sábado, 1 de março de 2014

Que sabe o ministério das Finanças de universidades?

Para ilustrar o império da ignorancia que tomou de assalto os orgãos decisórios, e digo tomou de assalto porque as instituições não estão a funcionar regularmente o que é motivo mais do que suficiente para a demissão de um governo que representa 29% dos eleitores com voto expresso, cito o reitor da universidade de Coimbra:
"Até há poucos meses, podíamos criar e gerir empresas que nos ajudassem a cumprir a nossa missão. Subitamente, saiu o Decreto-Lei 133/2013, seguido do Decreto Regulamentar 1/2014, sobre os quais não fomos sequer previamente ouvidos, que diz que todas essas empresas passam a ser geridas diretamente pelo Ministério das Finanças".
"Que sabe o Ministério das Finanças de universidades?"
"Outro exemplo profundamente negativo é a Portaria 48/2014, saída há poucos dias, que retira às universidades a capacidade de escolher o seu pessoal".
A partir de agora, "será o Instituto Nacional de Administração (INA), que selecionará os jardineiros para o Jardim Botânico, os técnicos para o ciclotrão do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), os gestores dos projetos comunitários, os técnicos que acolherão os estudantes internacionais".

Este é um dos exemplos do atraso do nosso país, a ingerencia do poder político nas empresas, especialmente as públicas, através dos seus comissários políticos (sim, o governo anterior foi particularmente desastrado com as pessoas que nomeou).
As decisões são tomadas por quem não conhece os assuntos. O ministro da saúde, apesar da sua boa vontade e da sua capacidade de analisar os custos-benefícios, não tem conhecimentos de medicina, o secretário de Estado dos transportes não conhece as leis do movimento acelerado, do atrito das rodas e do consumo de combustível pelos aviões, o ministro da defesa ignora o que a Marinha conhece do mar, o ministro da administração interna ignora como se combatem fogos e vem lamentavelmente dizer à comissão parlamentar que os bombeiros portugueses estão muito longe de terem formação (ao fim de dois anos e meio de ministro vem dizer isto, quando teve tanto tempo para montar planos de formação eficazes?), a ministra da agricultura não sabe como combater o nemátodo, o ministro da Economia não faz ideia como a energia elétrica é produzida por fontes renováveis, do que precisa para ser exportada para a Europa, e de como pode ser utilizada para fabricar combustível para os automóveis. Como dizia o professor Carvalho Rodrigues antes da desgraça deste governo, e durante a desgraça do anterior, "a Ciencia não está a fazer parte desta equação".
O que esta legislação agora faz é estender a ignorancia dos burocratas do ministério das finanças às decisões sobre os assuntos de cada empresa ou orgão.
É o predomínio da contabilidade formal sobre os conhecimentos e competencia técnicos.
É uma idade de trevas e sabe-se o prejuizo que as idaddes de trevas causam no futuro.
O reitor disse "estamos fartos de cortes transversais que tratam de igual modo quem gere bem e quem gere mal".
Oiço o autor da coleção de livros "Decifrar a arte em Portugal", Paulo Pereira, dizer, a propósito do desinvestimento em arte, da falta de estratégia consistente e do desprezo até pelo seu valor comercial via turismo, que "nós não deixaremos que isto continue".
Vamos tentar não deixar, mas a máquina de marketing do governo, apoiada pela troika e pelos serventuários da comunicação social, especialmente televisão, é muito forte.




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