sexta-feira, 22 de maio de 2009

Arquitectorium 1 _ O Paço de Avis

O Paço de Avis


No meu país 3 crianças morreram há dias no incêndio de uma barraca.
Bolas para os laudatórios das virtudes e dos resultados do partido no poder e do seu secretário geral.
Não porque a culpa do incêndio seja do partido ou do seu secretário geral.
Não é isso que eu digo, embora seja com isso que os cérebros dos seus laudatórios os estarão a enganar, a eles, laudatórios, para poderem vestir a pele da inocente vítima acusada.
O que eu quero dizer, sem querer acusar ninguém, é que nós reagimos mal a estas notícias porque manifestamos o nosso desgosto e viramos a página.
Há incêndios em barracas com morte de crianças porque nós portugueses não nos sabemos organizar em trabalho colectivo nem sabemos organizar-nos de modo a tomar as decisões certas.
Basta olhar à nossa volta.
E, no fundo, são os casos de sucesso/insucesso de que o ministro Rui Pereira é o paradigma: sabemos mostrar resultados (graças a estatísticas e a softwares importados – já funcionará, o sistema de contagem electrónica do Parlamento?), não sabemos tratar os factos.
O facto é que ardem barracas em Portugal e morrem crianças (se me pedirem soluções de observador exterior ao contexto, portanto parecer não técnico - mas também onde estão os pareceres dos técnicos para os podermos estudar? – respondo já: façam como nos USA: atribuam verbas a organismos federais de assistência social, que empregam aqueles moços e moças recem licenciados em Assistencia social, dêem-lhes verbas e eles vão resolvendo os assuntos e propondo soluções; soluções de reurbanização e de reemprego das pessoas sem a lógica do lucro e do nível de vida competitivo e elevado que governa a nossa economia).
Não é um resultado, é um facto.
E para mim sucesso é factos, não é resultados (2 homens na avenida da Liberdade, um comeu um frango, o outro viu do outro lado do vidro; cada homem jantou meio frango – este é o resultado, o facto é que há um homem com fome o que, de acordo com a carta dos direitos humanos tem um nome: desumanidade).
Ardem barracas em Portugal.
Em Avis.
Até pode fazer-se um programa de prós e contras.
Vêm os bonzos do costume, vêm outros que não são bonzos.
E depois fica tudo na mesma.
No prós e contras do ano seguinte a excelsa apresentadora confirma que está tudo na mesma, não serviu de nada o seu lindo programa.
Eu não detenho a chave das soluções, mas faço aquilo que me mandaram na escola: ponho hipóteses e dedico tempo a pensar nelas, coisa que não vejo nos meus colegas em muitos assuntos em que deviam fazê-lo.
Passei o tempo a tentar incutir isso nos meus “subordinados”, e é uma pena eles não aproveitarem os conhecimentos técnicos mais profundos que os meus e as suas – deles– capacidade de trabalho e rapidez de percepção, maiores do que as minhas, para porem hipóteses, as analisarem , proporem soluções, testá-las, aplicá-las e concluir a obra.
Querem um retrato do país e da sua cultura?
Vão a Avis.
Um edifício do século XV, monumental, em ruína.
Deixa os turistas estupefactos a olhar para ele.
Não há direito.
Mas vamos ter o ensino obrigatório até ao 12º ano .
Se tivessem mais respeito por quem viveu a profissão de professor , o que só lhes ficava bem, falavam de outro modo.
Mas são os métodos de quem pode, desacreditar o opositor, desacreditar quem defende um sistema que não agrada, desacreditar uma acção com a parte da verdade necessária e suficiente para convencer incautos.
Eu sei que não há dinheiro, mas também não há capacidade politica nem organizacional para resolver o assunto (ainda há dias chamei a atenção para a resolução do problema de Santa Clara a Velha em Coimbra: sucessivos governos estiveram desatentos e a obra fez-se: os ministros só chegaram a tempo de cortar a fita, não tiveram tempo para suspender as obras; aleluia pela sua incompetência – sua deles– não souberam identificar nos orçamentos, onde sabiamente os técnicos da obra diluíram ao longo de vários anos o seu trabalho – seu deles-, o que se estava a fazer anónima e silenciosamente em Coimbra) .
Mas deixar morrer um edifício como o de Avis é um crime, como é um crime deixar arder barracas com crianças dentro.
E vem o sítio oficial dizer: “Essa família já estava referenciada”.
Se eu fosse cristão diria: “A minha ira sobe aos céus”.

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