segunda-feira, 15 de junho de 2015

Portugal ganhou uma medalha de ouro mas não sou patriota neste caso

Hoje, não sou patriota, apesar da primeira referência seja a de que jogadores de ténis de mesa portugueses ganharam a medalha de ouro nos jogos de Baku.
A segunda referência é que Portugal desperdiça neste momento a energia que poderia ser produzida em centrais fotovoltaicas e também nos aproveitamentos por realizar hídricos (cerca de 5 GW) e eólicos, e que poderia exportar se houvesse ligações à Europa (somos uma ilha ferroviária, somos uma ilha energética, agradecimentos sentidos aos governos ignorantes) ou utilisar na conversão descentralisada em hidrogénio (utilisável em condicionamento de ar e em transportes).

Porque relaciono estes factos?
Porque os jogadores portugueses só puderam desenvolver-se tecnicamente porque vivem e trabalham na Alemanha.
E porque é preciso um alemão como Klaus Topfer vir dizer o que diz no artigo do jornal de negócios que, com a devida vénia, transcrevo.
Nestas coisas, não me importo nada que as diretivas sejam decididas por alemães.
O facto de o articulista falar em revolução silenciosa não abona nada, mesmo nada, a comunicação social que não dá o relevo a esta questão, insistindo pelo contrário nas rendas que, obviamente, por não ser razoável pagar aos produtores o kWh a 10 centimos, têm de ser significativamente reduzidas ou, em ultimo caso, aberta a produção de energias renováveis a outras empresas.





A revolução do preço da energia solar
15 Junho 2015, 19:00 por Klaus Töpfer


Está em curso uma revolução silenciosa. Em Novembro, o Dubai anunciou a construção de um parque de energia solar que produzirá electricidade por menos de 0,06 dólares por kilowatt-hora – um custo inferior ao de uma opção de investimento alternativa, a de uma central eléctrica movida a gás ou carvão.
A central – cuja entrada em funcionamento é esperada para 2017 – é mais um sinal de um futuro em que as energias renováveis substituirão os combustíveis fósseis convencionais. Com efeito, praticamente não passa uma semana sem que haja notícias de um grande acordo para construir uma central a energia solar. Só em Fevereiro passado, houve anúncios de novos projectos de electricidade a partir de energia solar na Nigeria (1.000 megawatts)Austrália (2.000 MW) e Índia (10.000 MW).

Não restam dúvidas de que estes desenvolvimentos são positivos para a luta contra as alterações climáticas. Mas a principal consideração que os motiva é o lucro, não o ambiente, uma vez que uma maior eficiência na distribuição de energia – e, quando necessário, no armazenamento – reduz os custos da produção de energias renováveis.

À medida que os esforços para melhorar a gestão da electricidade derivada de fontes flutuantes vão trazendo mais avanços, o custo da energia solar irá continuar a diminuir. Dentro de 10 anos, será produzida em muitas regiões do mundo a 4-6 cêntimos por kilowatt-hora, segundo um estudo recente do Instituto Fraunhofer para os Sistemas de Energia Solar (encomendado pelo ‘think tank’ Agora Energiewende). Em 2050, os custos de produção terão descido para 2-4 cêntimos de dólar por kilowatt-hora.

Conforme sublinha Patrick Graichen, director executivo do Agora, a maioria das previsões internacionais sobre a oferta futura de energia no mundo não toma em consideração a vitória iminente da energia solar sobre os seus concorrentes de origem fóssil. Uma actualização desses cálculos mostraria um retrato realista dos custos e do impacto da nossa produção e consumo de energia sobre o clima do planeta, revelando a importância das energias renováveis para o desenvolvimento económico e permitindo um melhor planeamento da infra-estrutura energética.

Não devemos subestimar o enorme potencial do sol e do vento para a geração de riqueza mundial e para o combate à pobreza. À medida que a energia solar vai ficando cada vez mais economicamente viável, os países localizados na cintura solar da Terra poderão desenvolver modelos inteiramente novos de negócios, pois a energia limpa e barata permitir-lhes-á processarem as matérias-primas localmente, acrescentando valor – e lucros – antes de exportarem.

Ao contrário das grandes centrais eléctricas convencionais, as instalações solares podem ser construídas em meses; além de serem rentáveis, são um meio de resposta rápido a uma procura mundial crescente. E uma vez que as centrais solares podem, regra geral, ser operadas independentemente das complexas redes inter-regionais de electricidade, dão aos países menos desenvolvidos uma forma de electrificarem as suas economias sem construírem novas infra-estruturas dispendiosas.

As centrais solares podem, assim, desempenhar no sector energético o mesmo papel que tiveram os telemóveis nas telecomunicações: chegando rapidamente a grandes comunidades mal servidas em regiões de população dispersa, sem ser preciso investir nos cabos e nas infra-estruturas complementares que outrora eram necessárias. Em África, 66% da população passou a ter acesso a comunicações electrónicas desde o ano 2000. Não há razão para a energia solar não poder fazer o mesmo pelo acesso à electricidade.


É agora a altura de investir na produção de energia solar em grande escala. Para começar, os custos de construção de centrais eléctricas movidas a energia solar estão por fim suficientemente baixos para se poder produzir electricidade a um preço estável e competitivo por mais de 25 anos. O preço do petróleo pode ter caído por agora, mas voltará a subir. As centrais solares são uma garantia contra a inerente volatilidade do preço dos combustíveis fósseis.

Ainda mais importante, o custo de capital é actualmente bastante baixo em muitos países. Esse é um factor decisivo para a viabilidade económica das centrais solares, porque não precisam de grande manutenção mas requerem um investimento inicial relativamente alto. O estudo do Instituto Fraunhofer mostra que as diferenças de investimento de capital são tão importantes para os custos por kilowatt-hora como as diferenças na incidência de luz solar. A energia solar é actualmente mais barata na nublada Alemanha do que em regiões ensolaradas onde o custo de financiamento é maior.

A quantidade de luz solar que incide num país é impossível de mudar. Mas o custo de capital é algo sobre o qual um país pode manter algum controlo. Com a criação de uma estrutura jurídica estável, oferecendo garantias de crédito no contexto de acordos internacionais, e envolvendo bancos centrais em investimentos de grande escala, os governos podem ajudar a tornar a energia solar mais acessível.

Factores como estes explicam o porquê de as políticas climáticas internacionais se focalizarem cada vez mais não apenas na energia solar mas também noutras formas de energia renovável. Os avanços tecnológicos têm melhorado a competitividade dessas fontes energéticas, em comparação com os combustíveis fósseis. Por isso, os instrumentos que tornam a sua adopção financeiramente mais acessível estão a tornar-se nalgumas das armas mais importantes de que dispomos no combate às alterações climáticas. 

Klaus Töpfer, ex-director executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas, antigo subscretário-geral da ONU e antigo ministro alemão do Ambiente, é director executivo do Instituto de Estudos Avançados sobre Sustentabilidade, em Potsdam, e presidente do conselho da Agora Energiewende.


Direitos de autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
T
radução: Carla Pedro



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