, é possível, pôr de parte as ideologiazinhas, os preconceitozinhos, as
certezazinhas, as necessidadezinhas de afirmação que as inseguranças ou
desconhecimentos geram como Freud mostrou. É possível deixar para segundo plano
as piruetas dos artistas da política flexível.
Só que, no dia seguinte, por descargo de
consciencia, liguei o canal parlamento no site do parlamento, para a reunião
com o senhor ministro do Ambiente, quem tutela o metro:
E eis que que regresso à realidade, dum
lado os senhores deputados não afetos ao partido do governo, pondo as suas
questóes sobre vários temas de transportes, entre os quais a linha circular e
se afinal o governo cumpre ou não a resolução da AR. Do outro o senhor
ministro, sabiamente industriado pelos seus conselheiros de imagem para começar
as suas intervenções com ar cansado e sorumbático, para progressivamente ir
desabrochando e , nas suas próprias palavras, "remoçando" graças à
presença dos contraditores, dando toda a atenção aos argumentos contrários mas
não mudando um milímetro. Confortavelmente apoiado pelos seus deputados. Aliás,
o metro vai relançando o concurso para o lote 2, Santos-Cais do Sodré com um
preço base de 90 milhões quando a proposta mais baixa recebida na primeira
tentativa foi de 89 milhões e quando há tanto, tanto tempo, se vem dizendo que
a complexidade da obra exige mais do que isso ... E quando a deputada Filipa
Roseta pede acesso ao projeto, a resposta bem humorada do senhor ministro foi
de que não sabia como se faz esse acesso mas ia ver, e que atenção o projeto
podia ter proprietário (?! Os direitos conexos transitam, salvo melhor e sem
dívida douta opinião, para a empresa contratante ou empregadora do autor).
Eu posso explicar o acesso aoprojeto. Pede-se
às relações públicas do metro e é marcada uma sessão para "mostrar" o
projeto, acede-se a uns computadores e deixa-se ir passando as
"janelas" com os desenhos e muito obrigado, muito prazer, até à
próxima. Por outras palavras, estamos perante uma violação grosseira do
art.37º.1 da Constituição. Como aliás se tem verificado com a ocultação
sistemática do estudo da VTM comparando a linha circular com o prolongamento
S.Sebastião-Campo de Ourique.
Apreciei o argumento do senhor ministro que
só havia dinheiro para fazer 2 km de Rato a Cais do Sodré, e que portanto a
comparação era com os 2 km de S.Sebastião a Campo de Ourique pela linha
vermelha.
Pois é. independentemente de que o
acréscimo de encargos financeiros por passageiro-km seria menor na ligação
S.Sebastião -Alcantara Mar em viaduto pela linha vermelha, se queriam
comparar 2 km comparavam com Rato-Alcantara Mar em viaduto pela linha amarela,
que pouco mais é que 2 km e tem uma construção por km mais barata e já estudada
no metro, na parte subterrânea, há quase 20 anos. Estão lá os estuos dessa
altura.
Apreciei ainda, para além dos comentários
ao Poligrafo como nome provável de um evangelista, à imutabilidade da mayonese
de lagosta e à recusa de ser licenciador de aeroportos, a sonora gargalhada com
que anunciou que era "óbvia" (o tempo que eu levei a calcular os
intervalos de tempo entre comboios para as várias hipóteses de exploração das
duas linhas, como eu gostaria de ser rápido nas análises) a redução para metade
da frequencia no troço não partilhado da linha circular, comentando que era um
argumento circular.
Pois é, é um argumento circular, começar
por dizer que a frequencia vai aumentar, mas que para partilhar vai reduzir.
Até o senhor deputado Ricardo Leão ficou a acreditar que vai haver partilha da
linha circular e da linha de Odivelas, recomposta a sua fé na infalibilidade do
partido.
Lá possivel é, mas não vai haver problema,
quando nas horas de ponta se verificar o comportamento das agulhas no Campo
Grande e no término intermédio da inversão dos comboios de Odivelas, voltará a
não haver partilha.
Círculos de quem não acredita nos
inconvenientes de linhas circulares e partilhas, se o metro de Londres pudesse
evitar ambas, teria gostado muito, mas só arranjou orçamento para acabar com o
anel da linha circular. O que desgostará o senhor ministro, não há mesmo anel
na partilha da ex linha circular de Londres, agora linha em laço.
Em suma, a postura do senhor ministro não
corresponde ao pedido do deputado Gonçalves Pereira, que pediu humildade na
aceitação das opiniões contrárias, nem à posição do senhor ministro das Infraestruturas
que afirmou que o governo aceitaria com humildade as decisões da AR sobre o
aeroporto e a lei da obrigatoriedade de aprovação pelas autarquias (curioso, 2
dias depois é o próprio senhor 1º ministro que vem dizer que a oposição das
câmaras ao aeroporto do Montijo não é política, é técnica; que poderíamos
pensar sobre a posição do governo relativamente à suspensão da linha circular
se ele a considerasse apenas uma questão técnica e não política? qual seria a
sua posição? retiraria os adjetivos de irresponsáveis, incompreensíveis,
lamentáveis e inexplicáveis?).
Uma palavra ainda para a reafirmação pelo
governo da intenção da transferencia das competencias do planeamento e gestão
dos transportes para a AML e a AMP conforme a lei 52 / 2015 do XIX governo.
Vamos aguardar, o problema raramente está nas leis, está mais em quem as devia
aplicar.
E a sobranceria com que o senhor presidente da CML sistematicamente
proclama a superioridade das suas opções (o que não quer dizer que não
contenham aspetos positivos) não augura nada de bom.
Sou grato por esta sua reflexão.Infelizmente confirma-se que o que se diz à noite é desdito pela manhã, em função do local e dos públicos. Nitidamente existe um conflito entre o Presidente da Assembleia Municipal de Loures Ricardo Leão e o Deputado Ricardo Leão.
ResponderEliminarQuanto ao Sr. Ministro fez o que eu preconizei na entrevista que dei no final da Audição à NotíciasLx (https://www.youtube.com/watch?v=uCWHvBmoY5Y&feature=youtu.be&t=26&fbclid=IwAR3H9-sNYkWsY2UqX_nsswH1-nhB--s9JgVK1NNmGxIfggyuRxx06uNP_rg). De novo deixou-se tentar pela soberba.
Acalenta-me a ideia que mesmo muita gente está connosco e alerta. Verifico ainda a fraqueza dos nossos media, que acorrem sequiosos aos eventos onde possa haver sangue, mas recusam vislumbrar a Verdade, a acção dos cidadãos e o momento histórico que é ter do mesmo lado partidos como BE, o CDS, o PAN, o PCP, o PEV, o PSD e o Chega, bem como não serem capazes de verificar a incongruência do PS que até se abstém (com alguns deputados socialistas a aprovarem inclusive) recomendações da Assembleia da República sobre este tema, mas depois é este mesmo partido o cangalheiro da Linha Amarela.
O que poderão esperar de nós?
Tenacidade!
Firmeza na acção e valores que defendemos!
Somos cidadãos, o poder primário é nosso.
Estamos assim exortados a exercê-lo!
A si, Eng.º Fernando, o meu bem-haja por ter escolhido e agir em prol do lado certo da História!
@Contra o Fim da Linha Amarela