Em 2 de Julho apelei ao estudo pelos economistas da sabedoria popular no capítulo da economia de subsistência: http://fcsseratostenes.blogspot.com/2009/07/os-pepinos-da-tia-de-bruxelas.html
Hoje vou a um exemplo prático que me foi transmitido por um colega que muito aprecio, até porque teve a humildade de dizer que tinha aprendido alguma coisa com o episódio.
Foi o caso desse amigo se ter dirigido, no campo, à casa de uma senhora “produtora” de batatas. E a senhora começou por responder que não sabia se tinha batatas para vender. Não chamemos desconfiança a isto, chamemos sabedoria de quem sabe que o sistema económico vigente não serve (calma, também não disse qual é o sistema vigente). Mas o meu amigo é uma pessoa persuasiva e a senhora explicou que se vendesse batatas ficava sem as batatas e, rapidamente, sem os cêntimos que receberia por elas. Por isso não sabia se era boa ideia vender. Na verdade, a senhora estava a ensinar que o valor do dinheiro é muito pouco (arrogam-se os economistas de o definir através das taxas de juro, não é? Eu perguntaria, com que direito? mas enfim, eu sou ignorante). Embora reconhecesse que o valor “de mercado” das batatas é pequeno, que ela pediria sempre um valor muito elevado e que com muita facilidade o meu amigo poderia ir à casa do lado comprar batatas mais baratas.
Então a senhora disse: Se tiver alguma coisa útil para mim (dinheiro não) eu posso trocar por uma quantidade de batatas a negociar.
É isto que os economistas parece terem dificuldade em compreender ou apreender, que o dinheiro não é a única coisa real de valor de troca, e zangam-se muito com a economia de subsistência, que é uma fuga criminosa ao fisco e outras coisas medievais de castigos morais (até os bancos de tempo estão na mira dos fiscalistas). A economia também funciona em regiões quase isoladas, por exemplo em feiras, com as pessoas produzindo e trocando, sem contribuir para o PIB, sem a criação artificial (virtual) de moeda de cada vez que há uma transacção. Pensemos que apesar de tudo há muitos portugueses que produzem bens agrícolas, e trocam-nos entre si. Não vai para o PIB, é verdade, mas também não andam a passar facturas para integrar estatísticas virtuosas mas virtuais. Até eu, confesso, ando metido nesta economia paralela. Tenho um terrenozito que produz canas (eu, produtor de canas, se o Fisco sabe…). O meu vizinho vai lá cortar as que quer (têm uma esplêndida capacidade de regeneração , as minhas canas; a produtividade com que produzo canas é de fazer inveja à agricultura industrializada) e de vez em quando dá-me um saquinho de feijão verde e de tomates (às vezes também vêm de lá pepinos de curvatura variável). Tudo fora do PIB, claro. Não peçam, senhores economistas, a redução da quota de portugueses a viver no sector primário da agricultura. Deixem-nos trabalhar, como dizia o outro, que nessas coisas até eu sou Adam Smithista (já diziam os teóricos da Matemática: os teoremas só se aplicam em domínios bem definidos, não são universais). Deixem-nos produzir azeite para consumo interno, na comida ou em lubrificantes (ou até em candeiazinhas desde que se tenha cuidado com os riscos de incêndio), que é uma dor de alma ver a azeitona estragar-se por esse país fora, porque os requisitos dos lagares ultrapassam a paciência de quem sabe fazer azeite artesanalmente (os requisitos estão bem definidos, o que não está definido é o modo de operacionalização dos meios de apoio técnico). Vão às feiras ver…mas não mandem a ASAE.
Hoje vou a um exemplo prático que me foi transmitido por um colega que muito aprecio, até porque teve a humildade de dizer que tinha aprendido alguma coisa com o episódio.
Foi o caso desse amigo se ter dirigido, no campo, à casa de uma senhora “produtora” de batatas. E a senhora começou por responder que não sabia se tinha batatas para vender. Não chamemos desconfiança a isto, chamemos sabedoria de quem sabe que o sistema económico vigente não serve (calma, também não disse qual é o sistema vigente). Mas o meu amigo é uma pessoa persuasiva e a senhora explicou que se vendesse batatas ficava sem as batatas e, rapidamente, sem os cêntimos que receberia por elas. Por isso não sabia se era boa ideia vender. Na verdade, a senhora estava a ensinar que o valor do dinheiro é muito pouco (arrogam-se os economistas de o definir através das taxas de juro, não é? Eu perguntaria, com que direito? mas enfim, eu sou ignorante). Embora reconhecesse que o valor “de mercado” das batatas é pequeno, que ela pediria sempre um valor muito elevado e que com muita facilidade o meu amigo poderia ir à casa do lado comprar batatas mais baratas.
Então a senhora disse: Se tiver alguma coisa útil para mim (dinheiro não) eu posso trocar por uma quantidade de batatas a negociar.
É isto que os economistas parece terem dificuldade em compreender ou apreender, que o dinheiro não é a única coisa real de valor de troca, e zangam-se muito com a economia de subsistência, que é uma fuga criminosa ao fisco e outras coisas medievais de castigos morais (até os bancos de tempo estão na mira dos fiscalistas). A economia também funciona em regiões quase isoladas, por exemplo em feiras, com as pessoas produzindo e trocando, sem contribuir para o PIB, sem a criação artificial (virtual) de moeda de cada vez que há uma transacção. Pensemos que apesar de tudo há muitos portugueses que produzem bens agrícolas, e trocam-nos entre si. Não vai para o PIB, é verdade, mas também não andam a passar facturas para integrar estatísticas virtuosas mas virtuais. Até eu, confesso, ando metido nesta economia paralela. Tenho um terrenozito que produz canas (eu, produtor de canas, se o Fisco sabe…). O meu vizinho vai lá cortar as que quer (têm uma esplêndida capacidade de regeneração , as minhas canas; a produtividade com que produzo canas é de fazer inveja à agricultura industrializada) e de vez em quando dá-me um saquinho de feijão verde e de tomates (às vezes também vêm de lá pepinos de curvatura variável). Tudo fora do PIB, claro. Não peçam, senhores economistas, a redução da quota de portugueses a viver no sector primário da agricultura. Deixem-nos trabalhar, como dizia o outro, que nessas coisas até eu sou Adam Smithista (já diziam os teóricos da Matemática: os teoremas só se aplicam em domínios bem definidos, não são universais). Deixem-nos produzir azeite para consumo interno, na comida ou em lubrificantes (ou até em candeiazinhas desde que se tenha cuidado com os riscos de incêndio), que é uma dor de alma ver a azeitona estragar-se por esse país fora, porque os requisitos dos lagares ultrapassam a paciência de quem sabe fazer azeite artesanalmente (os requisitos estão bem definidos, o que não está definido é o modo de operacionalização dos meios de apoio técnico). Vão às feiras ver…mas não mandem a ASAE.
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