Objectivamente falando, há divergências entre os decisores e os profissionais. Subjectivamente falando, os decisores desvalorizam essas divergências.
Mas voltando a falar objectivamente, será maior a probabilidade de ser a correcta a estratégia proposta pelos profissionais , por deterem mais conhecimentos de pormenor da realidade.
Repassemos exemplos:
1 – uma juíza presidente diz que o novo “campus” judiciário não é funcional. O senhor ministro desvaloriza;
2 - a saída do Tribunal da Boa Hora (alimentando assim o novo “campus”) contribui para a desertificação da Baixa; o senhor presidente da Câmara de Lisboa não acha grave a saída do Tribunal;
3 – o senhor ministro da Administração Interna revê-se satisfeito nos seus regulamentos e nas suas estatísticas; mas o general comandante da GNR não consegue esconder a sua discordância, especialmente quanto ao subdimensionamento do quadro de efectivos, e também sobre a inconsciência das consequências da extinção da Brigada de Transito na sinistralidade rodoviária (claro que a evolução da sinistralidade é no bom sentido, mas é demasiado lenta para ser aplaudida)
4 – um médico cirurgião pediátrico clama que o fecho do Hospital da Estefania é um disparate internacional; o programa inflexível dos decisores impõe a integração no novo grande hospital central para adultos (lembram-se do triste caso da morte do bebé por falta de formação da enfermeira que o submeteu a alimentação intravenosa em vez de naso-gástrica? Não pode mesmo poupar-se na formação do pessoal…)
5 – um juiz desembargador afirma que a justiça em Portugal é diferente para ricos e para pobres; o senhor ministro acha que não
6 – eu, humilde e insignificante técnico de transportes, faço propostas que são rejeitadas pelos decisores; sinceramente, acham que a minha auto-estima ficaria bem se os decisores concordassem comigo? Ou eu teria de ver bem onde estava a errar…
7 – os decisores, coitados, só podem:
7.1 – tentar formar um grupo de técnicos que lhes validem as soluções; normalmente só funciona se os técnicos forem honestos e as propostas tecnicamente correctas
7.2 – desvalorizar a gravidade do erro ou desviar a atenção para outros problemas
7.3 – desautorizar e desmerecer dos técnicos – é a solução usada para desacreditar os professores, os funcionários públicos, os médicos (a Dra Leonor Beleza foi a primeira a abrir esta caixa de Pandora e continua muito segura de si própria); acaba por não dar resultado porque no fundo, a estratégia é a de desacreditar eleitores; não parece dar.
Por isso eu sugeria aos decisores que dêem mais importância aos pareceres dos técnicos com experiência nos domínios concretos.
Substitua-se a Juíza pelo Ministro da Justiça, o General pelo Ministro da Administração Interna, o médico cirurgião pelo Ministro da Saúde e o Juiz desembargador pelo parlamento.
ResponderEliminarMas, Será que este técnicos de justiça, de saúde e de segurança são técnicos de decisão?
Pois não são.
Afinal, o que é necessário são técnicos de decisão. Será isso que se infere do post?
PHP
Correcto. Há técnicas para tomada de decisão. Por isso tem de haver técnicos de decisão. Só que não os vejo. Os decisores ignoram sistematicamente as técnicas de decisão. Por exemplo, quando um decisor afirma que nenhum decisor foi capaz de fazer o que ele fez, ou quando se afirma muito satisfeito consigo próprio, ou quando patrocina notícias encomiásticas sobre a sua empresa, revela ignorancia ou incapacidade de utilizar as técnicas correctas de tomada de decisão. É um facto, aborrecido mas real. E muit prejudicial para a comunidade...
ResponderEliminarAh! É verdade, esqueci-me de dizer: como não sou técnico de decisão, só posso recomendar o que especialistas da matéria escreveram. Insisto que um dos melhores guias para estudo dos métodos de tomada de decisão é a "Sabedoria das Multidões" de James Surowick. Editora Lua de Papel. Muito instrutivo também. Se os políticos o lessem e compreendessem não vinham com aquela da ingovernabilidade e da proposta de alterar a lei eleitoral. Pena não o lerem, nem compreender, de facto
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