Aconteceu uma coisa extraordinária.
Que todos podem ver.
Todos, os que têm um contracto com a EDP.
Que receberam um folhetozinho assim intitulado: “Rotulagem de energia eléctrica”.
É extraordinário, acreditem. É um progresso.
Já sabemos qual é a contribuição de cada forma de produção de energia, a sua quota, para a energia eléctrica que consumimos.
Eu devia estar contente. Há anos que precisávamos disso para avaliar a “pegada ecológica”, como se diz agora, do passageiro de transportes colectivos em ferrovias electrificadas.
Mas por isso mesmo faço essa reflexão melancólica: há 5 anos pedi formalmente à EDP esta informação, enquanto técnico de uma empresa de consumo intensivo. Chegou agora a minha casa no âmbito de clientes particulares. Só posso aplaudir o respeito pelo direito à informação dos cidadãos e das cidadãs, mas a verdade é que durante 5 anos não foi respeitado o direito à informação de uma empresa utilizadora intensiva de energia eléctrica, pelo que aqui registo o facto.
Já sabemos qual é a nossa contribuição doméstica para a produção de CO2, oxido nítrico e outros que tais. Juntamente com o CO2 por km dos nossos carros, já estamos mais perto de saber quantas árvores tínhamos de plantar para tornar inocente a nossa passagem pelo planeta Terra.
Observo ainda que será um pouco estranha a designação: rotulagem. Alguém achou, provável mente aconselhado por consultores de comunicação, que quotas, peso, parte, distribuição (“share” como dizem os especialistas de TV) em função da origem da energia não era bonito, e que rotulagem é que era. Não ter saído labelização terá sido sorte.
Como quem põe “n” rótulos na energia recebida: 14% para a energia hídrica, 21% para o carvão, 5% para a energia nuclear. Ups, energia nuclear. Repararam no ar cândido com que a EDP informa que se trata de parte da energia importada, e que os resíduos radioactivos ficaram no país de origem. Engraçado. Dir-se-ia que tínhamos direito a 5% de resíduos. Mas isso é outra discussão, por mais que as pessoas mais crentes em fadas acreditem que as energias renováveis vão chegar para os consumos futuros (mau sinal, se chegassem, queria dizer que os consumos seriam reduzidos). E pode ser que esta informação contribua para nos habituarmos à ideia de que mais cedo ou mais tarde vamos ter uma central nuclear com o cortejo de críticas com a ciência fora da equação como de costume.
Quanto ao gás natural, são cerca de 41% (falta a EDP explicar as quotas de produção por fuel e por gás na cogeração por regime especial, o que configura outras burocracias).
Assinale-se ainda o peso da energia eólica: cerca de 10%, com hipóteses de aumentar e de ser utilizada de forma mais eficiente na produção de hidrogénio e na bombagem em albufeiras (nesta, ao menos o doutor Pinho acreditava).
Em termos médios, serão 400 g CO2/kWh, o que não é muito mau. Como 1 kWh que o Metropolitano de Lisboa consome (incluindo edifícios) serve para transportar 8 passageiros.km, quer dizer que cada km percorrido por 1 passageiro emite 50 g de CO2 (o nosso carrinho a acelerar para o Algarve, com 2 pessoas a bordo, emitirá o dobro por pessoa e por km, sem contar a energia necessária para manter e abastecer os postos de combustível, nem a energia necessária para manter a auto-estrada…) .
Nada mau, como disse, mas é uma pena ser só a EDP a controlar este indicador. Deve ser possível obter uma convergência inter-sectorial…
Enfim, numa palavra, a rotulagem é um progresso.
Mais informação sobre "rotulagem" no sítio da ERSE: http://www.erse.pt/pt/desempenhoambiental/rotulagemenergetica/Paginas/default.aspx
Aqui se refere a lei 51/2008 que obriga a facturação a indicar a origem da energia primária de que derivou o nosso consumo de energia eléctrica. É uma lei concisa e clara, que deixou para a ERSE ou para a EDP o odioso da criação deste barbarismo: "rotulagem"...
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