quinta-feira, 20 de março de 2014

O nervoso dos mercados


O diretor da empresa discográfica gostava de se sentar à mesa de gravação e regular a intensidade do sinal nos vários canais de gravação.
Os técnicos, avisados da visita do diretor, reduziam a sensibilidade dos controles. O diretor entretinha-se a empurrar para trás e para a frente os potenciómetros, convencido que estava a influenciar a gravação.
Assim os economistas que nos governam se entreteem a acalmar o nervosismo dos mercados embora os potenciómetros que controlam os juros escapem completamente ao controle seja de quem for.
Isto a propósito da crença que nos querem impor de que qualquer protesto provoca aumento de juros.
Por acaso, e porque o comportamento das muitas variáveis  não é controlável, até pode acontecer que os juros baixem depois de ações que provocariam o nervosismo dos mercados.
Por exemplo, depois de o próprio primeiro ministro se ter queixado de que o FMI tinha um discurso ao nivel da direção e outro ao nivel dos seus enviados especiais e que isso revelava alguma hipocrisia, os juros baixaram.
E agora, depois da apresentação do manifesto dos 70 para a reestruturação do excesso da divida sobre os 60%, não é que os juros a 10 anos desceram aos 4,43%?
Claro que ironizo, o movimento dos juros é internacional e não é a nossa pequenina economia a principal causa do seu movimento, e os tais mercados estrangeiros detêm apenas 23,1%, ou 50.000 milhões da divida publica. Os restantes mercados suscetiveis de se enervarem são a troika,  com 74.000 milhões, ou 34,4% da divida total, e os bancos, seguradoras e particulares nacionais, com 92.000 milhões e 42,5% da divida.
Nervoso fico eu, quando vejo que o investimento estrangeiro em 2011 foi de 8.000 milhões de euros, em 2012 de 6.600 milhões e em 2013 de 2.300 milhões.
E que a variação do investimento liquido em 2013 foi de -4%, isto é, a capacidade produtiva ou os ativos em 2013 diminuiram em relação a 2012.
E que as importações continuaram a subir.
O pobre governo não quer ouvir falar destes aspetos negativos. Prefere empolar os indicadores positivos.
Em psicologia social chama-se a isto o instinto da sobrevivencia, querer acreditar na prevalencia dos sucessos sobre os insucessos.
Mas seria melhor atender à equação do saldo orçamental igual ao investimento e exportações menos poupanças e importações. Sem investimento nada feito.

PS em 21 de março - Apenas para registo e comparação, as taxas de juro a 10 anos dos outros PIIGS:
Grecia                 6,9
Irlanda                3,1
Itália e Espanha  3,4

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