segunda-feira, 28 de abril de 2014

Porto de águas profundas de Lisboa

Com a devida vénia a Joaquim Ferreira da Silva, capitão da marinha mercante, e ao DN que publicou o seu artigo,
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3823139&page=-1

concordo que a ideia de um terminal de contentores no Barreiro tem os graves inconvenientes de exigir dragagens constantes (a cala existente permite um calado de 7 metros) e prolongar o tempo de manobra de aproximação. Isto é, o Barreiro não tem condições para porto de águas profundas, apenas para cabotagem.
Provavelmente alguma das personalidades de "reconhecido mérito" (reconhecido por quem? pelo corpo técnico da especialidade ou pelos decisores partidários sem formação técnica ou seus conhecidos?), olhando para o mapa, se lembrou de "aproveitar" a linha de caminho de ferro existente. Tem perigos, olhar para o mapa sem perceber o que está para alem dele.
Mais uma vez recordo o estudo que técnicos da especialidade fizeram nos anos 90, e que veio a ser chumbado pelo fundamentalismo ambientalista. A solução para o terminal de contentores de Lisboa é o fecho da Golada, entre a Cova do Vapor e a ilha do Bugio, evitando a perda de areia da Caparica, ajudando a proteger Lisboa de maremotos, suficientemente longe da Trafaria para não a prejudicar e libertando o terminal de Alcantara para cruzeiros. Tem de facto o inconveniente de exigir um troço de caminho de ferro em tunel, mas que é viável.
Enfim, não tenho esperança, pelo clima e pelo método de decisão imposto por este governo, que se chegue a uma boa solução. Repetir-se-á a má decisão que foi a escolha da Ota para o novo aeroporto: o primeiro ministro da altura olhou para o mapa e disse que a força aérea tinha libertado a Ota; não disse que por ter piores condições aeronáuticas do que os aeroportos que a Força Aérea conservou; nem disse que era preciso passar dois anos a cortar colinas e a fazer aterros; depois perguntaram a uma senhora ministra do ambiente se Rio Frio tinha inconvenientes ambientais; todos os locais têm inconvenientes ambientais; a propaganda então disse que tinha de se ir para  a Ota porque Rio Frio tinha inconvenientes ambientais. E tudo se resolveu quando deixou de haver dinheiro. Mas parece que o governo e a União Europeia já perceberam que os fundos comunitários são mesmo para aplicar (10% em infraestruturas, sempre é melhor do que nada), que afinal o tunel do Marão é mesmo para se concluir, como a ligação Poceirão -Caia, como a estação da Reboleira do Metro.
A mim ensinaram-me que interromper um investimento tem custos, e que quem os interrompe sem fundamento (como o demonstra a sua retomada e a não utilização atempada e possível de todas as verbas do QREN 2007-2013) fica responsável por esses prejuízos.
Vamos ver se me ensinaram bem e se percebem bem a questão do porto do Barreiro.

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