sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Caro Mr David Frost, digno Secretário de Estado para os Assuntos do Brexit xxxxxxxxxxxxxx Dear Mr David Frost, worthy Secretary of State for Brexit Affairs

https://www.publico.pt/2021/10/11/mundo/noticia/ue-perder-paciencia-reino-unido-causa-protocolo-irlanda-1980669

https://www.publico.pt/2021/10/13/mundo/entrevista/david-frost-ninguem-quer-guerra-comercial-preferiamos-chegar-acordo-ue-1980930



Caro Mr David Frost

Obrigado pelas suas entrevistas e esclarecimentos sobre o Brexit e o atual papel do UK no mundo.

Um dos temas dessas entrevistas foi a Irlanda. Por uma associação de ideias, ocorreu-me uma crónica do nosso escritor Eça de Queirós, que nos anos de 1880 era diplomata em Londres e enviava as suas análises para um jornal do Porto.

Podemos dizer que, para além do aspeto de entretenimento das crónicas, vale a profundidade da análise política, social e geoestratégica para compreendermos o papel do UK na História, no presente e, se a estratégia britânica não mudar, no futuro. Não me pareceu necessário ir às apreciações  de Marx, contemporâneas das de Eça,  sobre as empresas inglesas na Irlanda, nem recuar aos tempos de Thomas More.

Vou transcrever parte dessa crónica sobre a Irlanda com referências ao Afeganistão, então como agora, e referir outra sobre o Egito (embora longe vai  o caso do Suez em 1956), com a secreta esperança de que venha a ler a tradução do livro de crónicas, "Cartas de Inglaterra" e de alguns dos romances de Eça.

"Os males da Irlanda, muito antigos, muito complexos, provêm, sobretudo, do sistema semifeudal da propriedade ... Se, como é de temer, a Irlanda vier a esquecer-se do que deve a si e à Inglaterra - escrevia o solene jornal Standard - é doloroso pensar que no próximo inverno, para manter a integridade do império, a santidade da lei e a inviolabilidade da propriedade, nõs teremos de ir, com o coração negro de dor, mas a espada firme na mão, levar à Irlanda, à ilha irmã, à ilha bem-amada, uma necessária exterminação".

Isto reportava Eça depois da aprovação pela câmara dos comuns de uma lei justa para os irlandeses, mas que foi chumbada pela câmara dos lordes.

Eis como é possível, no país do povo donde saiu quem gerou grandes conquistas do pensamento humano, da organização política, das consultas populares, do método científico, da industrialização, um grupo usar as instituições para bloquear o interesse público (toda e qualquer semelhança com o processo do Brexit é pura coincidência).

Sobre o Afeganistão diz a mesma crónica:

"Em 1847 os ingleses...invadem o Afeganistão e aí vão aniquilando tribos seculares...apossam-se por fim da santa cidade de Cabul... assim é exatamente em 1880". 

Sobre o Egito, Eça  descreve o bombardeamento de Alexandria pelos couraçados do almirante Seymour, a pretexto da não entrega dos fortes de Alexandra aos ingleses, e presta homenagem ao patriota Arabi-Pachá. No fundo, o UK queria manter o controle do canal do Suez, como a História se repete (anos 50 do século XX, Naguib e Nasser) e para isso queria um kediva fantoche no poder .

Não perca. Mr Frost, as "Cartas de Inglaterra"


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Dear Mr David Frost

 Thank you for your statements and clarifications about Brexit and the current role of the UK in the world.

 One of the highlighted themes was Ireland. Due to an association of ideas, a chronicle of our writer Eça de Queirós occurs to me, who in the 1880s was a diplomat in London and sent his analyzes to a newspaper in Porto.

 We can say that, in addition to the entertainment aspect of the chronicles, it is worth the depth of political, social and geostrategic analysis to understand the role of the UK in History, in the present and, if the British strategy does not change, in the future. It is not necessary for me to go back to Marx's assessments, contemporaneous with Eça's, on English companies in Ireland, nor to go back to the times of Thomas More.

 I will transcribe part of the chronicle about Ireland with references to Afghanistan then like as now, and refer another one about Egypt (although the Suez case in 1956 goes far), with the secret hope that you will read the translation of the chronicle book "Letters from England" and some of Eça's novels.

 "Ireland's evils, very old, very complex, come, above all, from the semi-feudal system of property... If, as is feared, Ireland were to forget what owed to itself and to England - wrote the solemn Standard newspaper - it is painful to think that next winter, in order to maintain the integrity of the empire, the sanctity of the law and the inviolability of property, we will have to go, with hearts black with pain but sword steady in hand, to lead to Ireland , to the sister island, to the beloved island, a necessary extermination".

 This reported Eça after the approval by the House of Commons of a law just for the Irish, but which was failed by the House of Lords.

 Here is, in the country of the people from which came who generated great achievements in human thought, political organization, popular consultations, the scientific method, industrialization,   how it is possible for a group to use the institutions to block the public interest (any and all resemblance to the Brexit process is pure coincidence).

 The same chronicle says about Afghanistan:

 "In 1847 the British ... invade Afghanistan and there they annihilate secular tribes ... finally take possession of the holy city of Kabul...that's exactly how it is in 1880".

On Egypt, Eça describes the bombing of Alexandria by Admiral Seymour's battleships, under the pretext of not handing over Alexandra's forts to the English, and pays homage to the patriot Arabi-Pacha.  Basically, the UK wanted to keep control of the Suez channel, as history repeats itself (the 50s of the 20th century, Naguib and Nasser) and for that they wanted a puppet kediva in power.


Don't miss it. Mr Frost, the "Letters from England"

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