Ao mesmo tempo, concluiam-se as obras do prolongamento do metropolitano da estação Baixa a Santa Apolónia, ultrapassado o acidente no túnel do Terreiro do Paço de junho de 2000 (abertura imprudente e sem a presença da fiscalização de vários carotes por onde penetraram os lodos).
O novo troço abriu ao público em dezembro de 2007, mas nem todas as obras programadas foram concluidas. Ficou por arranjar a superfície, junto do torreão nascente e até à estação sul e sueste original, que ficou por rehabilitar.
Curiosamente, essa obra de arranjo da superfície já tinha começado, mas à aproximação do segundo semestre de 2007 veio a ordem para suspendê-la e vedá-la com um tapume branco, opaco, sobre o qual alguns artistas exprimiram a sua arte.
Que os distintos comissários não vissem obras quando passassem nos seus carros de luxo escoltados por motociclistas luminosos.
Depois da presidencia o esforço do metropolitano concentrou-se no prolongamento de Alameda a S.Sebastião, as dificuldades financeiras já ameaçavam, surgiram os "swaps", algo digno do agiota de Shakespeare no Mercador de Veneza e, com a inércia destas coisas, a obra da superfície do Terreiro do Paço e estação sul e sueste ficou por fazer.
Curiosamente também, aproxima-se a presidencia portuguesa da UE no primeiro semestre de 2021 ao mesmo tempo que se anuncia esta obra, associada ao muro dos banquinhos de namoro do lado ocidental da zona ribeirinha e da remodelação da zona da doca da Marinha.
O senhor presidente da câmara, muito contente, disse que tudo ficaria pronto em 2020.
Mas, e se não ficar, alguém vai mandar pôr uma púdica vedação para street artists decorarem?
Esperemos que não.
Durante as obras de recuperação do túnel do Terreiro do Paço, que incluiram um aterro sobre o tunel, já no rio, para compensar o efeito de impulsão sobre o túnel, propus que toda a frente ribeirinha avançasse, incluindo a escadaria e o cais das colunas (aliás parcialmente desmontado, guardadas as pedras nos armazens do metro, e posteriormente reconstruido pelo empreiteiro contratado), para ganhar terreno ao rio e espaço entre os torreões e o rio, incluindo a possibilidade de um tunel rodoviário (como aliás previsto no projeto original, de que se desistiu em 2006)e a desmontagem pedra por pedra da estação sul e sueste e sua remontagem mais a montante, onde não estragasse o conjunto da praça do Terreiro do Paço (já repararam como o modernismo da estação agride o classicismo da praça?).
A proposta nem chegou a ser discutida porque o IGESPAR determinou que tudo tinha de ficar como estava porque não se podia mexer no património. Era um fundamentalismo simples, que não considerava a necessidade de proteção contra inundações nem o benefício para os peões de ganhar espaço; o governo foi atrás, puseram-se as pedras do cais das colunas no mesmo sítio (umas primitivas e outras cortadas de novo) e deixou-se o espaço entre o torreão nascente e a estação sul e sueste a apodrecer.
Até agora, pelos vistos, em que um senhor arquiteto muito apreciado deu forma aos desejos desta CML que com pompa e circunstancia anunciou a conclusão das obras do arranjo da frente ribeirinha do Terreiro do Paço e estação sul e sueste para fins de 2020:
https://www.dn.pt/cidades/muro-das-namoradeiras-a-reconstrucao-mais-esperada-pelos-lisboetas-video-11558621.html
Nestas coisas a minha posição já é antiga, elas devem ser resolvidas com informação e participação respeitada dos cidadãos. E não é, por mais equilibradas e fundamentadas que sejam as propostas dos cidadãos (elas só podem ser fundamentadas se houver informação atempada, o que é raro) elas não são consideradas, como no caso da 2ª circular, por exemplo.
Mas perante a prepotencia dos decisores e a incipiencia técnica das soluções (do ponto de vista técnico, por razões de proteção contra inundações, para manter a segurança do tunel do metro e para viabilizar um novo tunel rodoviário, o avanço da frente ribeirinha seria melhor solução) reconheço que o argumento da incapacidade financeira tem muita força, só que soluções incipientes não deveriam ser glorificadas desta maneira.
Há contudo um aspeto preocupante no anuncio. É que se pretende retirar o aterro sobre o tunel do metro. Na realidade, a totalidade do aterro não está lá, e com o assoreamento foram-se acumulando materiais. Em principio, esses materiais fazem pressão sobreo tunel e a sua retirada provocará a sua submissão a pressões que o poderão deformar ou fendilhar. Por isso deveria repensar-se o propósito, que provavelmente terá razóes estéticas. E se a retirada for para a frente, é essencial que os trabalhos sejam acompanhados pela monitorização da geometria do tunel para intervenção imediata em caso de deformação. Nas fotos seguintes fazem-se comentários local a local.
julgo que os corpos cilindricos visíveis são estacas de contenção dos terrenos e do tunel e do próprio torreão poente; pertencerão a um conjunto de proteção sísmica que não deverá ser tocado |
o tunel passa sensivelmente sob o espaço compreendido entre o acesso do metro à direita e a rapariga sentada nas pedras; a retirada dos materiais poderá afetar gravemente o tunel |
Finalmente, uma chamada de atenção para mais um caso triste. Choca a insensibilidade de quem projetou o esquema de acesso ao elevador de superficie da estação Terreiro do Paço. Quem, de mobilidade reduzida, sair do barco e pretenda aceder ao metro, terá de dar uma volta enorme para atingir o elevador. Ou pedir que o transportem em braços do átrio de chegada dos barcos para o piso superior da estação de metro, onde poderá apanhar o elevador para o átrio de bilheteiras. É apenas mais uma demonstração da falta de respeito para com as pessoas de mobilidade reduzida. Junto fotos:
vista das obras entre o torreão nascente e a estação sul e sueste |
Ilustração dos riscos de deformação do túnel por descompressão devida à retirada de materiais nas imediações:
justificação do assoreamento na praia do Terreiro do Paço:
https://fcsseratostenes.blogspot.com/search?q=praia+do+terreiro
PS em 18dez2019 - mantem-se o esquema de acesso ao elevador de superficie, sem ligação ao átrio do terminal fluvial, a obrigatoriedade e perigosidade das travessias da avenida e a deficiente sinalização para peões.
Está concluida a impermeabilização do teto da estação, que era uma aspiração com mais de dez anos. Mantem-se ainda o triangulo no último arco da arcada junto do torreão nascente, cujo destino (do torreão) parece ser, segundo o senhor presidente da CML, o museu do bacalhau. Mantem-se também o receio de que por razões estéticas se retirem materiais, rochas e sedimentos, que possam afetar o tunel.