Talvez eu tenha sido excessivamente crítico das filhas dos presidentes, no Economicómio XXVIII, relacionando-as com informação e posição assimétricas contrariando o princípio da igualdade de oportunidades e de direitos e, naturalmente, o princípio de funcionamento da concorrência em mercado livre.
Pesquisando nos manuais, lá vem uma expressão mais conciliadora: “cumulative advantage”.
Na continuação do Freakonomics, de Steven Levitt e Stephen Dubner, a que os autores puseram o nome de Superfreakonomics (só encontrei a versão inglesa, é possível que a portuguesa saia antes do Natal), dá-se um exemplo do que é a “cumulative advantage”, que justifica uma vantagem adicional de alguém relativamente a outrem.
Um amigo de um dos autores, visitando uma senhora cortesã, reparou que ela tinha na mesinha de cabeceira o Freakonomics.
Palavra puxa palavra, e arranjou-se um belo almoço para o autor recolher informações preciosas para o novo livro, sobre uma actividade económica que tanto contribui para o PIB, directamente da senhora cortesã com capacidade intelectual. Informações que qualquer outro autor interessado em estudar a dita contribuição de tão nobre actividade para o PIB, por não ter tido a sorte de ser lido por ela, dificilmente poderia recolher.
Cumulative advantage é isso.
A diferença para a violação do princípio da igualdade é muito ténue, como ténue, ténue mas custosa, é a diferença entre o dólar desonesto e o dólar honesto de que falava Lucky Luciano, há uns blogues atrás.
Mas o exemplo, até pelo tipo de actividade que foca, parece adequado à realidade. Parece ser um modelo fidedigno.
Ninguém tem culpa de que o pai seja amigo de um banqueiro e que o banqueiro dê ordens ao seu banco para comprar ou vender os títulos que muito bem entender.
Ninguém tem culpa de que o pai seja presidente de uma republica que facilita os negócios entre as grandes empresas de desenvolvimento tecnológico e os familiares do presidente (se nos USA é assim…).
E assim como assim, comprando umas revistas cor-de-rosa qualquer jovem mulher pode imaginar-se filha do presidente.
Para se produzirem tantas revistas cor-de-rosa é preciso investir grandes montantes que vão direitinhos para a contribuição para o PIB.
Logo, não se poderá dizer que as revistas cor-de-rosa é que educam (como se dizia dantes para o fado), mas que contribuem para o PIB, contribuem.
Não poderemos portanto atirar pedras às filhas do presidentes (falando por hipérbole, claro), que tanto contribuem par ao PIB, falando agora em termos reais.
Mas posso recordar uma tia minha, que nunca enriqueceu, mas que me ensinou, ainda não tinha 10 anos, eu, que pelo facto de pertencer a uma família privilegiada (quem pode tirar um curso superior sem ter de ganhar o dinheiro para isso só pode ser privilegiado, não é?) não era mais do que os outros.
E prefiro dar razão à minha tia, do que às mentes brilhantes que justificam as filhas dos presidentes.
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