segunda-feira, 9 de março de 2020

Como se fosse uma associação de estudantes

Numa das conferências em que por força da minha condição de reformado estava a assistir, alguém comentou no meio das conversas no intervalo sobre a discussão dos conceitos de competitividade em que os oradores tinham insistido, que "uma empresa não é uma associação de estudantes".
E eu, que sou muito lento a reagir, só quando cheguei a casa me lembrei de pegar no mote, como segue:


Que querem, se usarmos uma linguagem coloquial, sou um sentimental.
Ou numa perspetiva da psicologia clássica, sou um secundário, fico a pensar nas coisas, recordando muito. Por oposição aos primários, que pena foi ter-se generalizado a utilização ofensiva do termo, primário não significa menos inteligente, apenas que não se detém nos pormenores, como eu, que fico a pensar neles, e emociono-me.
Durante uma visita ao meu antigo local de trabalho (nunca se deve voltar a um sítio onde se foi feliz, mas eu também gosto de contrariar os ditados) dei de caras com um antigo jovem colaborador. Que agora está menos jovem, claro,
E emocionei-me, pronto, porque ele disse qualquer coisa que eu interpretei, e pelo ar bem disposto dele, parece que bem, como um elogio.
Não vou dizer sobre o que falámos porque há um pequeno pormenor de natureza deontológica que impõe reservas à discussão técnica. Não devia ser assim, deviamos ser mais transparentes, mas somos assim, vamos esperar que as coisas evoluam. Mas foi reconfortante para mim saber que há uma sintonia.
Sabe-me bem sentir que sim, que os colaboradores que permanecem no ativo ainda têm consideração por mim. É que eu colaborei nos seus processos de admissão e sempre fiz tudo para que os mais indicados para as funções fossem selecionados e que se tornassem melhores do que eu. Não consegui reter alguns candidatos, mas os que consegui que ficassem não me desiludiram.
É uma imodéstia minha, que se os que ficaram depois de mim são melhores do que eu, foi porque eu os ajudei a serem assim, nunca receei que me ficassem com o lugar, como coloquialmente podemos dizer, nem nunca quis que fossem subservientes.
Por isso me emociono quando os encontro.
Outros dirão que as empresas são como uma família. Eu não quereria isso, longe vá o agouro do nepotismo.
Eu diria, talvez como uma associação de estudantes, um grupo de pessoas que está em permanente processo de aprendizagem, que se junta num esforço para mobilizar uma energia jovem, que é depositário da confiança da comunidade em geral que aliás espera deles, os assumidos "estudantes", o contributo progressivamente mais elaborado, ai o que a tecnologia avança, e consistente com o conceito de serviço.
Isto pensei quando mais à frente encontro outro antigo jovem colaborador que tem uma atividade cultural nos seus tempos livres, numa associação musical. A musica é a linguagem universal que une as pessoas. Como já eram essas preocupações culturais das associações de estudantes.
Recordei com este meu amigo a colaboração que tivemos durante a realização em Lisboa de uma reunião do subcomité de instalações de segurança de circulação da UITP/metros.
Talvez em 2005 ou 2006.
Reunião que foi como um encontro de associações de estudantes, para não dizer como se fosse um Erasmus.
Durante o dia tinhamos as nossas reuniões num hotel próximo do Marquês de Pombal, sobre os segredos da manutenção das instalações de baixa tensão, das instalações de média e alta tensão, das instalações de ventilação, de escadas mecânicas, de sinalização ferroviária, de telecomunicações nos metropolitanos, etc, etc, e de como poderemos aumentar a eficiencia energética na exploração das redes de metro... enquanto as senhoras que acompanhavam os colegas cumpriam o programa para visitantes que aquele meu amigo cuidadosamente organizara. E que pena que eu sempre tive. Todos os colegas dos outros metropolitanos eram masculinos. Ainda tive umas reuniões no metro de Teerão em que apareceram colegas (femininas), mas zut, zut e zut, estavam sentadas na 2ªfila e transmitiam o que tinham a dizer aos seus colegas (masculinos), que depois nos retransmitiam os pareceres. Ainda por cima vestidas de negro e com lenços na cabeça, como o vestuário que vemos nas gravuras do século XIV ... como custa a evoluir, a espécie humana.
Mas voltando à nossa reunião em Lisboa, cometi uma quase ilegalidade, desafiei a minha mulher a desempenhar funções de guia turistica,  e ela justificou na escola em que era professora que precisava de uns dias de licença sem vencimento para ajudar o país a ser promovido (os senhoritos e as senhoritas de agora acham mesmo que descobriram a pólvora e a mina de ouro do turismo pra salvar o país?). A direção da escola concordou e ei-la a mostrar Óbidos, opidium, às senhoras francesas, austriacas, alemãs, belgas, espanholas... que derretidas ficaram.
Enfim, é por isso que gosto de voltar à minha antiga associação de estudantes, perdão, ao local da minha antiga atividade profissional em transportes metropolitanos.


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