A segunda referência é que Portugal desperdiça neste momento a energia que poderia ser produzida em centrais fotovoltaicas e também nos aproveitamentos por realizar hídricos (cerca de 5 GW) e eólicos, e que poderia exportar se houvesse ligações à Europa (somos uma ilha ferroviária, somos uma ilha energética, agradecimentos sentidos aos governos ignorantes) ou utilisar na conversão descentralisada em hidrogénio (utilisável em condicionamento de ar e em transportes).
Porque relaciono estes factos?
Porque os jogadores portugueses só puderam desenvolver-se tecnicamente porque vivem e trabalham na Alemanha.
E porque é preciso um alemão como Klaus Topfer vir dizer o que diz no artigo do jornal de negócios que, com a devida vénia, transcrevo.
Nestas coisas, não me importo nada que as diretivas sejam decididas por alemães.
O facto de o articulista falar em revolução silenciosa não abona nada, mesmo nada, a comunicação social que não dá o relevo a esta questão, insistindo pelo contrário nas rendas que, obviamente, por não ser razoável pagar aos produtores o kWh a 10 centimos, têm de ser significativamente reduzidas ou, em ultimo caso, aberta a produção de energias renováveis a outras empresas.
A
revolução do preço da energia solar
15 Junho 2015, 19:00 por Klaus Töpfer
Está em curso uma
revolução silenciosa. Em Novembro, o Dubai anunciou a construção de um parque
de energia solar que produzirá electricidade por menos de 0,06 dólares por kilowatt-hora
– um custo inferior ao de uma opção de investimento alternativa, a de uma
central eléctrica movida a gás ou carvão.
A central – cuja entrada em funcionamento é esperada para 2017 – é mais um
sinal de um futuro em que as energias renováveis substituirão os combustíveis
fósseis convencionais. Com efeito, praticamente não passa uma semana sem que
haja notícias de um grande acordo para construir uma central a energia solar.
Só em Fevereiro passado, houve anúncios de novos projectos de electricidade a
partir de energia solar na Nigeria (1.000 megawatts), Austrália (2.000 MW) e Índia (10.000 MW).
Não
restam dúvidas de que estes desenvolvimentos são positivos para a luta contra
as alterações climáticas. Mas a principal consideração que os motiva é o lucro,
não o ambiente, uma vez que uma maior eficiência na distribuição de energia –
e, quando necessário, no armazenamento – reduz os custos da produção de
energias renováveis.
À
medida que os esforços para melhorar a gestão da electricidade derivada de
fontes flutuantes vão trazendo mais avanços, o custo da energia solar irá
continuar a diminuir. Dentro de 10 anos, será produzida em muitas regiões do
mundo a 4-6 cêntimos por kilowatt-hora, segundo um estudo recente do Instituto
Fraunhofer para os Sistemas de Energia Solar (encomendado pelo ‘think tank’
Agora Energiewende). Em 2050, os custos de produção terão descido para 2-4
cêntimos de dólar por kilowatt-hora.
Conforme
sublinha Patrick Graichen, director executivo do Agora, a maioria das previsões
internacionais sobre a oferta futura de energia no mundo não toma em
consideração a vitória iminente da energia solar sobre os seus concorrentes de
origem fóssil. Uma actualização desses cálculos mostraria um retrato realista
dos custos e do impacto da nossa produção e consumo de energia sobre o clima do
planeta, revelando a importância das energias renováveis para o desenvolvimento
económico e permitindo um melhor planeamento da infra-estrutura energética.
Não
devemos subestimar o enorme potencial do sol e do vento para a geração de
riqueza mundial e para o combate à pobreza. À medida que a energia solar vai
ficando cada vez mais economicamente viável, os países localizados na cintura
solar da Terra poderão desenvolver modelos inteiramente novos de negócios, pois
a energia limpa e barata permitir-lhes-á processarem as matérias-primas
localmente, acrescentando valor – e lucros – antes de exportarem.
Ao
contrário das grandes centrais eléctricas convencionais, as instalações solares
podem ser construídas em meses; além de serem rentáveis, são um meio de
resposta rápido a uma procura mundial crescente. E uma vez que as centrais
solares podem, regra geral, ser operadas independentemente das complexas redes
inter-regionais de electricidade, dão aos países menos desenvolvidos uma forma
de electrificarem as suas economias sem construírem novas infra-estruturas
dispendiosas.
As
centrais solares podem, assim, desempenhar no sector energético o mesmo papel
que tiveram os telemóveis nas telecomunicações: chegando rapidamente a grandes
comunidades mal servidas em regiões de população dispersa, sem ser preciso
investir nos cabos e nas infra-estruturas complementares que outrora eram
necessárias. Em África, 66% da população passou a ter acesso a comunicações
electrónicas desde o ano 2000. Não há razão para a energia solar não poder
fazer o mesmo pelo acesso à electricidade.
É agora
a altura de investir na produção de energia solar em grande escala. Para
começar, os custos de construção de centrais eléctricas movidas a energia solar
estão por fim suficientemente baixos para se poder produzir electricidade a um
preço estável e competitivo por mais de 25 anos. O preço do petróleo pode ter
caído por agora, mas voltará a subir. As centrais solares são uma garantia
contra a inerente volatilidade do preço dos combustíveis fósseis.
Ainda
mais importante, o custo de capital é actualmente bastante baixo em muitos
países. Esse é um factor decisivo para a viabilidade económica das centrais
solares, porque não precisam de grande manutenção mas requerem um investimento
inicial relativamente alto. O estudo do Instituto Fraunhofer mostra que as
diferenças de investimento de capital são tão importantes para os custos por
kilowatt-hora como as diferenças na incidência de luz solar. A energia solar é
actualmente mais barata na nublada Alemanha do que em regiões ensolaradas onde
o custo de financiamento é maior.
A quantidade de luz solar que incide num país é impossível de mudar. Mas o
custo de capital é algo sobre o qual um país pode manter algum controlo. Com a
criação de uma estrutura jurídica estável, oferecendo garantias de crédito no
contexto de acordos internacionais, e envolvendo bancos centrais em
investimentos de grande escala, os governos podem ajudar a tornar a energia
solar mais acessível.
Factores como estes explicam o porquê de as políticas climáticas
internacionais se focalizarem cada vez mais não apenas na energia solar mas também
noutras formas de energia renovável. Os avanços tecnológicos têm melhorado a
competitividade dessas fontes energéticas, em comparação com os combustíveis
fósseis. Por isso, os instrumentos que tornam a sua adopção financeiramente
mais acessível estão a tornar-se nalgumas das armas mais importantes de que
dispomos no combate às alterações climáticas.
Klaus Töpfer, ex-director executivo do Programa
Ambiental das Nações Unidas, antigo subscretário-geral da ONU e antigo ministro
alemão do Ambiente, é director executivo do Instituto de Estudos Avançados
sobre Sustentabilidade, em Potsdam, e presidente do conselho da Agora
Energiewende.
Direitos de autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução: Carla Pedro
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