Parafraseando Sofia de Melo Breyner, os decisores autoritários não sabem interpretar bem os mapas. São surdos aos argumentos físicos, sentem que outros fatores são mais relevantes, provavelmente por terem a capacidade de criar ideias ou imagens que podem reforçar a coesão de um grupo em que se sintam seguros e que lhes dá apoio, que lhes dá pareceres que podem ser infundados mas que dão força ao decisor. Mesmo que seja um grupo restrito, de acesso reservado, mas que possa ser olhado por muitos como um caso de sucesso. Ao olhar para um mapa, os decisores autoritários vêem os benefícios que poderão retirar de uma ideia ou uma imagem que, mesmo desligada da realidade que o mapa reproduz, suscite a adesão de muitos que possam não compreender a ciencia que utilizam e que preferem deixar-se seduzir. Não consideram os argumentos técnicos, sobrepõem-lhes os argumentos políticos. Criam frases ocas mas que são como uma mensagem publicitária impactante. De ilusão em ilusão, como ao longo da história se comprova, os prejuízos decorrentes emergem.
Os decisores autoritários não sabem interpretar bem um mapa.
Diz a lenda que os projetistas do metro de Moscovo, em reunião com Estaline, estavam hesitantes sobre que traçados escolher. O ditador mostrou-se alheado e saiu sem uma afirmação clara. Mas os projetistas pressurosos viram que a chávena em que Estaline tinha tomado o café tinha deixado uma marca circular sobre o mapa. E foi assim que uma das linhas do metro de Moscovo foi construida como circular.
Diz também a lenda que depois, Mao, em Pequim, procedeu de igual forma, mas felizmente os projetistas apressaram-se a fazer mais do que a linha circular.
Os decisores autoritários não sabem interpretar bem um mapa.
«Os ditadores – é sabido – não olham para os mapas
Suas excursões desmesuradas fundam-se em confusões» Sofia de Melo Breyner, LAGOS I abril de 1974
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