De forma oportunista, porque se baseia na evocação pela Ingenium e Maria Fernanda Rolo, do engenheiro Ferreira Dias, escrevo este pequeno texto em intenção dos meus colegas do meu tempo, a quem, por serem do meu tempo, posso azucrinar por a maioria apoiar ou ter apoiado os partidos políticos que têm condenado a ferrovia portuguesa ao isolamento da Europa (o problema da bitola) e a eletricidade portuguesa a ser um gerador de defice tarifário, mas também em intenção dos meus colegas mais novos, que por serem mais novos talvez não liguem muito às relações de subordinação das questões de engenharias pelo poder político e pelo pensamento económico, o que para eles não será grave, mas que a mim me quer parecer que tem consequencias graves, muito graves, mais para o conjunto da sociedade, que assim fica privada da iniciativa do conhecimento técnico, do que para os jovens técnicos.
O artigo da Ingenium evocativo de Ferreira Dias tem uma sua citação, a propósito do esforço de eletrificação e de centralização da produção e distribuição da eletricidade, em que ele afirmava ser muito dificil compatibilizar a gestão da distribuição elétrica por companhias diferentes. Trata-se de um parecer oposto ao critério básico da União Europeia de privilegiar a concorrencia, independentemente da natureza técnica das coisas. É verdade que o grande teórico do interesse individualista, Adam Smith, desenvolveu o seu trabalho ainda o conhecimento da eletricidade era muito incipiente. Como podia Adam Smith prever que a lei da concorrência na união europeia iria provocar riscos graves de apagões quando as proteções de alguns ramos iam saltando, castigando cada vez mais os ramos ainda conetados, por ineficiência do comando central ao não deslastrarem? Mas ressalvo que sim, é possível compatibilizar a exploração de muitas companhias. Aliás a teleinformática é para isso que serve. É possível, não me parece que seja desejável, porque a simplicidade deve ser um critério técnico.
Vou dar um exemplo das desvantagens da lei da concorrencia que os burocratas de Bruxelas impuseram quando decretaram que as empresas produtoras de eletricidade não podem ser distribuidoras, nem estas instaladoras. É um exemplo mais pequenino mas penso que é edificante.
Tive de requisitar a uma distribuidora de eletricidade a reativação de um contador. Como a instalação estava degradada, a equipa da distribuidora (que não pode ser instaladora, o que seria lógico numa ótica de produtividade temporal) compareceu na data acordada. Informou sobre os trabalhos necessários para que eles, a distribuidora, montassem o interruptor diferencial. O eletricista instalador que contratei executou os trabalhos após o que combinei nova visita da distribuidora. Só que a segunda equipa achou que era preciso executar outros trabalhos. Pelo que chamei novamente o eletricista instalador. Perdeu-se tempo e confirmou-se a baixa produtividade. Mas os burocratas de Bruxelas acham que é melhor haver muitas empresas concorrentes, sem atender aos pormenores conhecidos por quem trabalha com coisas e dificuldades concretas. É possível que nos países do norte as normas e as especificações permitam a existencia produtiva de empresas de distribuição e de empresas instaladoras. Mas como me permito concluir, como admirador de Ferreira Dias, é menos simples, e a simplicidade é um critério técnico. Enfim, os burocratas de Bruxelas, inspirados pelos académicos teóricos da escola de Chicago, continuam a mandar.
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