Quando um primeiro ministro controla os meios de comunicação social é mais fácil convencer os eleitores.
Desde que os ditos meios de comunicação social dêem aos eleitores o que eles esperam.
Já repararam nos concertos?
Quando surge uma peça conhecida a multidão aplaude.
Se a peça é nova, por mais genial que seja, não há muitos aplausos.
Por isso as maiores audiências na televisão correspondem ao que nada traz de novo aos espectadores.
A rotina faz subir as audiências e não é um apelo à mudança que motiva os eleitores.
A imprensa, apesar de tudo e da dependência das receitas da publicidade, é livre, constitucionalmente, mas há limites para a tranquilidade dum primeiro ministro.
Vem isto a propósito da acção com pedido de indemnização de 1,3 milhões de euros que o presidente do senado italiano, grande amigo e apoio do primeiro ministro Berlusconi, interpôs contra António Tabucchi, escritor italiano que também traduziu escritores portugueses para italiano.
Como se sabe, o primeiro ministro Berlusconi é dono dos principais meios de comunicação social italianos, e era a esse primeiro ministro que eu me referia.
Tabucchi, há mais de um ano, recordou que o presidente do senado, advogado siciliano, tinha sido investigado por suspeita de ligações à máfia siciliana e absolvido. (Existe uma guerra entre a legalidade e as máfias; a guerra já dura há tantos anos; as máfias, através da obtenção de empregos para a população, têm o apoio desta; dir-se-ia que não há solução policial para este problema, e que deveriam entabular-se negociações intermediadas; mas será a minha mania de pregar a não violência de Gandhi…)
O Le Monde lançou uma petição que já foi assinada por muitos “intelectuais”, chamando a atenção para que este é um exemplo das relações violentas entre o poder e a imprensa.
É uma pena eu não poder apelar a que também assinem a petição, porque pelos vistos os não intelectuais não podem fazê-lo, talvez porque já tenham fechado a dita petição.
Mas posso apelar a que se interessem porque, como escreveu Berthold Brecht, primeiro vêm buscar os comunistas, depois os judeus (nos tempos que correm, também pode ser que venham buscar os palestinianos), depois o meu vizinho e, finalmente, vêm-me buscar a mim.
Afinal, apesar de tudo, assiste-se a fenómenos de concentração dos meios de comunicação social em cada vez menos grupos. Em menos de 20 anos, o número de grupos detentores de grandes jornais passou, nos USA, de 80 para 8. Dir-se-ia que se está a copiar o pior da experiencia soviética, em vez de aproveitar os aspectos positivos. Dirão os economistas neo-liberais que é o mercado a funcionar; dirão os economistas neo-marxistas que é o poder económico a condicionar o poder político, movido, o poder económico, pelo motor do complexo militar-industrial (conforme o conceito definido pelo presidente Eisenhower há 50 anos)
Dá que pensar, quando há bem pouco tempo uma estagiária da EPAL foi proibida de continuar o estágio porque criticou por email o contrato da EPAL com uma empresa israelita de abastecimento de águas…
Mas falta-me informação sobre o caso da estagiária da EPAL (seria interessante estudar a utilização dos emails nas empresas?).
O que também é preocupante, porque o comunicado da EPAL não foi completamente esclarecedor.
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