https://www.transportesenegocios.pt/tn-debate-transporte-ferroviario-de-mercadorias-2/
Tendo assistido a parte deste seminário, enviei ao diretor da T&N o seguinte comentário.
Felicito-o por mais um interessante seminário, não só por debater ideias mas também por mostrar a atividade que se vem desenvolvendo.
Confesso que não pude seguir todas as intervenções por ao mesmo tempo tentar seguir o congresso da Ordem dos Engenheiros e porque ocorreu um pequeno incidente de um equipamento doméstico (coisas que normalmente não perturbam as participações presenciais). Por tal motivo, muito apreciaria a disponibilização das sessões do seminário no site da T&N. No entanto, na intervenção do eng. Mario Fernandes, chamou-me a atenção o diapositivo em que se mostrava, salvo erro, um valor da ordem de 80% para as exportações para Espanha, 6% para França e 3% para a Alemanha. Perante esta situação, parece evidente que a nossa ferrovia pode contentar-se a médio prazo com o comercio apenas com Espanha, mantendo uma quota reduzida com o resto da Europa.
Contudo, consultando as estatísticas do INE, podemos ver os seguintes números, comparando as exportações de Espanha com as exportações para o conjunto França+Belgica+Alemanha :
1 - exportações por modo em M€ em 2020
ferro+rodoviário: Espanha 11865 , FR+BE+AL 12116
marítimo : Espanha 734 , FR+BE+AL 1860
2 - exportações por modo em Mton em 2020
ferro+rodoviário: Espanha 10,0 , FR+BE+AL 3,2
marítimo : Espanha 1,6 , FR+BE+AL 1,7
3 - exportações por todos os modos em M€ de janeiro a agosto de 2021
mundo 41133,6
intra UE 29221,9
extra UE 11911,7
FR+BE+AL 11027,1
Espanha 10766
Isto é, embora as exportações para Espanha tenham em toneladas maior peso do que as exportações para o conjunto referido, isso já não acontece em termos de valor (ou o VAB é muito reduzido nas exportações para Espanha comparativamente com as exportações para França e Alemanha).
Resulta daqui a divergencia que o grupo do manifesto Portugal, uma ilha ferroviária (curiosamente, até Carlos Cipriano, no Público, já aceita este termo) tem com a estratégia dos agrupamentos AEIE, AVEP e RCF4, por considerar que, sendo muito longo o prazo entre a decisão e a conclusão da obra, estamos a limitar futuramente o crescimento das exportações para a Europa além Pirineus e a transferência de cargas rodoviárias para a ferrovia. Aliás, na mesa redonda, ficou claro que já se devia estar a investir no transporte de camiões ou semirreboques pela ferrovia.
Outros motivos de divergência são:
- o incumprimento dos regulamentos 1315 e 1316, cuja natureza é vinculativa apesar da condescendência da DG Move em perdoar o prazo de 2030 para a interligação da rede nacional com a rede única europeia segundo os padrões da interoperabilidade (que incluem a bitola UIC e o ERTMS, discordando-se da posição expressa pelo dr Lucas Teixeira de que a bitola não é um tema, enquanto o ERTMS é outro tema a carecer de debate e decisão)
- a insistência em aproveitar ao máximo traçados antigos (com pendentes acima de 1,2% e limitações de velocidade, e portanto com menor eficiência energética) para o corredor atlântico
Gostaria ainda de destacar a oposição bem vincada pela mesa redonda ao fecho da plataforma de Bobadela, acrescentando eu que uma análise de riscos expedita deteta sérios riscos para a concentração de 2,5 milhões de pessoas numa zona limitada pelo rio e pela linha férrea, e cortada por uma via rápida, o IC12. Um estudo cuidadoso permitiria conservar uma parte importante da plataforma e aproveitar a outra parte para os fins de lazer invocados.
Reiterando o apreço pelas iniciativas da T&N , apresento os melhores cumprimentos
Endereços do INE com as estatísticas citadas:
Exportações por modo em kg em 2020
Exportações por modo em euros em 2020
Exportações por todos os modos em euros de janeiro a agosto de 2021
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