parabens à privada Ana, o seu aeroporto está um mimo, aproxima-se dos volumes do aeroporto de Málaga de há 10 anos atrás (já é um progresso) |
domingo, 28 de fevereiro de 2016
Aeroporto, aeroporto, fevereiro de 2016
As taxas de juro em fevereiro de 2016
Não, não são as taxas que as obrigações do tesouro português têm de pagar "aos mercados".
Refiro-me à taxa Euribor a 6 meses, aquela que às vezes é notícia por ser "manipulada" à conveniência de grandes bancos (com a devida vénia ao DN):
A teoria económica diz que se a taxa de inflação está alta aumentar a taxa de juro reduz a inflação e que se queremos aumentar a inflação devemos baixar a taxa de juro. Mas o que vemos é as taxas de juro a baixar, até negativas(!?) e a inflação a manter-se muito abaixo dos 2%.
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/o-dinheiro-de-helicoptero-pode-nao-estar-muito-distante-5046431.html
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/yanis-varoufakis/interior/europa-a-democracia-ou-o-fim-5046361.html
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/wolfgang-munchau/interior/o-regresso-dos-gemeos-toxicos-das-financas-europeias-5029863.html
Refiro-me à taxa Euribor a 6 meses, aquela que às vezes é notícia por ser "manipulada" à conveniência de grandes bancos (com a devida vénia ao DN):
A teoria económica diz que se a taxa de inflação está alta aumentar a taxa de juro reduz a inflação e que se queremos aumentar a inflação devemos baixar a taxa de juro. Mas o que vemos é as taxas de juro a baixar, até negativas(!?) e a inflação a manter-se muito abaixo dos 2%.
Taxas de juro baixas e inflação e nível de
preços baixos podem ser muito interessantes para quem quer obter empréstimos e
comprar barato. Mas se quem quer obter empréstimos quer investir numa fábrica,
como é que se vai lançar nisso se a inflação e o nível de preços
estiverem baixos, pelo que teria de vender os seus produtos abaixo do preço de
produção e abaixo dos próprios juros?
É evidente: a economia europeia foi a que
reagiu pior à depressão de 2008.
Pobre Mario Draghi que parece que já
percebeu e que está a falar sozinho. Os sábios da troika não querem ouvir falar
de estímulos à produção (nem em combater o desemprego, nem em valorizar o fator
trabalho em detrimento do fator capital - claro que tem de se ampliar o plano
Juncker para além dos programas 2020, com a colaboração de equipas mistas para
estudo de investimentos, especialmente em países em que os decisores são
pessoas tão importantes que sabem sempre tudo, quer sejam presidentes de
empresas públicas ferroviárias ou rodoviárias, quer sejam presidentes de
câmaras de cidades com circulares entupidas).
E contudo, graças ao DN, é interessante
registar as opiniões de:
- Martin Wolf, economista chefe do
Financial Times: "os principais governos podem pedir emprestado com taxas
de juro reais nulas, ou até negativas a longo prazo. A obsessão pela
austeridade, mesmo quando os custos dos empréstimos são tão baixos, é de
loucos"... "os bancos centrais poderiam enviar dinheiro , de
preferencia em formato eletrónico, a todos os cidadãos adultos"...
Quando um ignorante como eu diz isto (ver
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2016/01/conto-fantastico-o-petroleo-ou-um-dia.html
) , e um economista como Martin Wolf também , a probabilidade de ser
verdade que os decisores estão loucos deve ser muito próxima de 1. Talvez
porque uma lei não obedece a curvas lineares, pode variar a sua derivada
consoante o domínio em que as variáveis se encontram . Não esperem que
aumentando o valor absoluto de taxas de juro negativas que a taxa de inflação
suba. É física, não é economia. A taxa de juro que uma empresa produtiva paga
depende das suas coordenadas geográficas, não da sua produtividade.
- Yanis Varoufakis, ex-ministro das
finanças da Grécia "embora os países europeus tenham permanecido
democráticos, as instituições da UE, para onde a soberania sobre as decisões
cruciais foi transferida, permaneceram sem democracia" ... "tal como
acontece com todos os gestores de carteis, os tecnocratas da UE trataram a
verdadeira democracia pan-europeia como uma ameaça ... quem se opõe à abordagem
tecnocrática é rotulado de anti-europeu" ... (nota minha: esta deve ser
dedicada ao senhor deputado Paulo Rangel).
O valor e a segurança de um depósito de um
cidadão europeu depende das coordenadas geográficas do seu banco. Mais uma vez
a física, não a economia.
Vale ainda a pena uma terceira opinião:
- Wolfgang Munchau: "Olhando para trás, o
erro crasso cometido pelas autoridades europeias foi não terem conseguido
limpar o sistema bancário em 2008, após o colapso do Lehman Brothers. Esse foi
o pecado original. Posteriormente, muitos mais erros agravaram o problema: a
austeridade orçamental pró-cíclica, as várias falhas de política do BCE e o
fracasso na criação de uma união bancária adequada. O mais curioso é que cada
uma dessas decisões foi, essencialmente, resultado da pressão exercida pelos
políticos alemães"
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/interior/o-dinheiro-de-helicoptero-pode-nao-estar-muito-distante-5046431.html
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/yanis-varoufakis/interior/europa-a-democracia-ou-o-fim-5046361.html
http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/wolfgang-munchau/interior/o-regresso-dos-gemeos-toxicos-das-financas-europeias-5029863.html
Irlanda, fevereiro de 2016
Interessam-me alguns factos da Irlanda nestes tempos.
Primeiro, o seu sistema eleitoral para as legislativas: por voto preferencial, transferível para respeitar a ordem de preferencia expressa pelo eleitor (se o candidato X não puder ser eleito por insuficiencia de votos, então, por mim, que seja o candidato Y). Em princípio, parecerá que os pequenos partidos poderão ser menos representados. No entanto, pode suceder que o candidato Y, que atépoderá ser independente, obtenha uma votação elevada.
Para as presidenciais penso que é o sistema ideal, especialmente se houvesse vice-presidente (não duplas fixas presidente-vice-presidente).
Para as legislativas, continuo a preferir o método de Hondt (existem variantes do método proporcional). Por mim, a variante seria aproveitar todos os votos perdidos e atribuir proporcionalmente , de acordo com a menor média (eleitores por eleito), n deputados por um círculo nacional (além de diminuir o número de círculos distritais, precisamente para diminuir as perdas dos pequenos partidos.
Devemos aproveitar as lições da história, de que partidos únicos e falta de diversidade não dão bons resultados, devemos apoiar a existencia da diversidade de partidos e de formas de participação cívica. A questão da "governabilidade" está relacionada com a dificuldade de compreensão entre as pessoas e isso combate-se com técnicas de organização e métodos, e é normalmente invocada por quem consegue obter o apoio de maiorias para infernizar a vida de minorias.
Infelizmente o sistema eleitoral é um tema de matemática complexa, objeto de estudo desde finais dos século XVIII (Condorcet, Bordas...) e de teses que já deram um prémio Nobel de Economia. Mas enfim, apesar de tudo a sabedoria popular, mesmo ignorando os teoremas, pode chegar a uma conclusão útil, desde que a informação circule e não seja manipulada pela comunicação social e pelos políticos interesseiros.
Sistemas como o americano, "quem tiver mais votos leva tudo" é primitivo porque anterior ao desenvolvimento matemático do tema. Infelizmente cristalizou e os norte-americanos não saem dele.
Mas vamos à Irlanda, que apesar de tudo, e o tudo é o cumprimento escrupuloso do diktat da troika, além de que o peso financeiro das colónias irlandesas nos USA e no mundo inte,iro garante investimento estrangeiro que equilibra o saldo orçamental.
Quanto aso indicadores, temos, com a devida vénia ao DN e Dinheiro Vivo:
Apesar de uma boa evolução do PIB, mantem-se o défice público e uma dívida pública elevada (provavelmente a privada não será tão elevada, pela razão exposta, alto investimento estrangeiro, o que mostrará a inoperancia das medidas da troika). Notar que apesar da existencia de défice a dívida diminuiu (provavelmente devido a privatizações mais rentáveis do que as portuguesas).
Para comparar a evolução do PIB com a da Alemanha, zona euro e Espanha:
Aparentemente, não são os governos de países de economias periféricas que são inteiramente responsáveis pelos descalabros e pelos exitos. As curvas movem-se de forma semelhante, são interdependentes, com já a economia clássica sabia. Quando muito, os governos serão responsáveis por parte da diferença entre os melhores e os piores indicadores. E mesmo assim o condicionalismo externo é extremamente forte. Não culpemos os pensionistas e os funcionários públicos pela desgraça nem pela evidência de que a economia europeia foi a que pior reagiu à depressão de 2008.
Mas confesso, tenho inveja de alguns factos irlandeses. Por exemplo, aproveitaram fundos comunitários para estudo da ligação entre os seus parques eólicos e as redes elétricas francesa e inglesa através de cabos submarinos de muito alta tensão contínua (exemplo que deveria servir para Portugal para exportação do seu excesso de capacidade instalada através de cabo submarino entre o Minho ou Galiza e o golfo da Biscaia).
Primeiro, o seu sistema eleitoral para as legislativas: por voto preferencial, transferível para respeitar a ordem de preferencia expressa pelo eleitor (se o candidato X não puder ser eleito por insuficiencia de votos, então, por mim, que seja o candidato Y). Em princípio, parecerá que os pequenos partidos poderão ser menos representados. No entanto, pode suceder que o candidato Y, que atépoderá ser independente, obtenha uma votação elevada.
Para as presidenciais penso que é o sistema ideal, especialmente se houvesse vice-presidente (não duplas fixas presidente-vice-presidente).
Para as legislativas, continuo a preferir o método de Hondt (existem variantes do método proporcional). Por mim, a variante seria aproveitar todos os votos perdidos e atribuir proporcionalmente , de acordo com a menor média (eleitores por eleito), n deputados por um círculo nacional (além de diminuir o número de círculos distritais, precisamente para diminuir as perdas dos pequenos partidos.
Devemos aproveitar as lições da história, de que partidos únicos e falta de diversidade não dão bons resultados, devemos apoiar a existencia da diversidade de partidos e de formas de participação cívica. A questão da "governabilidade" está relacionada com a dificuldade de compreensão entre as pessoas e isso combate-se com técnicas de organização e métodos, e é normalmente invocada por quem consegue obter o apoio de maiorias para infernizar a vida de minorias.
Infelizmente o sistema eleitoral é um tema de matemática complexa, objeto de estudo desde finais dos século XVIII (Condorcet, Bordas...) e de teses que já deram um prémio Nobel de Economia. Mas enfim, apesar de tudo a sabedoria popular, mesmo ignorando os teoremas, pode chegar a uma conclusão útil, desde que a informação circule e não seja manipulada pela comunicação social e pelos políticos interesseiros.
Sistemas como o americano, "quem tiver mais votos leva tudo" é primitivo porque anterior ao desenvolvimento matemático do tema. Infelizmente cristalizou e os norte-americanos não saem dele.
Mas vamos à Irlanda, que apesar de tudo, e o tudo é o cumprimento escrupuloso do diktat da troika, além de que o peso financeiro das colónias irlandesas nos USA e no mundo inte,iro garante investimento estrangeiro que equilibra o saldo orçamental.
Quanto aso indicadores, temos, com a devida vénia ao DN e Dinheiro Vivo:
Apesar de uma boa evolução do PIB, mantem-se o défice público e uma dívida pública elevada (provavelmente a privada não será tão elevada, pela razão exposta, alto investimento estrangeiro, o que mostrará a inoperancia das medidas da troika). Notar que apesar da existencia de défice a dívida diminuiu (provavelmente devido a privatizações mais rentáveis do que as portuguesas).
Para comparar a evolução do PIB com a da Alemanha, zona euro e Espanha:
Aparentemente, não são os governos de países de economias periféricas que são inteiramente responsáveis pelos descalabros e pelos exitos. As curvas movem-se de forma semelhante, são interdependentes, com já a economia clássica sabia. Quando muito, os governos serão responsáveis por parte da diferença entre os melhores e os piores indicadores. E mesmo assim o condicionalismo externo é extremamente forte. Não culpemos os pensionistas e os funcionários públicos pela desgraça nem pela evidência de que a economia europeia foi a que pior reagiu à depressão de 2008.
Mas confesso, tenho inveja de alguns factos irlandeses. Por exemplo, aproveitaram fundos comunitários para estudo da ligação entre os seus parques eólicos e as redes elétricas francesa e inglesa através de cabos submarinos de muito alta tensão contínua (exemplo que deveria servir para Portugal para exportação do seu excesso de capacidade instalada através de cabo submarino entre o Minho ou Galiza e o golfo da Biscaia).
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
O acidente em Dalfsen, na Holanda
Este acidente coloca a questão da segurança do maquinista, num caso em que ele não poderia evitar o acidente.
Com as informações disponíveis baseadas em testemunhos visuais, não é possível evitar este tipo de acidentes (colisão do comboio com uma grua do tipo caterpillar que atravessava a linha numa passagem de nível).
Isto é, o tempo de atravessamento da linha por um veículo do tipo da grua é superior ao intervalo entre comboios suburbanos.
Não é possível explorar em segurança uma linha de suburbanos, para mais em via única, com passagens de nível. Por mais cancelas automatizadas que se ponham, por mais alarmes que se ponham (as distancias de travagem para 80 km/h são de cerca de 350m), por mais sistemas de pedido de atravessamento com interrupção da circulação ferroviária.
Não dá.
Na Holanda, em 2015, houve 30 acidentes em passagens de nível, com 13 mortos.
É inadmissível, é intolerável.
As pessoas têm direito a viajar de comboio e nas estradas sem correrem estes riscos.
No caso de Dalfsen já se quer transformar o condutor da grua em bode expiatório (o código da estrada na Holanda não obriga a acompanhar a grua por um agente da polícia? o caminho era privado e atravessava a linha?), não os decisores que não preparam as infraestruturas para o tráfego requerido.
Com as informações disponíveis baseadas em testemunhos visuais, não é possível evitar este tipo de acidentes (colisão do comboio com uma grua do tipo caterpillar que atravessava a linha numa passagem de nível).
Isto é, o tempo de atravessamento da linha por um veículo do tipo da grua é superior ao intervalo entre comboios suburbanos.
Não é possível explorar em segurança uma linha de suburbanos, para mais em via única, com passagens de nível. Por mais cancelas automatizadas que se ponham, por mais alarmes que se ponham (as distancias de travagem para 80 km/h são de cerca de 350m), por mais sistemas de pedido de atravessamento com interrupção da circulação ferroviária.
Não dá.
Na Holanda, em 2015, houve 30 acidentes em passagens de nível, com 13 mortos.
É inadmissível, é intolerável.
As pessoas têm direito a viajar de comboio e nas estradas sem correrem estes riscos.
No caso de Dalfsen já se quer transformar o condutor da grua em bode expiatório (o código da estrada na Holanda não obriga a acompanhar a grua por um agente da polícia? o caminho era privado e atravessava a linha?), não os decisores que não preparam as infraestruturas para o tráfego requerido.
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Vende-se
Vende-se, não a estátua, não o candeeiro, nem a ave que excrementiza a cabeça da estátua do Dona Maria.
Vende-se o edifício da CP, lá em cima.
Vítima do critério de "produtividade espacial", o inverso de m2 por funcionário, isto é, número de funcionários por m2.
Curioso Musk, o empresário do Tesla, achar que precisa de muitos m2 livres na sua fábrica.
Diferenças de conceções.
Até quando? como perguntava Catão.
Vende-se o edifício da CP, lá em cima.
Vítima do critério de "produtividade espacial", o inverso de m2 por funcionário, isto é, número de funcionários por m2.
Curioso Musk, o empresário do Tesla, achar que precisa de muitos m2 livres na sua fábrica.
Diferenças de conceções.
Até quando? como perguntava Catão.
Odeon, fevereiro de 2016
Saudosismo
Sou um saudosista, pronto. Tenho saudades do símbolo antigo do metro de Lisboa. Mas ainda há algumas estações que o mantêm. M clássico. Nos anos noventa uma credenciada empresa de publicidade ganhou um concurso para"uma nova identidade". Também é bonito, mas eu gostava mais do clássico. Não digo onde está. Tenho medo que se lembrem dele.
sábado, 20 de fevereiro de 2016
Portugal na balança da Europa de Almeida Garrett
"Quando pois, ó varões athenienses, quando o que vos cumpre haveis de fazer? Quando alguma coisa accontecer? Quando a desgraça vier? E do presente estado de coisas qual deve ser a vossa opinião? ... querereis continuar a andar como vadios pelas praças perguntando uns aos outros: o que ha de novo? - e que maior novidade póde haver do que subjugar o Macedónio os Athenienses, e estar dando leis à Grécia? ... cedo vos fareis vos mesmos outro Philippe (o Macedónio) se, como atequi haveis feito, continuardes a cuidar assim de vossas coisas."
Demosthen, Philipp
Transcrição, com a grafia da época, da citação de Demostenes com que Almeida Garrett iniciou o seu livro Portugal na balança da Europa (edição fac-simile da Universidade de Coimbra e Edições a Bela e o Monstro,2013, sobre a edição de 1830 de S.W.Sustenance, 162 Piccadilly, Londres, preço 6 s).
O autor analisa a condução catastrófica dos destinos do país ao longo da história pela oligarquia (o governo de poucos) em lugar do que hoje chamamos meritocracia, mas a que na altura chamou aristocracia (o governo dos ótimos, do grego aristos).
Para concluir, dada a penúria de recursos, que se não for possível a soberania plena, ao menos, "talvez uma federação..." (na altura, a federação seria com a Espanha; na atualidade a federação será com a União Europeia).
Eu diria federação, não protetorado, e mais diria que se passa tempo demais nas praças, sem produzir... e que no esforço coletivo de maior número possível de cidadãos e cidadãs participantes nos processos políticos a todos os níveis, se concretizará a ideia do "governo dos ótimos", ou democracia participativa (passe a redundância).
Demosthen, Philipp
Transcrição, com a grafia da época, da citação de Demostenes com que Almeida Garrett iniciou o seu livro Portugal na balança da Europa (edição fac-simile da Universidade de Coimbra e Edições a Bela e o Monstro,2013, sobre a edição de 1830 de S.W.Sustenance, 162 Piccadilly, Londres, preço 6 s).
O autor analisa a condução catastrófica dos destinos do país ao longo da história pela oligarquia (o governo de poucos) em lugar do que hoje chamamos meritocracia, mas a que na altura chamou aristocracia (o governo dos ótimos, do grego aristos).
Para concluir, dada a penúria de recursos, que se não for possível a soberania plena, ao menos, "talvez uma federação..." (na altura, a federação seria com a Espanha; na atualidade a federação será com a União Europeia).
Eu diria federação, não protetorado, e mais diria que se passa tempo demais nas praças, sem produzir... e que no esforço coletivo de maior número possível de cidadãos e cidadãs participantes nos processos políticos a todos os níveis, se concretizará a ideia do "governo dos ótimos", ou democracia participativa (passe a redundância).
junto da Ginjinha do Rossio, de copinho de plástico na mão,"o que há de novo?" |
What a wonderfull world, the lady in nº6
Que mundo maravilhoso, e não é só uma recordação de Louis Armstrong, é o encantamento perante a senhora retratada na reportagem televisiva da Reed Entertainement, que a RTP3 retransmitiu, que Ferreira Fernandes "apanhou" na sua crónica, e que o pseudónimo Dom Dinis "pregou" no youtube. Senhora de 109 anos.
Maravilhoso mundo da internet (e do resto), ainda que... fica bem clara na reportagem a monstruosidade dos campos de concentração nazis, onde a senhora esteve presa, no extraordinário campo de Teresienstadt.
Extraordinário porque os nazis quiseram fazer crer que protegiam os artistas até que a guerra acabasse. E convenceram disso os visitantes da Cruz Vermelha que os visitaram periodicamente. Ocorre-me que as grandes potencias, atualmente, fazem o mesmo com a guerra da Síria e da Líbia, ignoram...Uma sobrevivente de Auschwitz, violoncelista, tocou para o demente dr Mengele...
Mas a senhora do nº6 faz acreditar na espécie humana, "eu olho para o lado bom...não odeio, nem nunca odiarei, o ódio gera ódio... devíamos agradecer a Bach ..."
Isto vai, ao longo do processo histórico...
Maravilhoso mundo da internet (e do resto), ainda que... fica bem clara na reportagem a monstruosidade dos campos de concentração nazis, onde a senhora esteve presa, no extraordinário campo de Teresienstadt.
Extraordinário porque os nazis quiseram fazer crer que protegiam os artistas até que a guerra acabasse. E convenceram disso os visitantes da Cruz Vermelha que os visitaram periodicamente. Ocorre-me que as grandes potencias, atualmente, fazem o mesmo com a guerra da Síria e da Líbia, ignoram...Uma sobrevivente de Auschwitz, violoncelista, tocou para o demente dr Mengele...
Mas a senhora do nº6 faz acreditar na espécie humana, "eu olho para o lado bom...não odeio, nem nunca odiarei, o ódio gera ódio... devíamos agradecer a Bach ..."
Isto vai, ao longo do processo histórico...
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
O Titanic em Portugal em 2016
A propósito da crónica do professor João Cesar das Neves no
DN de 18 de fevereiro de 2016
Caro Professor
Com muita pena minha, eu, membro do grupo dos reformados do
metropolitano a quem cortaram o complemento de reforma, não tenho tido
oportunidade de comentar as suas quase sempre apreciadas crónicas no DN.
Discordando normalmente de si, gosto porém de apreciar os
seus argumentos e, pelo meu lado, de protestar, sabendo embora que fui, e sou,
um privilegiado cujos privilégios ajudaram a afundar o Titanic, conforme se
poderia interpretar a sua metáfora do DN de 18 de fevereiro.
Embora, de cada vez que o professor fala em austeridade e
privilégios insustentáveis na parte dos rendimentos do trabalho, eu me lembre
do gráfico que circulou recentemente, a riqueza dos 50% com registos bancários
mais pobres no mundo a perder rendimentos e as 62 pessoas mais ricas a
ganhá-los:
O seu Titanic é de facto uma interessante metáfora, que eu
gostaria de comentar da seguinte forma.
Não há dúvida, o navio da economia portuguesa chocou com o
iceberg em 2008.
Mas olhe que a bordo havia quem dava atenção ao rumo errado.
Por exemplo, o professor Medina Carreira, e até eu, em comunicações que fazia
no metropolitano, com base em análises sobre o problema da energia.
Se a companhia do Titanic não tivesse já implementado alguns
cortes, como o corte da compra de binóculos mais eficazes, talvez o piloto
tivesse avistado o iceberg a tempo de uma manobra salvadora. Estes critérios
economicistas às vezes vão contra a segurança…
Ou talvez se a administração da companhia, que não percebia
nada de navegação (sei do que falo, como técnico do metropolitano fartei-me de
ver ignorantes na sua administração) não tivesse aquela ideia maluca de provar
a sua competitividade chegando mais depressa a Nova York do que os
competidores, em vez de estar sossegadinha como o capitão queria, para não bater
em icebergs, talvez que, talvez que…
Mas são suposições.
Mais certo é dizer que a sua ficção está correta. O navio
bateu no iceberg e só 10% foi abaixo.
Quem dera que a realidade do Titanic tivesse sido essa. Mas
não foi. O piloto torceu todo o leme para tentar fugir (errado, devia bater com
a proa, mais resistente do que o bordo e isolada por paredes estanques do resto
do casco; ao contrário do rasgo lateral, em que o iceberg foi sucessivamente
abrindo todos os compartimentos estanques que não puderam assim cumprir a sua
missão de projeto, manter a flutuabilidade) e gritou para a casa das máquinas “máxima
força à ré” (errado, se queria virar, devia acelerar; certo, se queria bater de
frente).
Eu diria que bater de frente era manter uma política de
investimento (se não havia dinheiro em Portugal teria de vir da União europeia,
certo? Mas esse Tricheur, perdão, Trichet…) e tentar virar seria uma política
de austeridade que abre um rasgo no bordo do casco de muito mais do que 10% (por
causa dos multiplicadores errados conforme disse a sra Lagarde, não foi?).
Mas não é este o sentido da sua metáfora.
Embora eu concorde com a ideia do flutuador, mas estava a
pensar mais no flutuador ( e do combustível, claro) do investimento.
Até o almirante Draghi já veio dizer, com todas as letras, que
as políticas orçamentais têm de considerar mais investimento público, que isso
se está a perceber cada vez mais…palavras do almirante… e que pena se ouvir
falar tão pouco do CEF, cujas candidaturas por Portugal estão entregues sabe-se
lá a quem, sem discussão pública…
E também concordo com o flutuador do trabalho nas chapas
rasgadas do Titanic (rasgadas, como diz, ao nível do cavername do BES e do
BANIF, sem qualquer culpa dos reformados do metro, perdão, dos marinheiros) ou em
infraestruturas de um país civilizado, que nunca me neguei, nem eu nem os meus
colegas reformados privilegiados do metropolitano, a trabalhar nelas, mesmo que
fosse preciso fazê-lo no natal ou no ano novo.
Aceito a sua dúvida sobre outros critérios de flutuabilidade, mas desculpará dizer-lhe
que não está próxima da realidade a sua afirmação de que não havia alternativa
contra o risco de afogamento (TINA? Penso antes que TIAA) e nunca foi explicada
“qual a opção credível e viável de flutuação” .
Como assim? Dito por quem escreveu, como dizia a viúva
Helmsley, “os ricos não pagam impostos”. Quando ainda há tantas entidades para
isentar da isenção de IMI? quando ainda temos a taxa Tobin nos arquétipos?
quando é insignificante a deslocação do rendimento do capital para o trabalho e
quando o engenheiro de finanças, perdão, de máquinas do navio, do novo capitão
(não, não votei nele, mas confesso que votei num dos partidos que o sentaram na
ponte de comando), consegue armar o quadro Excel das transferências de
rendimentos de modo a manter a carga
fiscal e os critérios do tratado de funcionamento da UE, já criticados pelo
almirante Draghi?
Que fugirão, os fornecedores de flutuadores e de
combustível, perdão, os investidores? Para onde? se até a Suiça acabou com o
sigilo bancário e o presidente dos USA aplica multas a off-shores e a bancos
manipuladores (será verdade que o Deutsche Bank imparidadou 6 mil milhões? Terão
sido os marinheiros do Titanic?).
E não digo isto por achar bem o tal cartaz da JCP que
criticou. Que também não acho, com os peixinhos pequenos a querer comer o peixe
grande (lembra-se do Padre António Vieira a ralhar aos peixes? "Não só vos comeis uns aos outros, senão que
os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os
pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como
os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só
grande... A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que para a carne
há dias de carne, e para o peixe dias de peixe, e para as frutas diferentes meses
do ano; porém, o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se
come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e
assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os
miseráveis pequenos").
Não diga por isso (no sentido de ser uma proposta que eu
faço, não quero impor nem proibir nada) que os marinheiros só pensam em “reduzir
os preços dos restaurantes, aumentar os consumos” (sim, mas também os impostos
sobre os combustíveis e o crédito, para equilibrar o navio…) , “retomar a festa”
(se cumprirmos o artigo da CRP sobre as políticas ativas de emprego reduzimos o
tempo para as festas, certo? Não ao desemprego e ao excesso de tempo livre para
festa) e “redecorar os camarotes dos pensionistas”.
Enfim, professor, a propósito desta sua última frase, muito
gostaria que comentasse, se lhes achar algum interesse, uns pequenos cálculos
que fiz sobre o valor de investimento do diferencial de vencimentos ao longo
dos anos em que os vencimentos no metropolitano foram substancialmente
inferiores aos do setor privado e simplesmente inferiores aos de outras
empresas públicas, e que justificava o conceito de complementos de reforma, vigente
na contratação coletiva para admitidos até 2004:
Com os melhores cumprimentos e votos de saúde
Fernando Santos e Silva
Etiquetas:
João Cesar das Neves,
Titanic
Os hipermercados e o imposto sobre os combustíveis
Queixam-se as virgens púdicas de que o imposto sobre produtos petrolíferos, 6 centimos por litro, vai repercutir-se ao longo da cadeia da economia e encarecer as coisas.
Até nem seria muito mau, já se viu que a deflação é como a austeridade, mata a economia.
Mas não e o essencial, o que interessa é limitar as importações, no caso de combustíveis fosseis.
Analisemos o caso da grande distribuição e da procura pelos consumidores através da utilização do seu transporte privado, assunto já tratado neste blogue, a propósito da lei de Fermat-Weber (cujo estudo devia ser obrigatório nas faculdades de Economia):
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=fermat+weber
Seja D os custos de combustível duma grande distribuidora para abastecimento de uma sua grande superfície comercial, representada na figura da situação I por um quadrado.
Seja "a" a distancia média entre os consumidores e o hipermercado, admitindo que corresponde aos custos de combustível para os consumidores se abastecerem.
Temos assim para a situação I:
custos de combustível dos consumidores: 8a
custos de combustível da distribuidora: D
Admitamos agora que os consumidores perceberam que estavam a suportar custos de combustível da distribuidora por terem de se deslocar demasiado longe, o que obrigou a distribuidora a repensar a sua estratégia e a construir hipermercados mais pequenos mas mais perto dos consumidores, a metade da distancia entre o grande hipermercado e os consumidores e ente os pequenos hipermercados, e representados estes por quadrados mais pequenos na figura da situação II.
O balanço de custos, admitindo que se mantém o primitivo hipermercado como logística de distribuição e não contando os consumidores mais próximos do grande hipermercado, passou a ser, considerando o número de consumidores suficientemente grande para que o custo unitário do transporte da distribuidora seja semelhante aos dos consumidores:
custos de combustível dos consumidores: 4a
custos de combustível da distribuidora: 3a+D
variação da situação I para a II:
consumidores: -4a
distribuidora: +3a
variação total: -a
Isto é, com a situação II o país ficou a ganhar porque tem de importar menos "a" . Mas a distribuidora ficou a perder 3a.
Dá para pensar, não dá?
Sobre a fundamentação dos impostos, por exemplo...
Até nem seria muito mau, já se viu que a deflação é como a austeridade, mata a economia.
Mas não e o essencial, o que interessa é limitar as importações, no caso de combustíveis fosseis.
Analisemos o caso da grande distribuição e da procura pelos consumidores através da utilização do seu transporte privado, assunto já tratado neste blogue, a propósito da lei de Fermat-Weber (cujo estudo devia ser obrigatório nas faculdades de Economia):
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=fermat+weber
Seja D os custos de combustível duma grande distribuidora para abastecimento de uma sua grande superfície comercial, representada na figura da situação I por um quadrado.
Seja "a" a distancia média entre os consumidores e o hipermercado, admitindo que corresponde aos custos de combustível para os consumidores se abastecerem.
Temos assim para a situação I:
custos de combustível dos consumidores: 8a
custos de combustível da distribuidora: D
Admitamos agora que os consumidores perceberam que estavam a suportar custos de combustível da distribuidora por terem de se deslocar demasiado longe, o que obrigou a distribuidora a repensar a sua estratégia e a construir hipermercados mais pequenos mas mais perto dos consumidores, a metade da distancia entre o grande hipermercado e os consumidores e ente os pequenos hipermercados, e representados estes por quadrados mais pequenos na figura da situação II.
O balanço de custos, admitindo que se mantém o primitivo hipermercado como logística de distribuição e não contando os consumidores mais próximos do grande hipermercado, passou a ser, considerando o número de consumidores suficientemente grande para que o custo unitário do transporte da distribuidora seja semelhante aos dos consumidores:
custos de combustível dos consumidores: 4a
custos de combustível da distribuidora: 3a+D
variação da situação I para a II:
consumidores: -4a
distribuidora: +3a
variação total: -a
Isto é, com a situação II o país ficou a ganhar porque tem de importar menos "a" . Mas a distribuidora ficou a perder 3a.
Dá para pensar, não dá?
Sobre a fundamentação dos impostos, por exemplo...
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combustíveis,
lei de Fermat-Weber
Deniz Gamze Erguven
Quem é Deniz Gamze Erguven?
Vou recuar no tempo para responder.
Há muitos anos, a minha professora de História propôs aos seus meninos do 4ºano (atual 8º) um trabalho de grupo sobre um tema do império romano.
Juntamente com um parceiro, resolvemos fazer a lista de todos os imperadores romanos e dos reis da Gália pré-francesa. Claro que a crítica foi a desatenção dos movimentos sociais e suas causas.
No ano seguinte, o meu professor de português passou como tema para o teste, uma redação sobre um tema que nos tivesse impressionado. Ora eu tinha ganho um certo gosto pelas histórias imperiais. Tinha comprado um livrinho com a história do império bizantino e outro, da coleção PUF (Presses universitaires de France) sobre a história da Turquia. Tinha ficado impressionado com a brutalidade de um episódio dos janízaros, a guarda pretoriana do sultão de Constantinopla, isto é, Istambul, e foi isso que pus na redação. Claro que o professor não gostou, ele que queria detetar sensibilidades artísticas e literárias para poder exibir nos seus encontros interpares.
Isto para dizer que me interesso pelos acontecimentos na Turquia e no médio oriente. Admiro o esforço de Ataturk para passar do império medieval dos otomanos para uma república laica moderna (e contudo, o senhor Erdogan é um retrógrado que tem feito o povo regredir no sentido de uma república islâmica, um pouco como seria se um partido democrata cristão reimpusesse a santa inquisição).
Achei curioso o alinhamento da Turquia com a Alemanha na I Grande Guerra, o episódio do desastre dos Dardanelos (que faziam soldados australianos em Galipoli, nos Dardanelos,a morrer tão longe da sua terra?). Compreendi por isso porque o museu de Berlim das antiguidades clássicas é tão rico. Arqueólogos alemães tinham trabalhado intensamente desde o século XIX na Asia Menor (descoberta das ruinas de Troia) e no Egito (busto de Nefertiti em Berlim). Ainda hoje a Turquia se orgulha de cuidar melhor dos vestígios da cultura grega clássica do que os próprios gregos.
O desfecho da I Grande Guerra foi fatal para o império otomano. A Inglaterra imperial, que tinha sido aliada da Turquia na guerra da Crimeia, em 1854, quando a Alemanha ainda não se tinha unificado, quis então conter o expansionismo russo e ao mesmo tempo criar espaço para os seus capitais (estava-se na revolução industrial) nos territórios do império otomano, ricos em petróleo. Foi uma aliança interesseira. Com o fim da I Grande Guerra, contida a influencia germânica, a Inglaterra pôde assenhorear-se dos poços de petróleo do Iraque ao Cáucaso e à Pérsia, ou obter alianças com a tribo saudita. E retalhar autistamente o mapa do médio oriente, com grandes culpas na situação atual. É por isso que não gostei de ver Peter O´Toole a fazer de Lawrence da Arábia.
Tem sido difícil o progresso civilizacional da Turquia. A censura dos sultões impediu até a difusão da imprensa, só vulgarizada no fim do século XIX. Os indicadores do analfabetismo eram catastróficos. A religião opôs-se ao progresso civilizacional.
E chegamos à Turquia de hoje, que eu desejaria ver integrada na União europeia, desde que respeite e cumpra os princípios básicos de uma sociedade laica, em que as mulheres possam andar de cabelos ao vento, como vemos as suas artistas nos festivais europeus, e os seus cidadãos e cidadãs a participar nas ações comuns, como eu testemunhei nas reuniões com os meus colegas do metro de Istambul. E que os orgãos institucionais respeitem e apoiem a autonomia dos curdos, em vez de criminosamente os culparem da guerra síria.
Não é só o facto da Turquia ser dos países com maior número de jornalistas presos, de manter preso Oçalan, político curdo que defende soluções pacíficas não obstante o aliado USA classificar facciosamente a sua organização como terrorista (como fez aliás com Mandela), de ser gritante a desigualdade de género devido à força religiosa. A sua política externa é perigosa principalmente por ser um aliado da NATO e reprimir a autonomia curda e por tomar partido no eterno conflito sunitas-xiitas (pense-se no período catastrófico que foi para a Europa o das guerras religiosas da Reforma e da Contrarreforma).
Ah, é verdade, Deniz Gamze Erguven, É a realizadora turca, vivendo também em França, do filme Mustang, sobre 5 raparigas cuja educação, primeiro liberal e depois reprimida, é a metáfora da Turquia moderna.
Viva a Turquia, república laica europeia.
Vou recuar no tempo para responder.
Há muitos anos, a minha professora de História propôs aos seus meninos do 4ºano (atual 8º) um trabalho de grupo sobre um tema do império romano.
Juntamente com um parceiro, resolvemos fazer a lista de todos os imperadores romanos e dos reis da Gália pré-francesa. Claro que a crítica foi a desatenção dos movimentos sociais e suas causas.
No ano seguinte, o meu professor de português passou como tema para o teste, uma redação sobre um tema que nos tivesse impressionado. Ora eu tinha ganho um certo gosto pelas histórias imperiais. Tinha comprado um livrinho com a história do império bizantino e outro, da coleção PUF (Presses universitaires de France) sobre a história da Turquia. Tinha ficado impressionado com a brutalidade de um episódio dos janízaros, a guarda pretoriana do sultão de Constantinopla, isto é, Istambul, e foi isso que pus na redação. Claro que o professor não gostou, ele que queria detetar sensibilidades artísticas e literárias para poder exibir nos seus encontros interpares.
Isto para dizer que me interesso pelos acontecimentos na Turquia e no médio oriente. Admiro o esforço de Ataturk para passar do império medieval dos otomanos para uma república laica moderna (e contudo, o senhor Erdogan é um retrógrado que tem feito o povo regredir no sentido de uma república islâmica, um pouco como seria se um partido democrata cristão reimpusesse a santa inquisição).
Achei curioso o alinhamento da Turquia com a Alemanha na I Grande Guerra, o episódio do desastre dos Dardanelos (que faziam soldados australianos em Galipoli, nos Dardanelos,a morrer tão longe da sua terra?). Compreendi por isso porque o museu de Berlim das antiguidades clássicas é tão rico. Arqueólogos alemães tinham trabalhado intensamente desde o século XIX na Asia Menor (descoberta das ruinas de Troia) e no Egito (busto de Nefertiti em Berlim). Ainda hoje a Turquia se orgulha de cuidar melhor dos vestígios da cultura grega clássica do que os próprios gregos.
O desfecho da I Grande Guerra foi fatal para o império otomano. A Inglaterra imperial, que tinha sido aliada da Turquia na guerra da Crimeia, em 1854, quando a Alemanha ainda não se tinha unificado, quis então conter o expansionismo russo e ao mesmo tempo criar espaço para os seus capitais (estava-se na revolução industrial) nos territórios do império otomano, ricos em petróleo. Foi uma aliança interesseira. Com o fim da I Grande Guerra, contida a influencia germânica, a Inglaterra pôde assenhorear-se dos poços de petróleo do Iraque ao Cáucaso e à Pérsia, ou obter alianças com a tribo saudita. E retalhar autistamente o mapa do médio oriente, com grandes culpas na situação atual. É por isso que não gostei de ver Peter O´Toole a fazer de Lawrence da Arábia.
Tem sido difícil o progresso civilizacional da Turquia. A censura dos sultões impediu até a difusão da imprensa, só vulgarizada no fim do século XIX. Os indicadores do analfabetismo eram catastróficos. A religião opôs-se ao progresso civilizacional.
E chegamos à Turquia de hoje, que eu desejaria ver integrada na União europeia, desde que respeite e cumpra os princípios básicos de uma sociedade laica, em que as mulheres possam andar de cabelos ao vento, como vemos as suas artistas nos festivais europeus, e os seus cidadãos e cidadãs a participar nas ações comuns, como eu testemunhei nas reuniões com os meus colegas do metro de Istambul. E que os orgãos institucionais respeitem e apoiem a autonomia dos curdos, em vez de criminosamente os culparem da guerra síria.
Não é só o facto da Turquia ser dos países com maior número de jornalistas presos, de manter preso Oçalan, político curdo que defende soluções pacíficas não obstante o aliado USA classificar facciosamente a sua organização como terrorista (como fez aliás com Mandela), de ser gritante a desigualdade de género devido à força religiosa. A sua política externa é perigosa principalmente por ser um aliado da NATO e reprimir a autonomia curda e por tomar partido no eterno conflito sunitas-xiitas (pense-se no período catastrófico que foi para a Europa o das guerras religiosas da Reforma e da Contrarreforma).
Ah, é verdade, Deniz Gamze Erguven, É a realizadora turca, vivendo também em França, do filme Mustang, sobre 5 raparigas cuja educação, primeiro liberal e depois reprimida, é a metáfora da Turquia moderna.
Viva a Turquia, república laica europeia.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Acidente de Bad Aibling, conferencia de imprensa em 16 de fevereiro de 2016
O acidente, colisão frontal de dois comboios em via única,ocorreu em 9 de fevereiro de 2016.
As declarações sobre as prováveis causas do acidente limitaram-se, no próprio dia, ao anúncio da abertura da investigação pela entidade federal de investigação de acidentes ferroviários, Eisenbahn-Unfalluntersuchungstelle, ao anúncio do inquérito pela companhia privada que explora a linha suburbana (as infraestruturas são geridas pela Deutsche Bubdesbahn), Meridian, subsidiária da Transdev, e à informação pelo comandante da polícia que era pura especulação a hipótese de desativação do sistema de travagem automática.
Na conferencia de imprensa de 16 de fevereiro, o procurador informou que foi falha humana, do controlador de movimento do posto de comando da estação de Bad Aibling.
Assinale-se a diferença de cultura para os USA, Inglaterra e França, em que os passos da investigação são comunicados em conferencias de imprensa imediatas, e em que se chegam a recolher contribuições de cidadãos para ajudar a esclarecer as causas.
Neste caso, o site da Eisenbahn-Unfalluntersuchungstell mantem-se omisso sobre o andamento das investigações.
Assinale-se ainda o excelente serviço da BBC na tentativa de esclarecimento.
Pelas informações até agora prestadas, terá sido o controlador de Bad Aibling que terá autorizado (mediante o acendimento de 3 focos brancos ao lado do sinal vermelho, autorizando a ultrapasagem deste) o comboio no sentido para leste a avançar. Esse comboio estaria atrasado 4 minutos, chocando com o comboio no sentido de oeste que estava no seu horário e já tinha saído da estação de Kolbermoor.
É precário um regulamento de sinalização que permite a um homem só ultrapassar a indicação máxima de segurança de um sinal vermelho. A segurança ferroviária impõe que uma falha humana nunca deverá conduzir a um acidente. Logo, a afirmação do procurador de falha humana significa, na realidade, falha de projeto, o que não é admissível . Esperemos portanto que a acusação não concretize a ameaça de prisão para o controlador, que é neste caso o elo mais fraco (alguma imprensa já divulgou o seu salário anual bruto: 31500 euros, possivelmente para insinuar que é um privilegiado). Num ambiente em pressão (um dos comboios atrasado) existe o risco de troca de operações (exemplo: o controlador ter pensado em reter o comboio sentido oeste em Kolbermoor, ter-se esquecido de executar a operação e ter autorizado o comboio sentido leste a ultrapassar o sinal vermelho, não obstante o itinerário estar feito no painel de comando para o comboio sentido oeste).
Mas repito: o regulamento é precário, ultrapassar um sinal vermelho deve exigir pelo menos duas pessoas para além do maquinista, envolvendo por exemplo a comunicação rádio mutuamente confirmada (acknowledged). Além disso, o sistema de travagem automática em serviço, apesar de recente (a sua instalação foi generalizada na Alemanha depois do acidente em via única na Saxonia-Anhalt em fevereiro de 2011) é apenas pontual.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=anhalthttp://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=anhalt~
A segurança mais elevada exige um sistema ATP de controle contínuo da curva da velocidade. Que neste caso teria impedido o movimento do comboio sentido leste (a menos que o sistema ATP fosse desligado, coisa que o regulamento deve proibir, estabelecendo cantonamento de bastão piloto em caso de avaria, com presença obrigatória de operador no local e confirmação da avaria).
Para reduzir a probabilidade de acidente, um sistema pontual deve repetir os sinais equipados com as balizas de travagem automática. Neste caso, um troço de 5 km, justificar-se-ia, em cada sentido, um sinal de saída, um sinal de intermédio e um sinal de entrada, para além dos sinais de manobra das agulhas em cada estação nas extremidades do troço. Tendo autorizado a ultrapassagem do sinal de saída, o comboio teria sido travado pelo sinal intermédio. Mas são suposições e um solução de recurso, uma vez que a solução correta é controle contínuo (baseado em localização por comunicação de dados por rádio) e, em caso de avaria, um regulamento com procedimentos mais restritivos, como aliás os comentadores já foram deixando.
De assinalar também que uma linha suburbana não deve ter troços em via única e não deve ter passagens de nível, como neste caso, pelo que se manteem as principais críticas do post anterior sobre o acidente na Saxonia-Anhal, nomeadamente nos riscos dos critérios economicistas.
.
No caso de Bad Aibling, refiro ainda, com base nas informações que circularam, sujeitas a confirmação
1 - a companhia Meridian tem 35 composições, encontrando-se por vezes 10 avariadas; existe um grupo de trabalho com o fornecedor para resolver as multiplas avarias
2 - consta que os dois maquinistas se encontravam em formação, acompanhados por instrutores (todos os 4 morreram, como 7 dos 150 passageiros); não parece aconselhável mais do que uma tripulação nestas condições em plena exploração (compreende-se o fator económico, mas o esforço principal da formação deve ser em circulação noturna fora da exploração (para além do recurso a simulador)
3 - a avaliar pelas horas-minutos indicados, a velocidade não deveria ser superior a 60km/h, sendo que um dos sistemas PZB impõe a limitação de velocidade a 40km/h ao comboio autorizado a ultrapassar o vermelho (ignoro se foi o caso)
4 - no entanto, é de assinalar a estrutura deformável e possivelmente o sistema anti-climbing (antiencavalitamento) que terá evitado mais mortes
5 - a Deutche Bundesbahn apenas tem cerca de 13% de encravamentos eletrónicos (interlockings) do total de 4000 encravamentos na sua rede, sendo que neste caso o encravamento era de relés (no caso de vias únicas, é aconselhável a redundância dos circuitos de via clássicos com contadores de eixos)
Junto endereços com mais informação e 2 comentários à notícia dada pela BBC:
PS em 24 de fevereiro - Segundo informações posteriores, um dos comboios era conduzido por um maquinista em formação acompanhado por um instrutor, e o outro por um maquinista acompanhado por um colega de outra rede (situação que a confirmar-se deverá ser esclarecida do ponto de vista regulamentar). Também foi informado que um dos comboios seguia a cerca de 50 km/h, provavelmente o que passou pelo sinal vermelho depois de autorizado por telecomando (limitação automática pelo sistema PZB). Mantem-se a falta de informação peloo gabinete de investigação ed acidentes, o que considero falha grave. Mantenho a opinião de que um sistema tippo PZB, por ser pontual não tem nível de segurança suficiente. Deverá utilizar-se um ATP de controle contínuo, baseado em radiocomunicações de dados (incluindo a localização dos comboios em jogo), exigindo a intervenção de dois agentes para além do maquinista e circulação com bastão piloto em caso de avaria. Não deveria utilizar-se a via única em serviço suburbano com intervalos curtos. E não deveria nunca haver passagens de nível (não contribuiu neste caso para o acidente, contrariamente ao acidente na Holanda de 23 de fevereiro de 2016).
As declarações sobre as prováveis causas do acidente limitaram-se, no próprio dia, ao anúncio da abertura da investigação pela entidade federal de investigação de acidentes ferroviários, Eisenbahn-Unfalluntersuchungstelle, ao anúncio do inquérito pela companhia privada que explora a linha suburbana (as infraestruturas são geridas pela Deutsche Bubdesbahn), Meridian, subsidiária da Transdev, e à informação pelo comandante da polícia que era pura especulação a hipótese de desativação do sistema de travagem automática.
Na conferencia de imprensa de 16 de fevereiro, o procurador informou que foi falha humana, do controlador de movimento do posto de comando da estação de Bad Aibling.
Assinale-se a diferença de cultura para os USA, Inglaterra e França, em que os passos da investigação são comunicados em conferencias de imprensa imediatas, e em que se chegam a recolher contribuições de cidadãos para ajudar a esclarecer as causas.
Neste caso, o site da Eisenbahn-Unfalluntersuchungstell mantem-se omisso sobre o andamento das investigações.
Assinale-se ainda o excelente serviço da BBC na tentativa de esclarecimento.
Pelas informações até agora prestadas, terá sido o controlador de Bad Aibling que terá autorizado (mediante o acendimento de 3 focos brancos ao lado do sinal vermelho, autorizando a ultrapasagem deste) o comboio no sentido para leste a avançar. Esse comboio estaria atrasado 4 minutos, chocando com o comboio no sentido de oeste que estava no seu horário e já tinha saído da estação de Kolbermoor.
É precário um regulamento de sinalização que permite a um homem só ultrapassar a indicação máxima de segurança de um sinal vermelho. A segurança ferroviária impõe que uma falha humana nunca deverá conduzir a um acidente. Logo, a afirmação do procurador de falha humana significa, na realidade, falha de projeto, o que não é admissível . Esperemos portanto que a acusação não concretize a ameaça de prisão para o controlador, que é neste caso o elo mais fraco (alguma imprensa já divulgou o seu salário anual bruto: 31500 euros, possivelmente para insinuar que é um privilegiado). Num ambiente em pressão (um dos comboios atrasado) existe o risco de troca de operações (exemplo: o controlador ter pensado em reter o comboio sentido oeste em Kolbermoor, ter-se esquecido de executar a operação e ter autorizado o comboio sentido leste a ultrapassar o sinal vermelho, não obstante o itinerário estar feito no painel de comando para o comboio sentido oeste).
situação de risco: o sinal vermelho é anulado por telecomando dos 3 focos brancos; vê-se na via a baliza da travagem automática do sistema PZB90, desativada pelo mesmo telecomando |
Mas repito: o regulamento é precário, ultrapassar um sinal vermelho deve exigir pelo menos duas pessoas para além do maquinista, envolvendo por exemplo a comunicação rádio mutuamente confirmada (acknowledged). Além disso, o sistema de travagem automática em serviço, apesar de recente (a sua instalação foi generalizada na Alemanha depois do acidente em via única na Saxonia-Anhalt em fevereiro de 2011) é apenas pontual.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=anhalthttp://fcsseratostenes.blogspot.pt/search?q=anhalt~
A segurança mais elevada exige um sistema ATP de controle contínuo da curva da velocidade. Que neste caso teria impedido o movimento do comboio sentido leste (a menos que o sistema ATP fosse desligado, coisa que o regulamento deve proibir, estabelecendo cantonamento de bastão piloto em caso de avaria, com presença obrigatória de operador no local e confirmação da avaria).
Para reduzir a probabilidade de acidente, um sistema pontual deve repetir os sinais equipados com as balizas de travagem automática. Neste caso, um troço de 5 km, justificar-se-ia, em cada sentido, um sinal de saída, um sinal de intermédio e um sinal de entrada, para além dos sinais de manobra das agulhas em cada estação nas extremidades do troço. Tendo autorizado a ultrapassagem do sinal de saída, o comboio teria sido travado pelo sinal intermédio. Mas são suposições e um solução de recurso, uma vez que a solução correta é controle contínuo (baseado em localização por comunicação de dados por rádio) e, em caso de avaria, um regulamento com procedimentos mais restritivos, como aliás os comentadores já foram deixando.
De assinalar também que uma linha suburbana não deve ter troços em via única e não deve ter passagens de nível, como neste caso, pelo que se manteem as principais críticas do post anterior sobre o acidente na Saxonia-Anhal, nomeadamente nos riscos dos critérios economicistas.
.
No caso de Bad Aibling, refiro ainda, com base nas informações que circularam, sujeitas a confirmação
1 - a companhia Meridian tem 35 composições, encontrando-se por vezes 10 avariadas; existe um grupo de trabalho com o fornecedor para resolver as multiplas avarias
2 - consta que os dois maquinistas se encontravam em formação, acompanhados por instrutores (todos os 4 morreram, como 7 dos 150 passageiros); não parece aconselhável mais do que uma tripulação nestas condições em plena exploração (compreende-se o fator económico, mas o esforço principal da formação deve ser em circulação noturna fora da exploração (para além do recurso a simulador)
3 - a avaliar pelas horas-minutos indicados, a velocidade não deveria ser superior a 60km/h, sendo que um dos sistemas PZB impõe a limitação de velocidade a 40km/h ao comboio autorizado a ultrapassar o vermelho (ignoro se foi o caso)
4 - no entanto, é de assinalar a estrutura deformável e possivelmente o sistema anti-climbing (antiencavalitamento) que terá evitado mais mortes
5 - a Deutche Bundesbahn apenas tem cerca de 13% de encravamentos eletrónicos (interlockings) do total de 4000 encravamentos na sua rede, sendo que neste caso o encravamento era de relés (no caso de vias únicas, é aconselhável a redundância dos circuitos de via clássicos com contadores de eixos)
Junto endereços com mais informação e 2 comentários à notícia dada pela BBC:
The only human error is stupidity of engineering. Obviously German
engineering is not all it is cracked up to be. ANY system that allows a single
human error to allow a head on collision of two trains is faulty by design.
1
Human error? Why in 21st Century in a developed nation is a human capable
of making that type of mistake without at least two automated systems kicking
in to both stop the trains and to alert all sort of people (the operator, his
boss, both engineers).
These are relatively easy engineering problems to solve (in the 21st Century) yet hasn't been done.
These are relatively easy engineering problems to solve (in the 21st Century) yet hasn't been done.
funcionamento da travagem automática PZB90:
https://en.wikipedia.org/wiki/Punktf%C3%B6rmige_Zugbeeinflussung
https://en.wikipedia.org/wiki/Punktf%C3%B6rmige_Zugbeeinflussung
PS em 24 de fevereiro - Segundo informações posteriores, um dos comboios era conduzido por um maquinista em formação acompanhado por um instrutor, e o outro por um maquinista acompanhado por um colega de outra rede (situação que a confirmar-se deverá ser esclarecida do ponto de vista regulamentar). Também foi informado que um dos comboios seguia a cerca de 50 km/h, provavelmente o que passou pelo sinal vermelho depois de autorizado por telecomando (limitação automática pelo sistema PZB). Mantem-se a falta de informação peloo gabinete de investigação ed acidentes, o que considero falha grave. Mantenho a opinião de que um sistema tippo PZB, por ser pontual não tem nível de segurança suficiente. Deverá utilizar-se um ATP de controle contínuo, baseado em radiocomunicações de dados (incluindo a localização dos comboios em jogo), exigindo a intervenção de dois agentes para além do maquinista e circulação com bastão piloto em caso de avaria. Não deveria utilizar-se a via única em serviço suburbano com intervalos curtos. E não deveria nunca haver passagens de nível (não contribuiu neste caso para o acidente, contrariamente ao acidente na Holanda de 23 de fevereiro de 2016).
Mario Draghi, em 15 de fevereiro de 2016
Notícia da RTP, Mario Draghi e o BCE: "Está a tornar-se cada vez mais claro que as políticas orçamentais devem apoiar a retoma económica através do investimento público e de uma taxação mais branda".
Deuses, mas aos anos que andamos, pelo menos alguns de nós, a dizer isso.
Deuses, mas aos anos que andamos, pelo menos alguns de nós, a dizer isso.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Oito lamentações à maneira de Jeremias, e uma nona lamentação ainda maior, ou as 8 condecorações
"Porque alcançam os maus tanto sucesso
e os pérfidos vivem tranquilos na sua malvadez?
Tu os plantaste e eles lançam raízes,
crescem e frutificam"
Jeremias, 12,1-2
1ª lamentação - Paulo Macedo - mostrou a sua competência como gestor e economista enquanto diretor geral das contribuições. Mas como pode compreender um hospital?
2ªlamentação - Campos Cunha - saíu para mostrar que a política do governo Sócrates era insustentável. Mas isso era o que muitos diziam na altura e não foram medalhados
3ªlamentação - Álvaro Pereira - de olhos muito abertos gritou:Vamos acabar com as vossas regalias. Foi forte com os fracos, mas os mais fortes afastaram-no
4ªlamentação - Lurdes Rodrigues - desceu às escolas, mas não para compreendê-las, antes para lhes anunciar a sua verdade. Perdeu o apoio dos professores e não ganhou o apoio do povo, apesar do presidente da República repetir Deixem trabalhar a senhora
5ªlamentação - Bagão Felix - é uma pessoa simpática e com interesse, como mostram as suas conversas televisivas, um excelente gestor de seguros e analista fiscal e da segurança social. Mas porque é tão fundamentalista nas suas opções?
6ªlamentação - Nuno Crato - como pode um bom matemático abstrair da realidade da desigualdade de condições educacionais das crianças de menores recursos económicos quando a abstração é uma força da matemática?
7ªlamentação - Rui Pereira - como se pode ser tão teórico apoiando-se em estatísticas não atualizadas quando do outro lado da cidade se executa mais um assalto a uma ourivesaria e se ignoram as correlações entre abandono escolar/desemprego e criminalidade?
8ªlamentação - Vitor Gaspar - criativo fornecedor da imagem do oásis a Braga de Macedo, como conseguiu em tão pouco tempo compreender que andamos todos a subsidiar os produtores e distribuidores de combustíveis fósseis depois de ter reduzido a parte dos rendimentos do trabalho?
Lamentação maior - como foi possível termos tido um presidente da República que animadamente revalorizou o escudo nos idos de 78, ignorou a diferença entre Tomas More e Tomas Mann e não se decidiu entre Musgrave e Buchanan enquanto amigos seus não recomendáveis exploravam as fragilidades financeiras do país? Porque ficaram tantos em casa nas eleições que ele ganhou?
Tal como Jeremias esperava o fim do cativeiro de Babilónia, também nós esperaremos o fim desta forma de vida.
sábado, 6 de fevereiro de 2016
Monsieur Moscovici, tenho de corrigir o meu post anterior
Monsieur Moscovici, tenho de corrigir, ou melhor, completar, o meu post anterior.
Gostei de o ouvir dizer que a aprovação do projeto de orçamento de Estado português para 2016, embora com reservas, tinha sido um trabalho técnico para compatibilização com as regras europeias, independentemente da cor do governo.
Assim respondia às insistentes perguntas de alguns jornalistas que gostariam de ver condenados os "extremistas" que suportam no Parlamento português o XXI governo, para utilizar a terminologia do presidente do grupo dos partidos PPE no Parlamento europeu, que o deputado português Rangel, à boa maneira de Miguel de Vasconcelos, também utiliza no mesmo Parlamento.
Claro que o orçamento, no contexto espartilhado pelas ditas regras e pelo falhanço das políticas económicas da UE, não resolve as questões do investimento, do crescimento e do desemprego. E deixa por resolver escandalos como as rendas das PPP e o defice tarifário, sem esquecer o continuado esquecimento da taxa Tobin (que diriam os prosélitos neo-liberais se o orçamento contivesse a taxa Tobin, eles que tanto se escandalizaram porque a taxa da contribuição bancária sobre os passivos subiu de 0,100% para 0,105% ...) .
Também tenho de criticar o orçamento e Monsieur Moscovici e seus comissários porque são omissos em referir a necessidade de fundos comunitários para desenvolver as infraestruturas ferroviárias e energéticas de ligação de Portugal à Europa (Horizonte 2020, plano Juncker, CEF - ou bem que somos uma união ou mal que não somos).
Mas claramente também, o orçamento desloca o esforço dos sacrifícios no sentido de quem tem maiores rendimentos.
Por isso, enquanto o Parlamento europeu não consegue mudar as regras para se atacar a sério os problemas do investimento, do crescimento e do desemprego, e esperemos que os partidos de esquerda compreendam que é aí que se devem concentrar, em ganhar uma maioria de esquerda, não em sair da UE porque internacionalismo será isso, gostaria de o felicitar pela forma civilizada como comunicou a aprovação do orçamento.
Que viva a Europa.
Gostei de o ouvir dizer que a aprovação do projeto de orçamento de Estado português para 2016, embora com reservas, tinha sido um trabalho técnico para compatibilização com as regras europeias, independentemente da cor do governo.
Assim respondia às insistentes perguntas de alguns jornalistas que gostariam de ver condenados os "extremistas" que suportam no Parlamento português o XXI governo, para utilizar a terminologia do presidente do grupo dos partidos PPE no Parlamento europeu, que o deputado português Rangel, à boa maneira de Miguel de Vasconcelos, também utiliza no mesmo Parlamento.
Claro que o orçamento, no contexto espartilhado pelas ditas regras e pelo falhanço das políticas económicas da UE, não resolve as questões do investimento, do crescimento e do desemprego. E deixa por resolver escandalos como as rendas das PPP e o defice tarifário, sem esquecer o continuado esquecimento da taxa Tobin (que diriam os prosélitos neo-liberais se o orçamento contivesse a taxa Tobin, eles que tanto se escandalizaram porque a taxa da contribuição bancária sobre os passivos subiu de 0,100% para 0,105% ...) .
Também tenho de criticar o orçamento e Monsieur Moscovici e seus comissários porque são omissos em referir a necessidade de fundos comunitários para desenvolver as infraestruturas ferroviárias e energéticas de ligação de Portugal à Europa (Horizonte 2020, plano Juncker, CEF - ou bem que somos uma união ou mal que não somos).
Mas claramente também, o orçamento desloca o esforço dos sacrifícios no sentido de quem tem maiores rendimentos.
Por isso, enquanto o Parlamento europeu não consegue mudar as regras para se atacar a sério os problemas do investimento, do crescimento e do desemprego, e esperemos que os partidos de esquerda compreendam que é aí que se devem concentrar, em ganhar uma maioria de esquerda, não em sair da UE porque internacionalismo será isso, gostaria de o felicitar pela forma civilizada como comunicou a aprovação do orçamento.
Que viva a Europa.
o rapto de Europa por Zeus, baixo relevo do antigo cinema Europa, agora num bloco de apartamentos, no mesmo local, em Campo de Ourique |
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Europa,
orçamento 2016
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
Monsieur Moscovici, vocês dão cabo da paciência de um santo
Vocês fazem perder a paciência a um santo.
Estou farto das vossas implicações, de tanto com que vocês implicam. Das vossas burocracias e dos vossos fundamentalismos.
Não é que não tenham alguma razão. O nosso ministro das finanças do XXI governo é um pouco teórico, tem pouca experiência da vida real nas frentes de trabalho das empresas. É um académico. Como vocês, afinal.
Tão irrealista é um, para tal taxa de crescimento, como os outros, vocês. Como podem vocês aumentar o crescimento e cortar o desemprego com a vossa paixão pela austeridade? E como se pode crescer com a vossa austeridade, sem evitar a reestruturação da dívida (de que vocês fogem como o Shylock do mercador de Veneza) e cumprindo as vossas utópicas regras orçamentais? (ver http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/05/o-triangulo-das-impossibilidades-da.html )
Vocês não querem ver como as vossas regras (foi isso que disseram, não foi? que há regras para cumprir) já limitaram mais do que o suficiente e o conveniente o nosso crescimento. Vá lá que já perceberam com os ingleses, que quando é preciso se mudam regras. Falta agora perceberem o que os italianos vos têm dito. Mas tiveram de bolsar aquela que a Grécia não está a fazer o suficiente para conter a vaga de refugiados. Tenham pudor, nem vale a pena argumentar perante tal disparate. Ajudem antes a parar a guerra, geoestratégico petrolífera ou lá o que for, e chamem a atenção da Turquia para respeitar o povo curdo.
Vocês estão a bloquear a Europa. O que será preciso fazer ? para vocês aceitarem isto tão simples, não podemos viver em deflação, com o desemprego e subemprego que isso acarreta, nem podemos ter diferenças de taxas de juro de país para país, nem podemos ter os defices estruturais ou suas taxas de variação que só podem existir nas vossas cabeças, nem podemos impedir o controle público das empresas estratégicas, nem podemos deixar as coisas nas vossas financeiras mãos, numa frase simples.
Parem lá de discutir se o corte das pensões e dos salários públicos é temporário ou estrutural, se entra, se sai das contas ou se pelo contrário.
Talvez só se possa sair deste impasse por ação do parlamento europeu. Mas têm de se entender para isso, os deputados europeus. Que parecem dominados pela incapacidade de se organizarem, como é caraterístico dos grupos de portugueses.
Não há paciência, vocês querem implodir a união, querem que a Grécia, a Inglaterra, nós, a Itália vos mandem passear?
Acham que não é possível? Deixem-me lembrar-vos que a seguir ao 25 de abril de 1974 também muitos governos estrangeiros ameaçaram Portugal com a quebra de negócios. Não deu em nada, a ameaça, os negócios são feitos com empresas, não com governos (pelo menos nalguns casos, os seficientes), e a Siemens, por exemplo, manteve os seus negócios. A General Eletric, por exemplo, não manteve.
São opções...
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União Europeia
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