segunda-feira, 28 de abril de 2014

O DN em 28 de abril de 2014

Comento algumas notícias ou artigos no DN de 28 de abril de 2014:
- João Cesar das Neves escreveu sobre a festa dos atuais dois papas e a canonização de outros dois papas. Cito "Tratou-se de um rito local. No entanto, o seu significado abrangeu todo o mundo. A razão é óbvia: mais ninguem tem uma felicidade assim". As criações humanas são assim. Os grupos que se formam acham que ser os "mais" ou os "melhores" lhes dão força e coesão. Como cristão, João Cesar das Neves acha que os outros não são tão felizes. Como economista, e a economia trata exatamente disso, de como se ser feliz com os meios disponíveis ou suscetíveis de disponibilidade, ou pelo menos devia, acha que o pecado de "viver acima das possibilidades" (ele costuma dizer, "a bebedeira") deve ser punido, e que só a remissão desse pecado pela austeridade e pelas regras do mercado livre (o que me deixa surpreendido porque a doutrina social da igreja opõe-se à lei da selva da livre concorrencia, mas como não sou crente não posso acusá-lo de incoerencia) poderá melhorar os indicadores do PIB e do emprego. Penso que nenhum grupo deveria ter a pretensão de ser mais feliz do que qualquer outro.
- Gala Met - o Metropolitan Museum of Art está a organizar um baile cuja entrada custa 18 mil euros. Parte da receita reverte para associações beneficentes, o que a experiencia tem demonstrado não melhorar o coeficiente de Gini, mas a minha referencia a isto é a intima ligação entre o mundo dos altos negócios, da cultura e da política: o nome do Costume Institute do Metropolitan Museum of Art vai mudar para Anna Wintour Costume Center no dia da inauguração a 5 de maio, com a presença de Michelle Obama, como agradecimento pelo financiamento por Anna Wintour da campanha de Obama. É tudo legal e transparente, mas se Obama na sua campanha disse que não era eleito para fazer o jogo dos financeiros de Wall Street, e que retiraria do Afeganistão, porque não cumpre?
- A Siemens quer comprar a Alstom - interessante ver a luta da GE e da Siemens pela OPA hostil da Alstom. E a reação do ministro francês, que a Alstom vive das encomendas do Estado e que os centros de decisão não devem sair de França. Que pensarão disto os vendedores-privatizadores do governo português?
- A Leica T - a Leica T é uma máquina fotográfica de corpo de aluminio fabricada em Famalicão e exportada a 100% para a Alemanha a um preço de 3000 euros. O projeto do corpo de aluminio foi feito pela Audi Design e executado em Famalicão. São 720 empregos e uma faturação de 40 milhões de euros.
Apesar de tudo é possível produzir em Portugal, embora se tenham de exportar mais valias. É essencial para o saldo orçamental = investimentos menos poupanças, mais exportações menos importações.
- o ministro Moreira da Silva anunciou redução de tarifas de eletricidade e gás a suportar pelos produtores ou distribuidores. Moreira da Silva destoa no governo e está muito acima, pela sua formação técnica, dos seus colegas partidários ou de coligação. A sua participação como coordenador da plataforma para o crescimento honra-o e, numa perspetiva de  envolvimento do maior numero possivel de sensibilidades e competencias da sociedade civil, deverá contar-se com ele. Segundo o DN/Eurosat, o gás está a ser vendido em Portugal aos industriais a preço semelhante ao da Espanha e da média da UE (no gás doméstico estamos 30% acima da UE), 11,46€/GJ o que dá, depois de contas apressadas, cerca de 300 €/1000 m3, menos do que o novo preço da Gazprom à Ucrania (350€/1000m3), e algo mais do que a Gazprom cobra à UE (195€/1000m3).
- Vasco Graça Moura - na morte do Poeta, recordo as referencias admirativas deste blogue, a sua coerencia ao criticar em setembro de 2011 a quebra das promessas eleitorais e as divergencias sobre o novo acordo ortográfico
- A demissão do primeiro-ministro da Coreia do Sul - é uma cultura diferente que leva o primeiro-ministro a
dizer:"peço desculpa por ter sido incapaz de evitar este acidente". Trata-se de uma atitude digna, contrastando com a ira persecutória da presidente, responsabilizando apenas a tripulação, esquecendo as falhas na homologação de um navio inseguro e na coordenação na resposta à emergencia (é essencial que as estruturas da marinha ou guarda costeira estejam sempre preparadas para emergencias; tenho confiança na marinha portuguesa para reagir a uma situação destas, mas receio a discussão bizantina sobre quem detem a autoridade maritima e quem define os procedimentos de emergencia, com ou sem declaração de estado de sítio)
- Insolvencias e recusa por juizes de planos de pagamento aos credores - mais um caso de duvidas fundamentadas de que o sistema judicial português não está integrado na democracia; não são apenas planos de recuperação de empresas aprovados pelos credores que os juizes ou os delegados da autoridade tributária recusam; são tambem casos de particulares. É essencial que os administradores de insolvencias não ganhem "à percentagem". E é tambem essencial que o poder juridico defenda e não levante obstáculos ao exercicio da democracia e das garantias dos cidadãos. Coisa que, estendida ao dever cívico dos bancos financiarem a economia em vez de criarem dificuldades, poderia constar de um programa de redemocratização da Republica.


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