Gizas e os seus assistentes tinham ido à inauguração de um grande centro comercial em Nablus, ou melhor, Sichem, longe do Jordão, mas com um vale que se mostrava em panorâmica impressionante através das grandes paredes de vidro do edifício.
Enquanto não chegava a hora das conferências que aprazara, Gizas comentava, no meio de um grupo de reformados, as variações dos indicadores das bolsas das principais capitais, que passavam nos televisores na zona dos bancos.
E não era meigo nos adjectivos que dedicava aos financeiros.
De repente, um reboliço, vindo do outro lado do grande átrio central, atraiu a atenção de todos.
Um sacerdote de longas barbas brancas ralhava em alta grita a uma jovem mulher palestina. Rodeava-os uma chusma de mulheres iradas que também verbalizavam o seu escândalo.
Gizas e os seus assistentes aproximaram-se. A mulher estava vestida com uma túnica curta, cintada e justa; tinha os cabelos soltos e um ar menineiro que talvez contribuísse para a ira das mulheres escandalizadas.
Um publicano, quase rasgando as vestes como se fora um sepulcro caiado por fora, esclareceu: É esta a professora de História que fala de sexo.
Gizas comentou serenamente: Pois, coitada, se Zeus passava o tempo a fazer sexo - e como o fazia, até parecia que não pensava noutra coisa - como poderia um professor de história não falar de sexo?
- E acusou as alunas de 12 anos de não serem virgens – vociferou uma das megeras
- Seriam Escorpião, talvez? – aventou Gizas
- E acusou os rapazes de 12 anos de esporularem e de se molharem
- Mas é natural, é assim que reagem os jovens machos à presença do óxido nítrico nas cavernazinhas periféricas e da serotonina no cérebro … foi aí que chegaram os mecanismos da evolução pela selecção natural, sem que Yavé tivesse nada contra…
- Blasfemou - gritou o sacerdote
- Não, acalma-te – continuou o doce rabi, que era como lhe chamava Eça de Queirós – o coração das gentes ainda está duro e insensível como no Antigo Testamento do Senhor Deus dos Exércitos. Eu vim para lhes falar do Novo, para lhes dar flexibilidade, vou ser o colagénio dos corações, vim abrir as portas da compreensão e da tolerância. Vim para abrir as mentes e os corações. Então tereis Paz.
A propósito de professores, deixai-me falar-vos dum email que recebi já há uns anos de uma professora das Colunas de Hércules, aquela terra na ponta do Mediterrâneo, um bocadinho desorganizada.
Contou-me ela que estavam a discutir na turma os problemas da escola e da terra, e de repente, uma aluna de 12 anos, que não gostara de ser repreendida, virou-se para a professora e disse-lhe: Eu sou melhor na cama do que a setôra. E a setôra, coitada, tendo de responder rapidamente, saiu-se com esta: Sabes lá tu se és melhor; até podes ser pior, essas coisas não se medem com régua. Vamos lá resolver o problema do comprimento da hipotenusa.
E aproximando-se da palestina, virou-se para a turba dizendo:
- Aquele dentre vós que se sentir livre de culpa e senhor da verdade, que atire a primeira pedra.
Mas tende cuidado, porque se a vossa avaliação for a de que estais isentos de culpa ou que sois infalíveis, então é porque sofreis duma psicopatologia, de um autismo isolador da realidade, que necessitará de tratamento.
E segredando ao ouvido da palestina:
- Vai em Paz, mantem-te jovem, mas tem cuidado com a maneira como falas.
E a multidão acalmou, dispersando-se pacificamente pelas montras e pelos restaurantes do centro comercial.
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