terça-feira, 4 de agosto de 2009

Rodoviarium IV – O barco




As viagens pela auto-estrada do Algarve continuam a ter alto valor didáctico.
Mantem-se a divisão de opiniões quanto ao comportamento em fila.
Automobilistas mais calmos circulam na via da direita, entre 110 e 130 km/h de velocidade média, guardando distancia da ordem do equivalente a 2 segundos de modo a terem tempo de reagir sem necessidade de desaceleração superior ao do carro da frente.
São os adeptos das regras do código, que privilegiam a segurança colectiva e a média geral em detrimento da média individual.
Já na via da esquerda se amontoam os apressados, claramente adeptos do “laissez faire, laissez passer”, chegando aos 3 metros de distancia para o carro da frente!
Mas o tema de hoje é outro, e, como diz o título , diz mesmo respeito a um barco.
Deu-se o caso que numa das descidas na serra algarvia, antes de S.Bartolomeu de Messines, numa zona em que há três vias em cada sentido, o jipe que rebocava um barco de motor de recreio terá ultrapassado a velocidade de segurança e necessitado de fazer uma manobra brusca. O reboque iniciou um movimento de translação rodando em torno do engate no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. O jipe ficou encostado ao separador central, virado para Lisboa. O barco soltou-se do reboque e passou para a via de maior velocidade do sentido contrário.
Quem vinha nesse sentido contrário teve tempo para se desviar e por isso não saiu nos jornais nem houve vítimas a engrossar as estatísticas que as entidades oficiais se esforçam por convencer as pessoas de que estão melhor. Apesar de a média diária há anos não se afastar de 3 mortos. Este facto (a incompreensão crónica dos dados estatísticos) apenas ilustra a iliteracia matemática dos portugueses, representados, infelizmente neste caso bem representados, pelos seus ministros e secretários de estado.
Mas isso é assunto para outra crónica.
O que pretendo aqui destacar é que um barco pode circular numa auto-estrada sozinho, o que por si só é um convite à limitação de velocidade nas auto-estradas por razões de segurança (vá lá, habituem-se à ideia; na Holanda a velocidade limite é de 90 km/h) e que felizmente a teoria das probabilidades funcionou no sentido favorável.
Talvez se possa concluir que o transporte de barcos só deveria fazer-se por profissionais (desde que os preços fossem controlados, mas lá estarão os adam smithistas escandalizados com a ideia). Valha a verdade que contra mim falo, que já reboquei um pequeno barco de recreio, no meio de muitos protestos por me deslocar à velocidade do código: 70 km/h.
É, o código é de facto uma limitação da liberdade individual. É uma intromissão do Estado na livre iniciativa dos particulares.
Pois é.
É de facto um problema.

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